"O Estado falhou às populações. O país inteiro falhou. Nós falhámos", diz autarca de Vila de Rei - VIDA DE BOMBEIRO

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segunda-feira, 22 de julho de 2019

"O Estado falhou às populações. O país inteiro falhou. Nós falhámos", diz autarca de Vila de Rei


O vice-presidente da Câmara de Vila de Rei, Paulo César (eleito pelo PSD), disse esta segunda-feira que este concelho "está farto" de enfrentar chamas ano após ano e garantiu que o "Estado voltou a falhar" na prevenção do incêndio deste fim de semana.

"O concelho está farto, como diz o nosso presidente da Câmara [Ricardo Aires]. Está farto destes sucessivos incêndios com origem criminosa e está farto de ver o Estado voltar a falhar às populações", referiu, em declarações à agência Lusa.

O incêndio que deflagrou no sábado em Vila Rei e que alastrou ao concelho vizinho de Mação está dominado em 90%, depois de uma noite de muito trabalho de várias centenas de operacionais e de meios de combate, acompanhados por habitantes que tentaram salvar as suas habitações.

Paulo César agradeceu e reconheceu o trabalho dos bombeiros e de outros voluntários que combatem as chamas, mas não escondeu a revolta com a situação.

Frente de Vila de Rei é a que mais preocupa
É justamente Vila de Rei que mais preocupa a Proteção Civil, de acordo com o ponto de situação desta entidade às 13:00. Continua ativa uma frente de fogo.

Confrontado com as críticas do autarca da Vila de Rei, o comandante do Agrupamento Distrital do Centro Norte da Proteção Civil, Pedro Nunes, afirmou que os meios existentes no terreno são os mais adequados, durante o briefing aos jornalistas, ao início da tarde.

O responsável reforçou a preocupação já manifestada de manhã, quando referiu as condições climatéricas adversas previstas para o período da tarde.

Há agora 12 feridos, entre os quais um bombeiro e um elemento do INEM.

Às 13:44, o site da Proteção Civil indicava que estavam no terreno 1039 operacionais, apoiados por 327 viaturas e 10 meios aéreos.

Populações de "30 ou 40 aldeias" desprotegidas
O autarca Paulo César, de Vila de Rei, denunciou que foram encontrados artefactos explosivos que podem estar na origem das chamas e considerou suspeito que tenham deflagrado praticamente ao mesmo tempo diversas frentes de incêndio em Vila do Rei e Sertã.

"O Estado falhou às populações. O país inteiro falhou. Nós falhámos", referiu o autarca, que considerou que é preciso atuar com mais eficiência na prevenção dos incêndios e castigar exemplarmente os incendiários.

Paulo César destacou ainda a necessidade de reforçar os meios de combate no terreno e explicou que a existência de muitas frentes de fogo deixou desprotegidas as populações "de 30 ou 40 aldeias" de Vila de Rei e concelhos vizinhos.

O autarca referiu que ainda estão a ser apurados os prejuízos no seu concelho e lembrou que o fogo ainda não foi considerado extinto.

"Não podemos conceber que se diga que os meios eram os necessários, os suficientes, quando tivemos populações completamente desprotegidas", diz autarca de Mação

Já o presidente da Câmara de Mação (PSD) pediu maior "transparência" na divulgação de como os meios de combate aos incêndios são "balanceados" no terreno, lamentando que se diga que são os necessários quando há populações "desprotegidas".

Falando junto ao posto de comando instalado na madrugada desta segunda-feira na aldeia de Cardigos, no concelho de Mação (Santarém), Vasco Estrela disse à Lusa não compreender por que razão os meios que chegaram por volta das 23:00 de domingo não foram posicionados antes, já que o fogo chegou "com uma violência extrema" ao concelho cerca das 18:00 de sábado.

Autarca de Mação pede mais "transparência"
"Não podemos conceber que se diga que os meios eram os necessários, os suficientes, quando tivemos populações completamente desprotegidas. O meu 'cavalo de batalha' é deste ponto de vista. Se se puder dizer que não havia realmente mais meios para colocar, temos que assumir que não havia mais meios, que o país não teve capacidade de resposta e assumir isso, ou então temos que dizer outra coisa, que os meios não estavam balanceados no terreno de forma adequada face às características que eram expectáveis que pudessem vir a acontecer", declarou.

Para o autarca, é legítimo as populações questionarem "onde é que estava esta gente toda", quando observaram a chegada dos meios por volta das 23:00 de domingo e que "não foram vistos durante quase 48 horas no concelho de Mação".

Considerando ser "irrelevante" que se designe este fogo como sendo de Vila de Rei (Castelo Branco), onde se iniciou, Vasco Estrela pediu "que se diga às pessoas quando se fazem os 'briefings' onde é que os meios estão colocados no terreno para as populações locais saberem efetivamente como é que as coisas estão a ser geridas" e também os autarcas poderem transmitir como estão colocados os operacionais.

"As pessoas sentiram-se abandonadas"

Se for a opção correta, então todos têm de se "calar e assumir as suas responsabilidades", acrescentou, frisando que já nos incêndios de 2017 "batalhou muito" na questão de transparência, apelando novamente a que estas questões sejam refletidas durante o inverno para as pessoas "saberem com o que podem contar".

"Aqui onde estamos, estão cerca de 300 pessoas paradas. Todos são operacionais, mas quem está a combater?", disse, salientando que se está a dar "uma imagem de segurança à população que depois não é visível no terreno e as pessoas sentem-se sozinhas".

"As pessoas sentiram-se abandonadas, não porque estes homens não deram o melhor, mas porque não chegaram para as encomendas", salientou.

Vasco Estrela disse ainda não perceber qual foi a lógica de se instalar o posto de comando em Cardigos apenas na madrugada de hoje.

"Bem sei que a tarde vai ser muito difícil, antevejo que venhamos a ter problemas e os homens que aqui estão venham a ser necessários. Esperemos que não sejam. Mas, pergunto, depois de cinco mil hectares de área ardida no concelho de Mação, depois do posto de comando ter estado tanto tempo em Vila de Rei não teria feito sentido que, logo ao fim das primeiras horas, se equacionasse esta possibilidade? Ela foi equacionada? Sim ou não?", perguntou.

Para o autarca, são "estas dúvidas que ficam sempre no ar que devem ser esclarecidas por quem de direito".

Um civil ficou ferido com gravidade neste incêndio e está internado no hospital de São José, em Lisboa. Há ainda nove feridos ligeiros e mais de duas dezenas de pessoas foram assistidas no terreno pelas equipas do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM).

Mação: duas casas arderam, duas pessoas desalojadas
Duas casas de primeira habitação arderam em Mação, na sequência do incêndio que começou no sábado em Vila de Rei e que se alastrou para este concelho. ​​​​​"Temos a confirmação de duas casas de primeira habitação ardidas, em Azinhal e Roda de Cardigos, e temos também algumas situações que ainda estamos a avaliar, que eram casas de segunda habitação, casas já com alguma degradação. Temos vários anexos que estão também ardidos", disse o presidente da Câmara de Mação, Vasco Estrela.

Segundo o autarca, já estão no terreno elementos da Segurança Social e técnicas do Serviço de Ação Social da Câmara Municipal de Mação, que "vão começar a rastrear toda a zona" no sentido de esclarecer bem todas as situações e "também falar com as populações e perceber melhor as necessidades".

De acordo com o presidente da autarquia, "há duas pessoas desalojadas, que estão [acolhidas] na Santa Casa da Misericórdia de Cardigos, precisamente porque não têm as suas habitações, que foram destruídas pelos incêndios".

Rui Rio diz que é cedo para críticas
O líder do PSD rejeita entrar para já na onda de críticas ao governo pelo combate e prevenção dos incêndios. Questionado, esta segunda-feira, pelos jornalistas sobre o incêndio de Vila de Rei, Rui Rio salientou que esta "não é a altura" para se estarem a fazer críticas ou a apurar responsabilidades, considerando de "mau tom" que isso aconteça enquanto o fogo está a ser combatido.

Fonte: Diário de Noticias

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