Bombeiros em Aflição com Quebras Drásticas de Receitas: “Faturação Desceu a Pique” - VIDA DE BOMBEIRO

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quarta-feira, 6 de maio de 2020

Bombeiros em Aflição com Quebras Drásticas de Receitas: “Faturação Desceu a Pique”


As corporações de bombeiros sofreram uma redução drástica de serviços – e consequentemente de faturação – por causa da pandemia de covid-19. A este problema acresce o preço exagerado dos equipamentos de proteção individual. Têm valido os apoios das câmaras municipais. 

As preocupações são transversais às corporações auscultadas por O MINHO. Para já, não há ordenados em atraso, mas a situação é aflitiva.

Na corporação dos Bombeiros de Arcos de Valdevez a queda na faturação foi “a pique”, conta o comandante, Filipe Guimarães.

“O transporte não urgente de doentes parou por completo, uma vez que os hospitais deixaram de fazer consultas e exames. O próprio serviço de emergência caiu para um terço ou menos. As nossas receitas advêm do que é a nossa operacionalidade. Sem esses serviços ficamos sem receitas”, acrescenta.

Outro problema é o “investimento avultado em equipamentos de proteção individual, que o protocolo de segurança obriga a usar”, aponta o comandante da corporação de Arcos de Valdevez, considerando que os valores no mercado são exagerados.

“Os bombeiros e a população têm sido completamente esfolados. Há um aproveitamento muito grande de quem comercializa esse tipo de produtos e somos obrigados a pagar preços exorbitantes”, acentua.

Até ao momento os vencimentos dos 22 profissionais da corporação estão em dia, garante Filipe Guimarães, lamentando que as medidas anunciadas de apoio aos bombeiros sejam “uma mão cheia de nada”.

“Os requisitos que eles exigem são tantos que duvido que haja muitas associações que consigam ter acesso àquele pacote de medidas”, realça.

Salários pagos “com bastante sacrifício”
As mesmas preocupações já O MINHO as ouvira a Carlos Lima, comandante dos Bombeiros de Ponte de Lima, quando o canoísta Fernando Pimenta ofereceu equipamento de proteção individual à corporação.

“A principal fonte de receita da corporação, que era o transporte não urgente de doentes, reduziu drasticamente e não estamos a conseguir ter receita suficiente para manter os bombeiros bem protegidos”, afirmou na altura, notando que os preços dos materiais de proteção tinham subido muito e tornava-se “difícil para a associação continuar a suportar esses valores”.

Luciano Moure, vice-presidente da direção dos Bombeiros de Viana do Castelo, afirma a O MINHO que a diminuição das receitas “é um facto”.

A corporação vianense tem um parque de estacionamento que “poderia dar à volta de 700 euros por dia” e, com a pandemia, sofreu uma “queda muito grande, para 30 euros”, nota o responsável, completando que “o transporte de doentes diminuiu bastante” e, portanto, as “receitas normais” da associação ressentem-se.

Contudo, Luciano Moure sublinha que, “com o apoio da Câmara Municipal”, financeiro e logístico, e da Liga dos Bombeiros, “foram-se ultrapassando” as situações de maior dificuldade.

Para já, os 40 profissionais têm a sua situação regularizada.

“Não mandámos ninguém para ‘lay-off’ e os salários foram pagos dentro do prazo. Com bastante sacrifício, mas pontualmente”, garante o vice-presidente dos Bombeiros de Viana do Castelo.

Número de emergências também caiu
Os Bombeiros Voluntários de Guimarães só fazem transportes de emergência, mas também esses sofreram uma quebra.

“Houve uma altura em que as emergências desceram significativamente, mas desde sexta-feira está a voltar tudo ao normal”, adianta a O MINHO o comandante, Bento Marques.

A maior dificuldade, destaca, é mesmo a aquisição de equipamentos de proteção individual que “são caríssimos”. “Alguns temos comprado, outros são fornecidos pela Autoridade Nacional da Proteção Civil e a Câmara tem dado um grande apoio. Sem a Câmara as coisas seriam muito piores, há aqui um apoio muitíssimo importante da autarquia”, reforça.

Ao jornal Barcelos Popular, o presidente dos Bombeiros de Barcelinhos, José Costa, enumera três grande problemas que a pandemia originou: não ser possível de momento cobrar quotas aos sócios, a redução de donativos por parte de beneméritos, uma vez que estes também estão a passar dificuldades, e a diminuição dos transportes.

Em declarações àquele semanário, José Costa diz que a direção fez uma simulação e, se o cenário atual se mantivesse até ao final do ano, as contas da instituição saldar-se-iam em 620 mil euros negativos. Apesar de a perspetiva ser a de melhoria e gradual retoma da normalidade, o dirigente avalia que já não será o suficiente para equilibrar as contas.

Cruz Vermelha de Amares pode vir a ter “salários em risco”
A situação aflitiva das corporações de bombeiros pode ser transposta para as delegações da Cruz Vermelha Portuguesa.

António Brandão, coordenador de emergência da Delegação de Amares, admitiu a O MINHO que “podem vir a estar salários em risco”.

“Estamos com grandes dificuldades de faturação. O serviço reduziu cerca de 80%. As clínicas fecharam, as emergências baixaram 60% a 70%. Passámos do 80 para o 8”, afirma António Brandão, que reclama apoio camarário para ultrapassar estas dificuldades e “garantir a sobrevivência das pessoas e da instituição”.

“Faturamos e recebemos a 90 dias. Quando fizer os 90 dias a contar de março, altura de subsídios de férias, vai ser muito chato”, antevê.

Portugal contabiliza 1.074 mortos associados à covid-19 em 25.702 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre a pandemia. Das pessoas infetadas, 818 estão hospitalizadas, das quais 134 em unidades de cuidados intensivos, e o número de casos recuperados passou de 1.712 para 1743.

Portugal entrou no domingo em situação de calamidade, depois de três períodos consecutivos de estado de emergência, iniciados em 19 de março.

Esta nova fase de combate à covid-19 prevê o confinamento obrigatório para pessoas doentes e em vigilância ativa, o dever geral de recolhimento domiciliário e o uso obrigatório de máscaras ou viseiras em transportes públicos, serviços de atendimento ao público, escolas e estabelecimentos comerciais.

Fonte: O Minho

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