Relatório aponta o dedo ao governo por não ter prolongado a fase Charlie
Os três fogos nos distritos de Coimbra, Viseu e Guarda ultrapassaram a floresta e uniram-se num incêndio incontrolável em muito menos tempo do que o fogo em Pedrógão Grande, em junho, onde morreram 67 pessoas. Esta é uma das conclusões do relatório da Comissão Técnica Independente, nomeada pela Assembleia da República, e que será entregue amanhã ao Governo.
O Jornal de Notícias teve acesso ao relatório e avança algumas destas conclusões que apontam para que o período de maior intensidade das chamas tenha acontecido durante a noite de 15 para 16 de outubro - o que levou a que a maioria das 49 vítimas morresse durante este período.
O grupo de especialistas que elaborou o relatório descreve a situação de outubro como "singular" e refere que seria impossível combater o fogo, mas que a estratégia deveria ter passado pela defesa e proteção das populações, o que se revestiu de dificuldade tendo em conta que as casas estavam dispersas pela área atingida.
As pesquisas revelaram ainda "uma evolução muito rápida do fogo", apesar de a área atingida pelos incêndios de outubro ter sido muito superior à de junho. Na verdade, e de acordo com o relatório, a área ardida num só dia - a 15 de outubro - foi superior à de anos inteiros, com exceção de 2003 e 2005.
Entre as principais falhas apontadas estão o facto da Proteção Civil ter ignorado os avisos sobre o risco de incêndio, não alertando a população e não tendo evacuado as aldeias a tempo; o Governo não ter prolongado a fase Charlie (que terminou a 30 de setembro), o que levou a que faltassem meios de combate ao fogo no terreno; o SIRESP ser um sistema "obsoleto e ultrapassado", que em vez de ajudar dificultou as operações; e ainda o não cumprimento, por parte das autarquias e das populações, da lei da defesa da floresta e a limpeza de terrenos, respetivamente.
Entre as recomendações do relatório contam-se trocar as nomeações políticas para a Proteção Civil por critérios baseados em competências, profissionalizar os bombeiros - o relatório aponta a falta de formação dos voluntários, que não sabem lidar com incêndios como os de junho e outubro de 2017 -, e ainda cumprir lei que obriga a limpar a floresta.
DN
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