Todos os anos dezenas de bombeiros ficam gravemente queimados. Os que sobrevivem guardam na pele, e na vida, as marcas do combate. Reproduzimos o trabalho publicado no primeiro caderno a 7 de setembro de 2013, o ano do mortÃfero incêndio do Caramulo. Nesse ano, até à data de publicação desta reportagem, tinham morrido em serviço 7 bombeiros.
O chefe José Costa vai logo avisando. "Olhe que isso não é assunto de que eu goste de falar." A 6 de outubro de 2011, este bombeiro de Penedono, 51 anos, 30 certinhos de voluntário, foi combater mais um incêndio. O verão teimava em ficar e o pinhal de Baldos (Moimenta da Beira) em arder. "Éramos cinco, estendemos linhas de água e de repente o vento mudou. Em segundos fiquei rodeado de fogo, tudo ardia, o ar ardia, eu ardia. Foi tão rápido que o fato nem ardeu, só eu. E foi isso. Não há mais o que contar. É tudo para esquecer."
Tenta manter a emoção fora do relato mas as palavras saem-lhe sem firmeza, com esforço, como se fosse uma obrigação resolver, avançar, esquecer. Mas como esquecer, se o corpo, o seu corpo, faz-lhe lembrar isso todos os dias. A barriga das pernas, os joelhos, as coxas, o abdómen, metade de um braço, o punho esquerdo, as costas, o rosto, até a voz, queimados, cicatrizados.
Expresso
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