O incêndio que deflagrou há dois anos em Pedrógão Grande e que alastrou a concelhos vizinhos provocou a morte de 66 pessoas e 253 feridos, sete dos quais graves, e destruiu cerca de meio milhar de casas e 50 empresas.
Mais de dois terços das vítimas mortais (47 pessoas) seguiam em viaturas e ficaram cercadas pelas chamas na Estrada Nacional 236-1, entre Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, no interior norte do distrito de Leiria, ou em acessos àquela via.
As chamas, que eclodiram pelas 14h00 de 17 de junho de 2017, foram extintas passado uma semana (24 de junho), depois de, em 20 de junho, se terem juntado ao fogo que, cerca de dez minutos depois do início daquele incêndio, no concelho de Pedrógão Grande (em Escalos Fundeiros), deflagrou no município de Góis (distrito de Coimbra), em Fonte Limpa.
Tribunal decide no final da semana se há julgamento no processo das responsabilidades
O juiz de instrução do Tribunal de Leiria decide se há julgamento no processo que analisa as responsabilidades do incêndio de 2017 em Pedrógão Grande no final da próxima semana, disse à agência Lusa fonte judicial.
A decisão esteve para ser tomada em meados de maio, mas "alterações não substanciais aos factos", nomeadamente a queda de um pinheiro na estrada onde morreu a maioria das pessoas, "parando, desviando ao sentido contrário, ou, pelo menos, dificultando a marcha de quem passasse", obrigou o tribunal a dar um prazo para a defesa dos arguidos António Ugo Berardinelli, José Revés e Rogério Mota se pronunciasse.
Segundo fonte judicial, após o debate instrutório, o juiz irá decidir se haverá julgamento e se todos os 12 arguidos que constam na acusação serão julgados.
Revita, um fundo envolto em polémica que já ajudou a recuperar 233 casas
Os incêndios que afetaram em 2017 a zona de Pedrógão Grande levaram à criação do Revita, um fundo que já ajudou a revitalizar 233 casas, mas sobre o qual recaem suspeitas de irregularidades.
O Fundo Revita foi criado pelo Governo com o objetivo de apoiar as populações e revitalizar as áreas afetadas pelas chamas que, a partir de 17 de junho de 2017 e durante uma semana, atingiram os concelhos de Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, no distrito de Leiria.
A este fundo aderiram 63 entidades, com donativos em dinheiro, bens e em prestação de serviço, tendo o Governo reforçado o Revita em cerca de 2,5 milhões de euros.
No âmbito deste fundo ficou prevista a recuperação e reconstrução de 259 casas de primeira habitação nos três concelhos e nos municípios vizinhos de Góis, Pampilhosa da Serra e Penela, já no distrito de Coimbra, e Sertã (distrito de Castelo Branco), também afetados pelo fogo.
Segundo o mais recente relatório do Revita, publicado em abril, das 259 casas a recuperar, 219 já se encontram concluídas.
Contudo, dados mais recentes da Secretaria de Estado da Valorização do Interior, a que a agência Lusa teve acesso, referem que 90% das habitações já se encontram concluídas (233 obras finalizadas), sendo que 61 dizem respeito a novas construções e 172 a construções parciais.
O relatório do Revita aponta também que o fundo tem a seu cargo a reabilitação de 99 casas com um perfil de intervenção mais exigente, sendo que destas 75 já se encontram concluídas.
Além do apoio à reconstrução de casas, o Revita serviu para apoiar os agricultores que sofreram prejuízos entre os 1.054 euros e os 5.000 euros.
Nesse âmbito foram apoiados 7.643 agricultores.
No entanto, a aplicação do fundo tem sido alvo de suspeitas de irregularidades, nomeadamente no apoio à reconstrução de casas.
O Ministério Público ordenou a abertura de um inquérito, que conta com 43 arguidos, segundo informação disponibilizada à Lusa no dia 07 de junho pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
Fonte judicial disse à Lusa que o presidente da Câmara de Pedrógão Grande, Valdemar Alves, é um dos arguidos neste inquérito. O autarca é também arguido no processo que visa apurar responsabilidades no incêndio naquela região, com 66 mortos e mais de 200 feridos.
Na origem do inquérito estiveram denúncias feitas por duas reportagens, uma da Visão e outra da TVI, que aludiam a situações eventualmente ilegais na atribuição de fundos para a reconstrução de habitações afetadas pelo incêndio.
As duas reportagens referiam que casas que não eram de primeira habitação foram contempladas com obras em detrimento de outras mais urgentes e também que casas que não arderam foram reconstruídas com fundos solidários.
Em outubro, o conselho de Gestão do Fundo Revita revelou que, das 259 casas de primeira habitação selecionadas para reconstrução, sete processos iriam ser alvo de "reavaliação por parte dos municípios".
Fonte: Correio da Manhã
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