Faltam Poucos Dias Para os Dias da Brasa, Não Pode Falhar Tudo Outra Vez - VIDA DE BOMBEIRO

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quarta-feira, 9 de maio de 2018

Faltam Poucos Dias Para os Dias da Brasa, Não Pode Falhar Tudo Outra Vez


A hipótese, ainda que académica, ainda que sob a forma de pressão política de Marcelo Rebelo de Sousa sobre o Governo, de poder falhar tudo outra vez na resposta do país aos incêndios, só pode deixar-nos perplexos. Como assim, falhar tudo outra vez? Não pode falhar tudo outra vez. Simplesmente não pode. Mas no espírito do presidente da República - logo ele, que anda há meses a lamber as feridas de tantos e tantos que ficaram com o futuro em carne viva - habita essa fatalidade teórica. A qual, a concretizar-se, fará com que não se recandidate ao cargo. Neste tema como nos demais, Marcelo ataca e defende com a mesma eficácia. E nunca diz mais do que aquilo que quer dizer. Atingindo sempre quem se sente atingido.

Na entrevista ao jornal "Público", o chefe de Estado é claro na fuga calculada ao tema: em matéria de prevenção de incêndios e agilização da máquina da Proteção Civil, fez tudo o que podia, aprovou tudo o que lhe propuseram, lançou os alertas no devido tempo. Para bom entendedor, meia palavra basta. Mesmo que, na verdade, essa meia palavra se assuma inteira na boca de Marcelo, mesmo que o primeiro-ministro, que já garantiu que não se demitia caso o fogo voltasse a roubar vidas, venha recorrer à crua ironia para dizer que não acredita que o presidente esteja a passar recados pelos jornais. Mas Marcelo não está a falar para ele, está a falar para o país, para o Portugal que o idolatra. E este, além disso, é muito mais do que um recado. É, atendendo a tudo o que está a acontecer, um aviso muito sério que devia preocupar-nos. O remake de um filme que nos envergonha.

Um ano depois, a Proteção Civil está em frangalhos. O comandante nacional demitiu-se, os meios aéreos estão atrasados, há uma lei orgânica por aprovar. Se formos aos pormenores, percebe-se melhor o sentido da frase bombástica do presidente. Os 20 meios aéreos com que a Proteção Civil devia poder contar desde 1 de maio não estão disponíveis porque os contratos foram enviados tardiamente pelo Governo para o Tribunal de Contas. Neste momento, o Estado apenas dispõe de três helicópteros ligeiros. E os três Kamov públicos permanecem em terra porque não têm autorização da Autoridade Nacional da Proteção Civil para voar.

Com maior ou menor grau de empenho, os portugueses cumpriram aquilo que deles se esperava. A paisagem desordenada da floresta não mudou totalmente, mas notam-se os efeitos da mensagem. Portanto, é exigível que o poder executivo faça o que dele se espera. Que execute. Por respeito a quem ficou amputado de um ente querido, por respeito a quem se reergueu das cinzas, mas sobretudo para não desonrarmos a memória dos mais de 100 concidadãos que morreram de uma forma que todos julgáramos impossível.

Faltam poucos dias para os dias da brasa. Não pode falhar tudo outra vez.

Pedro Ivo Carvalho SUBDIRETOR JN

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