Padre bombeiro tem desfibrilhador no carro para salvar vidas em Carrazeda de Ansiães - VIDA DE BOMBEIRO

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quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Padre bombeiro tem desfibrilhador no carro para salvar vidas em Carrazeda de Ansiães


É o primeiro elemento da sociedade civil a conseguir licenciar um Desfibrilhador Automático Externo para trazer no próprio carro. Num território que vive os dramas do interior, quis assegurar que mais ninguém lhe havia de morrer nas mãos por falta de meios de socorro.

Humberto Coelho tem 42 anos. É padre há 15 e bombeiro voluntário desde 2015. Tem a seu cargo 19 paróquias. Faz centenas de quilómetros por mês e conhece o concelho de Carrazeda de Ansiães e a sua interioridade como ninguém.

“Nós estamos longe dos principais meios diferenciados. O nosso hospital de referência é Mirandela, o mais perto fica em Vila Real, mas, por norma, somos encaminhados para Bragança, que é o hospital do distrito. Já aconteceu levarmos uma senhora com fractura do fémur para Vila Real e lá só lhe deram analgésicos e encaminharam-na para Bragança para ser tratada. Os meios diferenciados de socorro, como as Viaturas Médicas de Emergência e Reanimação (VMER) ou as ambulâncias de Suporte Imediato de Vida (SIV), estão a pelo menos meia hora de distância.”

Como bombeiro, o padre Humberto está habituado a situações em que a vida e a morte andam de mãos dadas. Como sacerdote também. E não esquece o dia em que, por falta de meios adequados, não conseguiu salvar um paroquiano vítima de uma paragem cardiorrespiratória (PCR).

“Estávamos num convívio e uma pessoa caiu para o lado, inconsciente. Um homem na casa dos 50 anos. Eu, como tenho o curso de suporte básico de vida (SBV), iniciei imediatamente as manobras de reanimação e mandei chamar o 112. Mas o socorro diferenciado estava longe e não foi possível salvá-lo.”

Humberto Coelho quis assegurar que mais ninguém lhe havia de morrer nas mãos por falta de meios de socorro.

A confiança é palavra chave no processo de licenciamento
O padre Humberto comprou, do próprio bolso, um Desfibrilhador Automático Externo (DAE) e passou a andar com ele no carro.

“Só tínhamos um desfibrilhador nos bombeiros. A nossa população é maioritariamente idosa. Eu circulo pelo concelho todo na minha atividade de sacerdote e estou muitas vezes em grandes ajuntamentos de pessoas. Por isso, resolvi adquirir um DAE e tê-lo no carro.”

“Mas também tenho um saco de primeira intervenção em socorro, como o dos bombeiros e um aparelho medidor de tensão arterial. E até tenho um saco de primeira intervenção em socorros veterinários, porque também tenho o curso de primeiros socorros veterinários e não é invulgar encontrarem-me no meio da estrada a socorrer cães e gatos atropelados.”

Comprou o aparelho há cerca de seis meses, mas só conseguiu o licenciamento pelo INEM em julho. O processo é demorado e burocrático. “A desfibrilhação é um ato médico. Só pode ser levado a cabo por um médico ou por alguém em quem um médico confia essa função. E eu tive que encontrar um médico com a formação exigida que depositasse em mim essa confiança. A doutora Lara, que é médica do INEM, depositou em mim essa confiança e depois de apresentar toda a documentação, lá consegui o licenciamento”, conta, em declarações à TVI.

Humberto Coelho tornou-se, assim, no primeiro elemento da sociedade civil a ter um DAE licenciado na própria viatura. Uma iniciativa louvada e apoiada pela Associação Salvar Mais Vidas. 

"E este caso é, o exemplo de cidadania que defendemos na petição que levá-los à AR com o nome de 'Ser Reaniamado é um direito de todos e Saber Reanimar é um dever de cada um'. Da qual resultou um Projecto de Resolução unânime, que recomenda ao Governo que as competências de Suporte Básico de Vida sejam obrigatórias na formação dos nossos jovens. Esta iniciativa do Humberto Coelho, que apoiámos e acompanhámos é o exemplo de cidadania e solidariedade que devia contaminar todos os demais, não só para se salvar mais vidas, mas também para vivermos numa sociedade mais capaz e solidária. Sim! É possível Salvar mais Vidas!", sublinha Gabriel Boavida, da Associação Salvar Mais Vidas. 

O responsável recorda que "os primeiros 10 minutos são a janela de oportunidade para salvar a vida de alguém em paragem cardiorrespiratória". Por isso, reforça, "urge, perante a nossa taxa de sobrevivência à PCR fora dos hospitais (3%), que tenhamos a nossa comunidade com conhecimentos de SBV e desfibrilhacão".

Bombeiro de noite e padre de dia
A manutenção do DAE não é dispendiosa. Mas os elétrodos são de utilização única e custam cerca de 50 euros. Nem isso demoveu o padre Humberto: “desde que o tenho, ainda não precisei de o usar. Mas se tiver de ser, pago-os eu do meu bolso! Não tem qualquer problema”.

Não tem problema o dinheiro que gasta em prol da comunidade onde é pároco e não tem problema nenhum as parcas quatro horas de sono que dorme nas melhores noites.

“Sou capelão nos Bombeiros Voluntários de Carrazeda de Ansiães. E como, não podia ser capelão e operacional na mesma corporação, faço socorro nos Bombeiros de Mirandela. Durante o dia, não posso descurar a minha função de padre. Durmo umas quatro horas por noite. Às vezes, quando tenho tempo, durmo um bocadinho à tarde.”

Salvar vidas e salvar almas está-lhe no sangue. E, às vezes, as duas vertentes confundem-se. O padre Humberto já teve de parar uma missa, para dar lugar ao bombeiro Humberto e socorrer um paroquiano diabético que desmaiou na igreja.

E, no verão, quando o calor aperta e os incêndios não dão descanso a Trás-os-Montes, o padre volta a vestir a farda de bombeiro e vai para o terreno combater o fogo. 

Fonte: TVI 24

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