Assassino silencioso. Em seis anos houve 42 mortos por inalação de monóxido de carbono - VIDA DE BOMBEIRO

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quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Assassino silencioso. Em seis anos houve 42 mortos por inalação de monóxido de carbono


Os sintomas de intoxicação por monóxido de carbono - como dores de cabeça e náuseas - aparecem muitas vezes disfarçados. Especialistas alertam para cuidados a ter em casa

Sem cheiro, sem cor e praticamente impercetível, o monóxido de carbono é considerado um assassino silencioso. Quando inalado, os sintomas - como dores de cabeça e náuseas - podem não ser logo interpretados como uma intoxicação, disfarçando assim o perigo de quem está exposto a este gás. 

Com a descida das temperaturas o recurso a lareiras, braseiras e até mesmo aquecedores aumenta e basta estar muito tempo num espaço não arejado, ou mal arejado, para o pior acontecer.

Segundo dados do Centro de Informação Antivenenos (CIAV) fornecidos ao i, no ano passado foram 32 os pedidos de apoio e aconselhamento relacionados com o monóxido de carbono. Desses pedidos, 22 eram de adultos (12 homens e 10 mulheres) e oito diziam respeito a crianças (quatro rapazes e quatro raparigas). Uma subida face aos 29 pedidos registados em 2016. Os dados revelam ainda que em 2017 se registaram 38 pedidos de ajuda. Segundo o INEM, o CIAV funciona como um “centro médico de consulta telefónica na área da toxicologia, responsável pela prestação, em tempo útil, das informações necessárias e adequadas a profissionais de saúde ou ao público em geral, visando uma abordagem correta e eficaz a vítimas de intoxicação”. 

Relativamente às vítimas mortais, fonte do INEM referiu que “entre as chamadas recebidas no CIAV não houve conhecimento de nenhum caso de morte”. Dados que, no entanto, não coincidem com os do Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) - entre 2012 e 2018 (até dia 25 de novembro), registaram-se 42 vítimas mortais e um total de 4758 ocorrências por monóxido  de carbono.

Contudo, fonte do INEM explicou que esta discrepância se deve ao facto de o CIAV e o CODU serem “serviços distintos e complementares. Como se trata de um Centro de Apoio e Aconselhamento, tem dados e estatística independente do CODU”.

Dados do CODU, a que o i teve acesso, indicam que no ano passado se registaram 741 ocorrências das quais resultaram seis mortos. No entanto, este não foi o pior ano nem em termos de ocorrências nem em número de vítimas mortais. À semelhança do número de pedidos ao CIAV, 2017 foi o ano que registou o maior número de ocorrências (972), mas está longe de ser o com mais vítimas mortais - quatro. O ano com mais mortes aconteceu em 2013, com 12, de um total de 672 ocorrências.

Os dados revelam ainda que o número de ocorrências tem aumentado desde 2012 - à exceção de 2014 e 2018 -, ano em que se registaram 333 ocorrências. Em 2013, o número de ocorrências aumentou significativamente: foram registados mais 339 casos face ao ano anterior.  A subida do número de ocorrências foi consecutiva ao longo de três anos (2015 com 642 ocorrências, 2016 com 789 ocorrências e 2017 com 972 ocorrências) - 2018 acabou por contrariar a tendência, com 741.

Já o número de vítimas não é assim tão linear. Segundo dados do CODU, em 2012 registaram-se cinco vítimas mortais. Em 2013 o número aumentou para 12 mortos, valor que reduziu para metade em 2014. E desde então os números têm-se mantido mais ou menos idênticos: quatro vítimas mortais em 2015, cinco em 2016, quatro em 2017 e seis em 2018.

Fonte do INEM explicou que os dados do CODU são relativos a “ocorrências em que a triagem telefónica foi possível apurar a causa e registar como ‘intoxicação por monóxido de carbono’”. E que na maior parte das vezes “não é possível apurar nem mesmo através das nossas equipas no local”, porque geralmente as causas da morte são apuradas post mortem, através de autópsia. Por essa razão os dados disponibilizados dizem respeito “às situações em que o INEM registou, inequivocamente, a relação: ‘vítima de paragem cardiorrespiratória por intoxicação de monóxido de carbono’”.

Outros casos No arranque de 2019 as notícias não foram boas: um casal de emigrantes morreu em São João da Pesqueira, Viseu, na sequência de uma intoxicação por monóxido de carbono. O casal vivia em França e estava em Portugal na altura para festejar o Natal e o Ano Novo.

Segundo o que o comandante dos bombeiros voluntários de São João da Pesqueira revelou na altura, quando chegaram ao local perceberam que as duas pessoas estavam naquela situação “por inalação de monóxido de carbono porque estava presente uma braseira”. 

Mas este não é caso único. Em novembro do ano passado, uma família de cinco pessoas - pai, mãe, tio e duas filhas, com nove e 14 anos - de Sabrosa, Vila Real, perdeu a vida pelo mesmo motivo. Ainda no mesmo dia, em Mesão Frio, três mulheres tiveram melhor sorte, receberam assistência médica a tempo e sobreviveram. Já no início de 2018, na madrugada da passagem de ano, a surfista Tânia Oliveira morreu em Ponta Delgada, nos Açores. São casos isolados e sem relação, mas que retratam o perigo.

Ao i, o INEM confirmou que as principais causas de intoxicação têm “sobretudo origem em esquentadores e braseiras”. A mesma fonte explicou que a maior parte dos casos acontece com “a utilização de braseiras em quartos e salas sem arejamento, a presença de esquentadores nas cozinhas e em menor número nas casas de banho (porque é proibido por lei)”.

O INEM diz ainda que os dados não permitem concluir se o número de pessoas que morrem por intoxicação devido a este gás aumentou. Mas, que atualmente “as regras de segurança obrigatórias e a menor utilização de braseiras, não há conhecimento ‘empírico’ de que haja maior número de casos do que antes”. E disse ainda que também não existem dados que sustentem que morrem mais pessoas nos meios rurais do que nas cidades, referindo apenas que nos meios rurais “se utilizam mais as lareiras e braseiras do que nos apartamentos nas cidades”.

Recomendações O monóxido de carbono é um gás tóxico que não tem cheiro nem cor, mas estar atento aos sintomas e abandonar o local, arejando-o, pode ajudar a evitar o pior. Dores de cabeça, náuseas, dificuldade a respirar, tonturas, colapso e, em última caso, perda de consciência, são os principais sinais de que os níveis de monóxido de carbono estão mais elevados do que deveriam. 

“Manter sempre arejada a dependência da casa onde estejam a ser utilizadas braseiras ou lareiras, nunca utilizar braseira num quarto de dormir, verificar regularmente o funcionamento dos sistemas de exaustão e utilizar detetores de monóxido de carbono”, são alguns dos conselhos deixados pelo INEM. Caso tenha seguido estas recomendações e mesmo assim suspeite de intoxicação pode sempre ligar para o CIAV (808 250 143) ou em casos mais graves para o 112.

Fonte: ionline

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