Vamos Ver em Que Ficamos - VIDA DE BOMBEIRO

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segunda-feira, 24 de junho de 2019

Vamos Ver em Que Ficamos


Há momentos em que, após análise de todas as circunstâncias, fica-nos a quase certeza de que em Portugal há legislação que é produzida só para complicar e burocratizar aquilo que parecia e deveria ser apenas simples e prático.

A legislação tem normalmente por missão ordenar, regular e estabelecer parâmetros. Mas quando ela parece ser produzida, como objectivo em si mesmo, e não como instrumento, assaltam-nos muitas dúvidas sobre o interesse na sua existência, na sua eficácia e nas suas vantagens, salvo para o grupo que tem como missão velar pelo seu cumprimento.

Algumas das regras impostas ao carroçamento e à sinalética exterior aplicada às ambulâncias de socorro e de transporte de doentes dos bombeiros são um verdadeiro quebra cabeças em mudança permanente sabe-se lá ao sabor de quê e de quem e contra as quais a Liga dos Bombeiros Portugueses se têm insurgido por princípio. Não que a Liga defenda a ausência de regras. Ao contrário, defende-as, mas com lógica e contextualização, quer na missão que as viaturas prestam, mas também na simbologia própria das associações humanitárias de bombeiros e no valor identitário da mesma.

Uma das questões a ponderar é os custos sucessivos que as regras vão acarretando sem que fique devidamente explicado e demonstrado o benefício que daí se obtém.

Nunca vi preto no branco a demonstração inequívoca das razões que levam a que se exija faixas reflectoras de uma e não de outra dimensão, quando tantas vezes apenas está em causa um centímetro ou até milímetros que seja.

As únicas razões apontadas decorrem do estrito cumprimento da lei, com regras cegas de cuja elaboração e suporte técnico nunca vi explicações plausíveis e bem sustentadas, nomeadamente para a inflexibilidade autocrática dos burocratas a quem cabe decidir.

Percebo a necessidade da normalização a que porventura a legislação sobre o carroçamento e a sinalização das ambulâncias quer chegar, mas já não percebo quando muito disso, afinal, apenas quer contribuir para uma verdadeira descaracterização dessas viaturas quando operadas pelos bombeiros.

Estarão lembrados que isto também é de modas, ou então expliquem-me melhor. Houve tempo em que as ambulâncias podiam ser quase de todas as cores, depois só brancas, depois vermelhas, depois outras vezes brancas, mas só algumas, e agora outra vez, também, vermelhas.

Este verdadeiro tropeço, estorvo, a que as associações de bombeiros têm estado obrigadas representam sempre custos que porventura os autores das suas sucessivas leis nem conhecem nem valorizam, mas que existem. Lembram-se, por exemplo, do tempo em que as janelas laterais das ambulâncias de socorro eram obrigatórias, até com dispositivo para abertura fácil? Existiram e deixaram de existir. E nem antes nem depois ninguém deu explicações plausíveis. Luzes laterais, strobes, faixas, as próprias dimensões, quer do “112” e outras letras e números não têm margem. Ou é exactamente como está regulado, sem flexibilidade e razoabilidade, ou não é.

Julgo que todos concordaríamos com princípios básicos e regras claras, mas com a suficiente flexibilidade.

Haverá questões, até de sinalética, que terão a ver com a segurança e sobre isso não haverá dúvidas. Só não se percebe é o que a diferença de um milímetro, ou dois ou três que sejam, poderão dificultar ou por em causa a missão da viatura.

Qual a razão porque, por exemplo, o logótipo da associação ou corpo de bombeiros não pode, nem por milímetros que seja, tapar a faixa reflectora que rodeia toda a viatura? Inclusive, quando até o próprio logótipo é também reflector?

Tudo evolui e ainda bem. Mas importa que isso se faça, mas não de forma cega e desresponsabilizada. Pretende-se sempre que a evolução constitua uma mudança, encarada de modo construtivo, com evidentes mais valias para o que antes existia ou se fazia. Ora, no caso vertente, não só está por demonstrar a bondade da inflexibilidade que transporta, como também a lógica, a sustentabilidade técnica, e a projecção de custos que acarreta.

Legisla-se, exige-se e depois logo se vê quem paga ou assume os custos das novas exigências. No caso das associações já se sabe quem é. Vamos ver em que ficamos. As viaturas são carroçadas segundo a legislação, mas, pese embora isso, afinal não chega. Segue-se o calvário das inspecções sucessivas, das anomalias verificadas cada vez que as viaturas são sujeitas a tal e pormenores grotescos associados.

As associações não têm capacidade financeira, e mesmo que a tivessem, para suportar o rocambolesco disso.

A Liga tem-se desdobrado em chamar a atenção das entidades respectivas para isso, mas o sentido de responsabilidade da confederação não tem obtido as respostas adequadas.

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