“O que nos valeu foi aquele tanque” - VIDA DE BOMBEIRO

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domingo, 18 de junho de 2017

“O que nos valeu foi aquele tanque”


Ana esteve até este domingo de manhã à espera de que a PJ fosse recolher os corpos do marido e do sobrinho. “O meu marido esteve até hoje de manhã na estrada, queimado”, é um desabafo ainda incrédulo. O marido, Sidnel, tinha ido ver com o sobrinho pequeno se o fogo estava longe da casa. Foram apanhados dentro do carro por um pinheiro em chamas que caiu do nada. A história está cheia de buracos, não se pede a ninguém em tristeza e desespero que conte o mal que lhe caiu em cima. Mas Ana quer contar para que se saiba que os bombeiros tardaram em chegar a Nodeirinho, uma pequena aldeia na rota do IC8, e que por ali estiveram pessoas aflitas durante mais tempo do que seria necessário.

“Estivemos a ligar das 19h30 até às 3 da manhã. O senhor presidente está a dizer que a ajuda chegou a todo o lado, mas não chegou ali. Estivemos mais de cinco horas à espera. Morreram 11 pessoas”. Quem o diz é uma familiar de Ana, que passava uns dias na casa de férias que possui em Nodeirinho. É isso que as zanga, que os bombeiros só tenham chegado a Nodeirinho às três da manhã.

 Ambas estão agora a salvo, no centro de acolhimento montado no lar de idosos da Santa Casa da Misericórdia de Pedrógão Grande, onde outras famílias estão igualmente a receber comida, um tecto e apoio psicológico de emergência.

“O que nos valeu foi aquele tanque” de um vizinho, conta a mesma sobrevivente, à soleira da porta da Santa Casa. Em pânico, sem acesso a água e a ouvir botijas de gás a explodir, acabaram por ser resgatadas quando já esperavam o pior. “Foi um homem corajoso que nos arrancou de casa e nos levou para perto do tanque, onde estivemos a molhar-nos. Se não fosse aquela água, tínhamos morrido todos”.

Saíram da aldeia já de madrugada e estão desde então na Santa Casa. “Trataram-nos muito bem. Foram impecáveis, não nos faltou nada”. Este é um dos cinco sítios de acolhimento psicossocial de emergência montados pela Segurança Social com a ajuda de várias entidades, entre elas as misericórdias. Nestes centros estão técnicas de acção social e também psicólogos a prestar o primeiro apoio, onde acorreram este domingo dezenas de pessoas à procura de um tecto para ficarem nos próximos dias. 

Publico

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