Filipa tem apenas 24 anos. Filha e sobrinha de bombeiros, a jovem tenta agora recuperar em casa das graves queimaduras sofridas no fogo de Pedrógão Grande. Foi cercada pelas chamas - ela e outros quatro bombeiros, em Castanheira de Pera - e ficou com mais de 20 por cento do corpo queimado.
Correu risco de vida, voltou agora a casa, mas todos os dias vai à fisioterapia para recuperar a mobilidade. "Não me imagino a voltar aos fogos. Fecho os olhos e vejo aquilo tudo. Foi um horror", diz, emocionada, lembrando que o grupo nunca foi atingido pelas chamas. "Fugimos do carro depois de sofrermos um acidente e tentámos chegar a um cruzamento. Pensámos que por estarmos mais longe das chamas nos conseguíamos salvar. Mas o calor era tanto que sentíamos que estávamos a arder vivos. Pensei que íamos todos morrer", recorda.
Filipa ainda fugiu do local. Pediu boleia a um automobilista e seguiram para a estrada da morte. Não conseguiram passar - dezenas já tinham sido atingidos. Voltaram para trás, Filipa já não viu os colegas. "Também fugiram, embora nenhum de nós soubesse muito bem o que fazer. Aquela era uma situação impensável." Já na ambulância - "na fuga cruzámo-nos com uma e eu pedi logo ajuda" -, Filipa diz que se recorda de ter visto o pai. "Estive sempre consciente. O meu pai é também bombeiro e veio a correr procurar-me. Eu sabia que estava gravemente queimada, tinha consciência do meu estado."
"Mentiram, disseram que ele estava vivo"
Filipa Rodrigues pensava que o colega Gonçalo Correia estava vivo. Foi isso que lhe disseram, soube acidentalmente por uma visita no hospital que o bombeiro não tinha resistido. "Diziam-me que estavam todos bem. Que nos tínhamos safado. Até me disseram que o Gonçalo estava no mesmo hospital que eu, no andar de cima", conta a jovem, que recorda a mentira. "Soube acidentalmente e perguntei a todos se era verdade. Diziam que não. Que estávamos a recuperar." Já o funeral tinha decorrido, Filipa foi confrontada com a verdade.
"Foi um choque. Até hoje não consegui falar com a família. Sei que estão a sofrer, mas eu estou sempre a lembrar-me do que aconteceu. Foi muito duro", continua a bombeira, que para já recebe o ordenado pelo seguro. "Trabalhava numa fábrica que também ardeu. Não sei como será o dia de amanhã."
Fonte: Correio da Manhã
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