Os bombeiros portugueses têm vindo, ao longo dos anos, a chamar a atenção para um conjunto de situações relevantes para uma maior eficácia, reclamando ao Governo que tenha em devida conta o nosso conhecimento, a nossa prática e o nosso profissionalismo no combate aos incêndios florestais. Temos muitas insuficiências que é preciso colmatar, em termos de equipamentos e viaturas e num apoio social que é necessário, já que cerca de 90% dos bombeiros são voluntários. Salvaguardando o respeito que todos devem merecer, já que a sua missão, seja qual for o estatuto, é defender a sociedade portuguesa.
O grande problema do socorro é que, apesar de a resposta a incêndios florestais ser só cerca de 7% da atividade dos bombeiros, corresponde a uma ocupação de cerca de 96% dos elementos. Para evitar a perigosidade, há muito a fazer no ordenamento e planeamento, e no cadastro essencial para esse ordenamento. Com o êxodo e envelhecimento das populações, há o abandono da agricultura e a massificação de espécies que não são resilientes ao fogo.
A estes temos ainda de juntar outros fatores, como o aquecimento e risco acrescido do ponto de vista climático, ou ainda outro fator que não podemos negligenciar, que é o elevado número de incêndios de origem criminosa. A par da preparação do combate, é preciso olhar para todos estes fatores e reduzir o elevado número de ignições.
Por outro lado, a Autoridade Nacional de Proteção Civil não deve circunscrever a sua atividade aos incêndios e deveria ter funções de coordenação, já que o modelo que temos não existe em mais nenhum país da Europa. Temos vindo a propor a criação de uma Direção Nacional de Bombeiros e mudanças operacionais, mas o sentido social do processo e a dinâmica das reformas estão aquém do necessário.
Na sequência do relatório da Comissão Técnica Independente - que incompreensivelmente não teve um representante dos bombeiros -, foram tomadas decisões em que com a emoção se perdeu a razão. Foi escolhido um alvo facilmente culpabilizável, os bombeiros, que foram sentados no banco dos réus. E com isso o Governo ganhou margem de manobra, com a habilidade política que o primeiro-ministro tem, para direcionar as medidas que queria. Foram reforçados o GIPS e a FEB, que efetivamente ganharam equipamentos e recursos, deixando para trás os bombeiros. É uma injustiça inqualificável e intoxicou-se a sociedade com anátemas como a alegada falta de transparência na logística.
Na sequência desse mal-estar iniciaram-se negociações sérias em que demos passos importantes, embora não tenham sido consensualizadas questões operacionais pelas quais, se houver problemas, responsabilizamos o presidente da ANPC. Não estamos disponíveis para continuar a ser os parentes pobres e bodes expiatórios dos problemas do país.
JN
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