“Oh Pai Dá-me Um beijinho!” - VIDA DE BOMBEIRO

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terça-feira, 23 de julho de 2019

“Oh Pai Dá-me Um beijinho!”


Procedia-se à entrega de medalhas de assiduidade e dedicação da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) numa das muitas associações deste país.

Á partida trata-se sempre de uma cerimónia emotiva em que se presta homenagem aos bombeiros pelo seu contributo assíduo e dedicado à defesa e ao socorro da comunidade onde estão integrados.

As medalhas são, porventura, a compensação de relevo para tão enorme sacrifício, empenho e dedicação. Para as entregar, como é comum, os bombeiros sugerem que sejam os próprios familiares próximos ou outros bombeiros com quem tenham uma relação de amizade mais próxima. 

É uma honra receber as medalhas, mas é também uma honrar partilhar a sua entrega com os mais próximos. Direi que, nesse gesto o bombeiro que é homenageado quer partilhar essa distinção com quem o ajuda, o compreende e apoia para ser bombeiro. E, quem mais que os amigos e, em especial, os familiares mais próximos, mulher, marido, filhos, irmãos, netos, pais serão os indicados para tal?

Procedia-se, então, a mais uma dessas cerimónias, emotivas e plenas de significado, coroadas sempre de demonstrações particulares de carinho, entre esposos, entre pais mães e fortes abraços amigos e sentidos. E assim estava também a acontecer neste caso.

Uma criança, primeiro à distância, acompanhava a cerimónia. Depois, pouco a pouco, foi-se abeirando do estrado onde decorria. Primeiro, aparentemente a medo, depois mais afoita, mas sempre com atenção, em particular, num dos bombeiros que estava prestes a receber uma medalha de 20 anos.

Agachada, a criança aproximou-se definitivamente do estrado, em observação constante, sem dizer palavra, com cada vez maior atenção na entrega da medalha àquele bombeiro.

Eis senão quando, a criança se aproxima do bombeiro sobre o qual tinha sempre depositado o olhar e diz-lhe, quase em sussurro: “Oh Pai dá-me um beijinho!”.

O pai, acabado de ser distinguido com a medalha de 20 anos, sorriu perante o pedido do filho e, por momentos, ultrapassando o protocolo, baixou-se e correspondeu ao pedido da criança.

Acreditem, perante a cena vieram-me as lágrimas aos olhos, não obstante o número de cerimónias do género já vividas, mas fui apanhado de surpresa por esta demonstração de enorme carinho e amor de um filho criança perante um pai.

Poderia ter sido uma demonstração expansiva, a criança poderia ter tentado saltar para os braços do pai ou podia ter-se manifestado ruidosa e exuberantemente em face da alegria que sentia naquele momento.

No caso, porém, não foi assim que aconteceu. Percebia-se que a criança era reservada e que a aproximação que foi tentando fazer para junto do estrado era o impulso que a sua própria timidez lhe permitia até ali. Depois, contudo, o impulso foi mais forte e deu-se a explosão: “Oh Pai dá-me um beijinho!”.

Percebeu-se que, claramente, a criança estava perante o seu herói e que este havia sido distinguido aos seus olhos e aos olhos de todos os restantes. Que maior alegria podia ter um filho perante o que se estava a passar senão manifestar também a enorme alegria que sente sempre na alma pelo facto de o pai ser bombeiro.

As crianças ensinam-nos muito. E não tenho dúvida que lições como esta que presenciei nos posicionam noutra dimensão, nos fazem a síntese e a explicação de um aparente enorme mistério. E explicam aquilo que os adultos tanto discutem mas não sabem explicar. Observe-se uma simples criança e aprenda-se tudo.

LBP

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