A presidente da Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande (AVIPG), Nádia Piazza, comparou ontem os incêndios de 2017 a um "verdadeiro holocausto", manifestando apreensão "em relação ao que já foi feito e ao que falta fazer". "Não haverá mais holocaustos, todos assim o desejamos. Mas desejar já não basta neste caso. É preciso união de vontade e uma força motriz inabalável. E isso está longe de acontecer", afirmou.
No dia em que se cumpriram dois anos do incêndio de Pedrógão Grande, que causou 66 mortos e 254 feridos, foi assinado um protocolo de entendimento entre a AVIPG e a Infraestruturas de Portugal, tendo em vista a construção de um memorial em homenagem às vítimas dos incêndios florestais em Portugal em 2017.
Da autoria do arquiteto Eduardo Souto Moura, que ofereceu o projeto, o memorial vai ser construído junto ao quilómetro 7,7 da EN236, onde morreram 47 pessoas e muitas outras ficaram feridas. O custo e o prazo não foram revelados.
O autor contou que pretendeu fazer um "desenho simples, que não seja pretensioso", de uma balsa alimentada por uma fonte. "A água como purificação é um elemento transversal em todas as culturas e religiões."
Ora, a balsa de água desenhada tem "duplas funções de evocar o Renascimento, que pensamos que vai acontecer e, se houver outro incêndio, os bombeiros têm onde ir buscar água", explicou o arquiteto.
"A morte humilha-nos. É uma ofensa à liberdade"
As vítimas do incêndio de Pedrógão Grande foram ontem recordadas numa missa em sua memória, que se realizou na Igreja Matriz de Castanheira de Pera e contou com a presença dos Presidente da República e da Assembleia da República, primeiro-ministro e vários ministros e secretários de Estado, entre outros.
Na homilia, o padre Pedro Miranda, vigário-geral da diocese de Coimbra, recordou conversas que manteve com paroquianos que disseram ter visto "a morte à frente" durante o incêndio.
"A morte é uma ofensa à nossa liberdade, humilha-nos", disse o sacerdote, frisando que "o sentido da morte é o sentido que dermos à vida", quer se trate de uma morte considerada natural e expectável, como uma morte trágica, como as que ocorreram em Pedrógão Grande, durante o incêndio de junho de 2017.
O padre Pedro Miranda disse que "não foi Deus que criou a humilhação da morte. Deus é mais forte do que a morte", salientando que "nós somos o único ser vivo que se confronta com a morte, encontramos naquele acontecimento a semente para dar sentido à vida".
Entre as pessoas que assistiam à missa estavam muitos que ainda estão a recuperar das lesões causadas pelas chamas. São disso exemplo os que sofreram queimaduras graves, que ainda necessitam de cuidados médicos quase diários.
"O que todos precisamos é de paz e de condições para fazermos o luto, porque estes dois anos foram muito controversos e ainda não alcançámos a paz que precisamos", disse ontem ao CM Dina Duarte, moradora em Nodeirinho, a aldeia onde se registaram mais vítimas mortais e onde alguns se salvaram num tanque de água.
Fonte: Correio da Manhã
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