Ontem dia 22 de Agosto, assinalou-se um dia que ficou marcado a negro na História dos nossos Bombeiros e de todos os Bombeiros de Portugal…o incêndio do Caramulo.
Cinco longos anos se passaram desde então…muito se escreveu…muitos estudos foram feitos…muitas cadeiras rodaram…mas no fim…o que terá mudado de verdade?
Hoje estou de serviço no quartel…como há cinco anos atrás…lá fora, um calor ardente e sufocante invade tudo em seu redor, como há cinco anos atrás…temos meios a quilómetros de distância…como há cinco anos atrás…
Para muitos, tudo parece estar na mesma e o Caramulo, não passa já de uma triste história algures perdida no tempo, com Monchique e Pedrógão Grande ainda tão frescos na memória colectiva…mas para todos aqueles que viveram de perto esse horror…o mundo tal como o conheciam…deixou simplesmente de existir… e os que foram e voltaram, nunca mais serão os mesmos…
Nesse dia quente de Verão, a vida seguia igual apesar de as televisões encherem os noticiários com os incêndios a norte, em especial no Caramulo onde o monstro andava à solta sem dar tréguas…mas isso é o eterno Verão em Portugal!
De repente saltam as primeiras notÃcias sobre Bombeiros em apuros…sobre grupos perdidos e isolados a pedirem protecção dos meios aéreos…e o mundo começa-me a fugir debaixo dos pés…os nossos homens estão lá…o meu irmão está lá!
Procuro o telefone no bolso e as mãos trémulas quase que erram a marcação…o telefone chama, grita, implora…mas um silêncio frio e estúpido anuncia-me o pior…” – Temos problemas!”
Corro como um louco à procura de informação fidedigna junto do Comando, com o coração a mil…e o pior a confirmar-se…há Bombeiros desaparecidos, há feridos, talvez mortos e os nossos estão envolvidos…
O mundo mudou para todos nós!
O que ouvi de cada um deles nas suas descrições vividas à flor da pele, relatos de um inferno que jamais irão esquecer…o que vi nos seus olhos despojados de brilho…nas marcas que nos mostram e nas que tentam esconder…nos gritos e choros dos que ficaram sem os seus enquanto os acompanhava até à última morada…tudo isso me fez repensar a minha vida…as nossas vidas…
Felizmente, “os nossos” voltaram...alguns marcados por fora…todos marcados por dentro!
Hoje… passados cinco anos, quando as memórias de todos eles teimarem em voltar…o Pedro estará em casa rodeado da famÃlia, tal como o Sérgio , o Tiago , o Ivo e o Carlos …e o Manuel… esse, vou lá fora ver onde é que ele anda e dar-lhe um abraço apertado. Está de serviço para variar, só que hoje… hoje eu sei que ele está aqui, que está comigo e não no meio de uma serra qualquer, a centenas de quilómetros de distância…lá… onde eu um dia, pensei que o perdera… para sempre!
UM ETERNO RECONHECIMENTO A TODOS OS CAMARADAS ENVOLVIDOS NESSA E EM TODAS AS MISSÕES…
Luis Nunes
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