A saída de Joaquim Leitão da presidência da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) já está decidida pelo Governo.
O coronel do Exército, nomeado para o cargo a 24 de outubro de 2016, só ainda não saiu porque o substituto está por escolher. Ao que o CM apurou, o golpe final para Joaquim Leitão foi o relatório da Comissão Técnica Independente (CTI) sobre a tragédia de Pedrógão Grande. No documento fica provado que a ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, recebeu a 6 de julho um relatório da ANPC sobre o fogo de Pedrógão com informações ambíguas.
Um exemplo: a ANPC informou que pelas 16h43 estavam empenhados 167 operacionais, 48 viaturas e 2 meios aéreos quando, na realidade, estavam no terreno 68 operacionais e 22 viaturas, sem meios aéreos.
O empenho de meios aéreos nas primeiras duas horas de fogo, estando disponível apenas uma aeronave, quando deviam estar três, funciona também em desfavor de Joaquim Leitão, assim como a polémica das licenciaturas dos comandantes distritais. O presidente da ANPC declinou ontem comentar, afirmando "estar a analisar o relatório". A ministra da tutela também recusou ontem demitir-se no Parlamento, no mesmo dia em que foi anunciado o prolongamento, até dia 31, do período de defesa da floresta.
Pontos essenciais do relatório
- Poderiam ter sido tomadas medidas nas primeiras horas do combate para evitar consequências mais graves;
- Alerta precoce poderia ter evitado a maioria das 64 mortes;
- Existiram falhas no comando do combate ao fogo e faltaram medidas que poderiam ter moderado os seus efeitos;
- Excluída responsabilidade da GNR em direcionar carros para a Estrada Nacional 236, onde morreram 30 pessoas;
- Opções táticas e estratégicas tomadas durante o combate ao incêndio contribuíram para as consequências catastróficas;
- Incêndio demonstra que os sistemas de combate não estão preparados para enfrentar as alterações climáticas;
- Autoridades não tiveram a perceção da gravidade, pelo que no combate inicial não foram mobilizados todos os meios disponíveis;
- Atual comandante operacional nacional da Proteção Civil, Albino Tavares, ordenou aos operadores de comunicações que não registassem mais alertas na fita do tempo do incêndio de Pedrógão Grande; - Mais de metade das mortes no incêndio de Pedrógão Grande ocorreram num espaço de tempo de cerca de 15 minutos;
- SIRESP está baseado em tecnologia ultrapassada e obsoleta, tendo sido notória a falha deste sistema de comunicações e das redes móveis;
- Presença excessiva de autoridades junto do posto de comando operacional perturbou o combate ao incêndio, a par de alguma menor experiência no comando;
- Incêndios que começaram em Pedrógão Grande (onde arderam 28 914 hectares) e Góis (17 521 hectares) foram causados, respetivamente, por descargas elétricas mediadas pela rede de distribuição de energia e por um raio; - Comandante operacional nacional da Autoridade Nacional de Proteção Civil deveria ter tido uma presença ativa durante o incêndio de Pedrógão Grande.
Fonte: Correio da Manhã
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