Só morrem os que são esquecidos - VIDA DE BOMBEIRO

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quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Só morrem os que são esquecidos


Vêm-me à memória três acontecimentos recentes que, aliás, o nosso jornal noticiou. Falo do desaparecimento prematuro e em circunstâncias trágicas do comandante Noel Ferreira. Falo do falecimento do comandante Marinho Gomes, na sequência de uma luta titânica contra a doença e no seguimento de uma carreira brilhante de bombeiro. Falo da passagem do 18.º aniversário sobre os também trágicos acontecimentos ocorridos em Nova Iorque, com a queda das chamadas Torres Gémeas e a morte de milhares de pessoas entre as quais 343 bombeiros.

Todos estes factos terão um fio condutor que é a memória. Dirão que os bombeiros, ao lembrarem os falecidos, têm o culto da morte, o que não é verdade. Na realidade, ao lembrá-los mais não fazem que celebrar a vida, a memória que fica e perdura deles e a importância que isso também para valorizar o universo dos bombeiros, reforçar o seu espírito de corpo e o assumir do passado, como fazem em relação ao presente e almejam em relação ao futuro.

De um dos quartéis dos Bombeiros de Nova Iorque que havia visitado anos antes e que se situa próximo do local onde se erguiam as torres, soube depois, quase todos os bombeiros faleceram no colapso dos edifícios dado terem sido dos primeiros a intervir no sinistro e a subir por eles para apoiar o resgate dos ocupantes.

Hoje, a par dos novos bombeiros que guarnecem o quartel, nas suas paredes exibem-se as fotografias dos que desapareceram, perpetuando a sua memória, a sua abnegação, o valor com que contribuíram para o coletivo no exercício da sua missão.

Nos nossos quartéis é comum também exibirmos as fotos dos bombeiros, comandos e dirigentes que fizeram a história das associações e corpos de bombeiros. Parece um lugar comum acontecer isso, mas não o encaremos assim, ou seja, de forma tão simplista. Essas fotos, essas paredes estão cheias de história, e cada uma delas tem uma história comum para contar sobre o esforço coletivo que os lembrados partilharam, mas também outra, individualizada, que testemunha o papel específico de cada um deles em prol da instituição.

É um manancial de história que exibimos nas nossas paredes e que, no fundo, é mais uma forma de celebrar a memória.

Entre os antigos companheiros, bombeiros, comandos ou dirigentes, que perpetuamos nas paredes haverá alguns cujo papel e importância se circunscreveu tão só à história da própria instituição. Outros, porventura, para além do papel interno relevante, também desempenharam outras tarefas, seja nas federações ou na própria Liga dos Bombeiros Portugueses. Daí que, por força das circunstâncias uns possam ser mais conhecidos que outros. Contudo, ao celebrarmos a sua memória todos são importantes, independentemente do grau de conhecimento que possamos ter deles ou daquilo que fizeram.

Todos eles, sem exceção, são credores da admiração de todos nós, da própria comunidade em geral, e de um enorme respeito, pelo que foram, pelo que representaram e fizeram.

Essa lembrança, essa memória, esse imperativo, leva-nos a considerar que só morrem os que são esquecidos. Os nossos não são esquecidos, logo, não morrem porque ficam na nossa memória.

Rui Rama da Silva in LBP

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