Opinião: Os Bombeiros Que Temos - VIDA DE BOMBEIRO

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sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Opinião: Os Bombeiros Que Temos


Era uma vez uma Associação e um Corpo de bombeiros.

Viviam numa casa emprestada e ainda agradeciam por isso.
Dizer-se que tinham as condições mínimas era exagerar.
Tinham uma espécie de garagem, uma espécie de camaratas, uma espécie de central.
Era uma vez um Verão bem quente.

O património florestal do concelho, há dias que ardia a bom arder.
Porque as condições se agravaram à escala nacional, o ministro resolveu passar pelo concelho e antes de ir ver o incêndio fez questão de passar pelo quartel.

Apressado, o secretário do Governo Civil, que acompanhava o governante de pastinha na mão e lapiseira nos dedos, suspirava por que o ministro indagasse por alguma coisa que lhe permitisse mostrar serviço. 

De súbito, procurou uma lista telefónica para fazer um contacto, dando andamento a uma vontade vinda de cima.

No tempo, não havia telemóveis nem computadores, só televisão a cores.
Como não encontrava a folha, por se ter perdido ou por os nervos não o deixarem ver direito, desabafou irado:

"Isto são os bombeiros que temos"!

O presidente embatucou, engoliu em seco, fez-se de várias cores e nada disse, por cortesia.
Entretanto, o ministro mandou dizer que queria mesmo ir onde lavrava o incêndio, ver o terreno, as chamas, o esforço dos bombeiros.

Não querendo contrariar, assim se fez, já noite, carros a caminho, o ministro num deles, pelo meio do mato e o fogo a assustar, com as chamas bem perto.

Na volta, chegados ao quartel, o dito secretário reclamava que não se devia sujeitar o ministro a tanto risco, que o percurso havia sido exagerado, sem necessidade, que tinha havido desrespeito com Sua Excelência, que vinha muito cansada.

O presidente ainda replicou que apenas fizera o que o ministro pedira.

E ainda teve tempo e coragem para complementar:

"Se estes são os bombeiros que temos, é porque este é o país que temos"!

A excelência e os restantes despediram-se sem sinal de desagrado, parecendo até satisfeitos por poderem ver, sem disfarces nem filtros, o que estava a acontecer na realidade.
O presidente ficou com uma certeza.
Quem complica são os acólitos, os ajudantes, os assessores.
Quem inventa são os capatazes, os fiéis de armazém.
Quem complica são os apaniguados e os forcados.
Quem atrapalha é o exército de ajudantes e coadjutores tementes de perder o emprego.

Quem atrasa isto tudo são os fidalgos e os fidalgotes, os pajens e os camareiros, os cavaleiros e os escudeiros.

Quem prejudica é quem anda na babugem e saliva por uns resíduos, a troco de uma hipoteca da consciência.

É a corte que dá cabo disto tudo.

Texto original em Pré.textos

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