Piloto Espanhol que Combateu Fogos em Pedrógão Revela o que Correu Mal - VIDA DE BOMBEIRO

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terça-feira, 6 de março de 2018

Piloto Espanhol que Combateu Fogos em Pedrógão Revela o que Correu Mal


Em entrevista à TSF, um dos pilotos que, em junho de 2017, combateu os incêndios de Pedrógão Grande, a bordo de um Canadair, aponta as falhas na luta contra o fogo.

O piloto espanhol Fernando Adrados aponta falhas à coordenação portuguesa e diz que a prevenção é a melhor forma de evitar novas tragédias. Prevenção que deve começar desde cedo, na educação das crianças.

"Desde a base. A partir das crianças. Na educação. [É preciso] educar as crianças para uma cultura de natureza e para a importância de proteger o nosso planeta das alterações climáticas. Isto é a primeira coisa a fazer", disse à TSF o piloto, considerando que "há, obviamente, muito por fazer".

Adrados refere-se, por exemplo, à "previsão e a prevenção de incêndios. E, obviamente, durante a resposta de combate. Cabe a Portugal, à Europa - e a Espanha. Também há muitas coisas a melhorar", apontando a necessidade de avanços ao nível da coordenação.

"Deve falar-se um idioma comum em matéria de extinção de incêndios, haver uma série de procedimentos operacionais parecidos. Creio que a Comissão Europeia tem em marcha muitos projetos deste género. Mas ainda não estão integrados, nem interiorizados pelas pessoas", disse.

Em junho do ano passado, Fernando Adrados sobrevoou Pedrógão Grande, numa missão de quatro dias, lançando água partir do avião Canadair.

"Enquanto piloto, Portugal foi o mais impressionante que vivemos, não só eu como todo o meu esquadrão, porque foi um dos maiores incêndios da história da Europa, em que houve muitíssimos mortos. É uma coisa que fica gravada", disse o piloto, acrescentando que se recorda também daquilo que descreve como dificuldades operacionais.

"Falta de coordenação, muito volume de ajuda concentrado em zonas em que não era tão necessário. Mas, realmente todos fizemos o que pudemos. Tanto os portugueses como a ajuda que veio de fora. O que digo é que a coordenação e a preparação tem de ser antecipada. Não só em Portugal como em todos os países. Em Portugal, o que aconteceu foi haver falta de coordenação durante a extinção", afirmou, considerando tratar-se do normal num incêndio tão grande"

O piloto descreve ainda "um pequeno percalço, em que houve um falso acidente e tivemos de avisar as nossas famílias que estávamos bem", considerando que este foi mais um fator que concorreu negativamente para o combate.

"Como a notícia surgiu, não sei. À cabina do meu avião chegou-me por rádio, pela frequência do controlador terrestre, que diz que alguém viu uma explosão enquanto passavam os aviões. O controlador perguntava que Canadair tinha caído. Éramos 11, de cinco países diferentes, e ele não sabia quem tinha caído. Naquela altura não via os meus companheiros espanhóis, pensei que eram eles. E evidentemente que me assustei, porque estavam lá os meus amigos naqueles aviões. Não é fácil. Fica-se a pensar o voo todo sobre isso. A procurar o outro avião. A tentar que a equipa de regaste pudesse ir salvar essa tripulação que não existia. Não é fácil voar assim. Para mim era muito difícil concentrar-me", admitiu, embora "o treino permita fazer bem o trabalho".

O piloto deu o exemplo de Portugal para defender que são precisas melhorias nesta matéria, durante uma palestra no Fórum Europeu de Proteção Civil que decorreu, esta terça-feira, em Bruxelas.

"Quando me propuseram falar sobre incêndios, não me ocorreu outra coisa a não ser falar de Pedrógão Grande. Também para dar importância às vítimas, porque é recordando que faz com que possamos melhorar, pois ainda falta melhorar muito", referiu.

TSF

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