"Obrigado filho, por teres salvo outro filho meu" - VIDA DE BOMBEIRO

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segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

"Obrigado filho, por teres salvo outro filho meu"


No mostruário ambulante de centenas de rostos que cruzam connosco nas ruas, praças, avenidas, "ele" é apenas um homem comum como tantos outros desconhecidos.
A sua presença faz parte de um contexto, de um minuto ou um segundo no vaivém de vários destinos...

Apenas uma farda e um cinturão vermelho o difere dos demais! É um Bombeiro...
Praticante assíduo de uma profissão árdua, cuja missão solidária é o seu lema de vida.
Nada o impede na luta de salvar vidas, nada o faz recuar no instante em que alguém pede a sua presença, nada é capaz de detê-lo em plantar novas esperanças no momento da dor, da lágrima e do perigo.

Sem ostentar louros ou vaidades, o Bombeiro dificilmente sabe enumerar as vidas que salvou... No instante do sinistro ou da desgraça, a sua presença é como um balsamo a aliviar o desespero e a agonia daqueles que necessitam de ajuda, mesmo que muitas vezes esse socorro venha a custar-lhe a própria vida.

Quantas outras vezes, também, a sua possível "demora" em chegar ao local onde foi solicitada a sua presença é criticada, sem que seja, no entanto, analisada a distancia entre o sinistro e o seu reduto de trabalho... Mas, nada disso importa ao Bombeiro! O importante é que ele não falha, não foge ao grito de apelo, não ignora jamais o seu aprendizado disciplinar, cuja missão o enobrece perante os valores da vida. E quando debeladas as agonias e renascidas outras esperanças, ele, o Bombeiro, volta ao seu quartel.

Sou apenas um homem, como qualquer outro. Quem sabe fruto de um sonho antigo, ou simplesmente vontade nobre de ajudar o próximo, porém sou apenas um homem.

Homem de poucas palavras, de muitos gestos, de muito suor. Muitos me admiram, poucos me estendem a mão, alguns conhecem-me.

Sou figura amada pelas crianças, sou personagem odiado pelos não atendidos, alguns compreendem, poucos me dão razão. Dizem que sou herói.

Não sou herói, nem quero ser. Sou profissional treinado e enrijecido pelo tempo, pois já lá vão muitos anos de serviço.

De boas acções, de actos de coragem, muitas vezes impensados, mas não herói.
Carrego este fardo, dia após dia.
Sou homem como tantos outros, pai, filho, esposo e amigo.

Muitos dizem que na vida de bombeiro não seriam, pois falta-lhes coragem.

Amigo(a) digo-te, coragem não sei se tenho, talvez loucura, devaneio de criança. Não nasci para ser bombeiro, não nascemos para sermos bombeiros, um dia, quando percebemos, já é tarde demais.
Não sou herói, reafirmo, apenas uma pessoa diferente, talvez especial. Quando todos fogem, eu me aproximo, quando todos gritam, eu peço silêncio, quando todos andam eu corro, quando todos choram, eu engulo em seco, fecho os olhos e agradeço.

Faça chuva, faça sol, manhãs de sábado ou tardes em festa, sorrisos poucos verei, dia após dia, apenas vejo, carvão e sangue.

Muitos perguntam, "mas afinal o que é um bombeiro?"

Um bombeiro é o vizinho do lado, um homem com a memória de um rapazinho. Nunca superou a excitação dos motores, das sirenes e do perigo.

É um tipo como eu e como tu, com preocupações e sonhos não realizados. No entanto, está mais alto do que a maior parte das pessoas.

Ele é Bombeiro! Põe tudo no limite quando a sirene toca.
Um bombeiro, é ao mesmo tempo, o mais afortunado e o menos afortunado dos homens.
É um homem que salva vidas porque já viu demasiadas mortes.
É um homem amável porque viu o poder imponente da violência fora de controlo.
Ele é sensível ao riso de uma criança porque os seus braços já seguraram demasiados corpos pequenos que nunca mais darão um sorriso.

É um homem que aprecia os prazeres simples da vida, café quente seguro por dedos inflexiveis e dormentes, uma cama quente para descansar o corpo exausto, a camaradagem de homens valentes, a paz divina e o serviço desinteressado de um trabalho bem feito em nome de todos os homens.
Ele não usa botões, não acena bandeiras nem grita obscenidades.
Quando marcha, fá-lo em honra de um camarada falecido.
Ele não prega a fraternidade do homem... ELE VIVE-A!

Meus amigos, não se preocupem, pois tudo isto é um desabafo.
Por baixo desta pesada roupa ainda existe esperança.
Estende a tua mão sem medo, mesmo no escuro, que a minha encontrarás.
Não a mão de um herói, mas de um homem que dá a vida pela sua profissão, dá a vida pela tua, que possui uma nobre missão, que tem um coração que pulsa, que chora e que ama. Não um herói, mas um nobre amigo.
Um verdadeiro "BOMBEIRO"

E o que mais impressiona nestes homens e mulheres, é a sua humildade que nem sequer lhe faz pensar numa medalha ou num voto de agradecimento.

Afinal, depois de mais uma missão cumprida, ele sabe muito bem que lá do alto uma voz lhe fala ao coração dizendo carinhosamente:

"Obrigado filho, por teres salvo outro filho meu"

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