Bombeiros de Lousada não transportam doentes não urgentes por falta de proteção - VIDA DE BOMBEIRO

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quarta-feira, 18 de março de 2020

Bombeiros de Lousada não transportam doentes não urgentes por falta de proteção


Os Bombeiros Voluntários de Lousada estão a recusar fazer o transporte de doentes não urgentes porque não têm equipamentos de proteção individual, como máscaras, óculos e batas, que os salvaguardem contra possíveis contágios de pessoas com COVID-19.

Quatro bombeiros estão em isolamento por terem estado em contacto com infetados, num concelho que, juntamente com Felgueiras, teve um dos primeiros focos de contágio do país. Jaime Marta Soares, presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, diz que a situação é preocupante em todo o país.

Os poucos equipamentos de proteção individual entregues à corporação de Lousada terminaram na madrugada do passado sábado. Uns dias antes, José Carlos Aires, comandante dos Bombeiros de Lousada, já tinha considerado que o número de kits atribuído aos bombeiros pela Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) era "insignificante e ridículo". Tratava-se de seis óculos, quatro batas e dez pares de luvas descartáveis.

Desde que um foco com vários casos positivos começou em Lousada, obrigando desde logo dois bombeiros a isolamento, o comandante começou a tratar todos os casos como suspeitos do novo coronavírus, de modo a proteger os bombeiros. Os kits avisava, não iam chegar.

Desde sábado, a resposta está focada no socorro de situações urgentes, com a poupança das poucas máscaras que restam - e porque conseguiram um reforço de 100. "Não vamos gastar material que pode ser essencial para socorro em situação de urgência, como acidente, incêndio ou AVC, num doente não urgente", justifica José Carlos Aires. "Não podemos fazer de conta que estamos numa situação normal. Não posso mandar os bombeiros transportar os doentes não urgentes sem proteção", defende.

Desde segunda-feira, mais dois bombeiros da corporação, para já sem sintomas, tiveram de ficar em isolamento por terem transportado outro doente depois validado como positivo. "Mas estavam devidamente protegidos nessa altura ainda", assinala o comandante. "Não estamos a negar socorro, mas não vou por os bombeiros em risco. As ocorrências não urgentes têm sido encaminhadas para as corporações vizinhas e estamos a ter menos saídas", afirma.

Contactado pelo JN, Jaime Marta Soares diz que este problema, "grave", está a afetar os bombeiros portugueses de forma transversal, não tendo para já conhecimento de outras corporações que tenham assumido a posição da lousadense.

"Há mais de dois meses perguntei pelos equipamentos de proteção e fizeram orelhas moucas. Só há pouco é que começaram a distribuir uma quantidade exígua, para meia dúzia de intervenções", explica. "De um momento para o outro pode não se socorrer em todo o país, como está a acontecer em Lousada. Os portugueses têm de saber que não se socorre porque não há meios e equipamentos", acredita o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, lembrando os perigos que o transporte sem meios de proteção pode ter para bombeiros e para socorridos.

"Estamos serenos e conscientes da realidade, mas isto é um drama", assegura, sustentando que os operacionais de socorro, profissionais de saúde e de segurança, pilares basilares de resposta a esta situação, têm de ter equipamentos de proteção.

Jaime Marta Soares revelou também que já deixou apelos junto dos Ministros da Administração Interna e do Trabalho, pedindo moratória dos descontos para os bombeiros de profissão. À Associação de Municípios Portugueses requereu ainda que as autarquias antecipem os apoios atribuídos às corporações de bombeiros.

O JN pediu esclarecimentos à Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, mas ainda não obteve resposta.

Fonte: JN

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