Os fogos continuam na zona centro do país. Pedrógão Grande e Góis ainda mobilizavam, ao início da noite, o maior número de operacionais. O dia ficou marcado pela evacuação de 40 povoações e pelo desmentido da notícia da queda de um avião. Fonte da Proteção Civil tinha avançado que um Canadair se despenhara, informação negada pela própria Proteção Civil duas horas depois.
O dia começou com otimismo. A expetativa era grande e as autoridades avançavam com a possibilidade de dar o incêndio de Pedrógão Grande como dominado ao início da tarde. Mas as coisas não correram como era esperado na zona centro, com condições desfavoráveis ao combate. O fogo de Pedrógão Grande manteve-se ativo todo o dia e motivou evacuações de localidades. Mais a norte, já no distrito de Coimbra, foi o incêndio de Góis que motivou maiores preocupações.
Ao todo, 40 aldeias da zona centro do país foram evacuadas esta terça-feira. No concelho de Góis foram 27 povoações. Em Pedrógão Grande, os habitantes de 13 aldeias foram retirados por precaução das suas casas. Ao fim da tarde, encontravam-se mobilizados mais de mil operacionais em cada um dos incêndios.
Desde sábado que não há descanso para as populações daquela zona do país, que abrange os distritos de Leiria, Coimbra e Castelo Branco.
Ao quarto dia, os números são o reflexo do mais mortífero incêndio da história recente de Portugal: sessenta e quatro mortos e 160 feridos em Pedrógão Grande; sete feridos continuam internados em estado grave.
Proteção Civil desmente queda de Canadair
Para além das chamas, o dia ameaçou ficar marcado pela notícia do que seria outra tragédia, mas que, parece agora, não terá passado de um mal-entendido. A meio da tarde, fontes da Proteção Civil confirmavam aos mais diversos títulos da imprensa nacional que um avião Canadair caíra perto de Pedrógão Grande.
A notícia apresenta-se como certa durante duas horas, noticiada também pelas mais reputadas agências de informação internacional e por jornais e televisões de todo o mundo. Foram ativados meios de busca e salvamento para localizar a aeronave e populares explicam ter ouvido um “grande estrondo” perto do local onde teria caído o avião.
O Gabinete de Prevenção de Acidentes com Aeronaves e Acidentes Ferroviários também é informado e envia uma equipa.
O desmentido surge ao fim da tarde. A Proteção Civil nota que não há qualquer aeronave ao serviço da ANPC que tenha desaparecido e explica que as buscas não encontraram qualquer aparelho. O comandante operacional Vaz Pinto alude à possibilidade de ter ocorrido outro evento que induzisse em erro, tendo falado na hipótese da explosão de uma roulotte.
À noite, em entrevista à TVI, o próprio primeiro-ministro diz que também ele pensou que um Canadair tivesse caído. António Costa aponta a confusão como um exemplo da dificuldade da recolha de informações na zona afetada pelos incêndios.
À procura de respostas
O episódio da aeronave é mais um acontecimento a motivar questões sobre aquela que é a mais grave tragédia nacional em mais de uma década. De dia para dia, aumenta a pressão para que surjam as respostas.
Indo ao encontro à informação avançada na segunda-feira pelo secretário de Estado da Administração Interna, António Costa publicou um despacho a pedir esclarecimentos urgentes ao IPMA, à Proteção Civil e à GNR sobre os acontecimentos do último fim de semana.
O primeiro-ministro pede esclarecimentos urgentes sobre o funcionamento da rede de SIRESP no incêndio de Pedrógão Grande e sobre os motivos da ausência de uma ordem de encerramento da estrada nacional 236-I, onde ocorreu um elevado número de mortes. O grupo parlamentar comunista questionou esta terça-feira o Governo sobre a operacionalidade das telecomunicações nas áreas afetadas por incêndios e a possibilidade de recorrer à rádio estatal para comunicar diretamente com as populações em perigo.
O PSD pediu a constituição de uma comissão técnica independente para apurar com detalhe o que se passou no incêndio que deflagrou no sábado em Pedrógão Grande e que provocou pelo menos 64 mortos. O primeiro-ministro quer saber se houve uma interrupção do funcionamento da rede SIRESP, porquê, durante quanto tempo, e que impacto teve no planeamento, comando e execução das operações.
A rede nacional de emergência e segurança terá falhado, algo que o próprio Governo reconhece. O SIRESP põe em rede polícias, serviços de Proteção Civil e de emergência médica. É uma alternativa aos telemóveis, mas depende parcialmente da rede móvel. O sistema está envolto em polémica desde que foi anunciado. Desde os mais de 500 milhões de euros que custou, até às ligações políticas desta parceria público-privada. A rede que deveria ligar todos os serviços falhou vezes sem conta em situações que não estevam previstas. Esta terça-feira soube-se ainda que o Plano de Defesa da Floresta contra Incêndios está há quatro anos sem atualização. Deveria ser avaliada a cada dois anos, mas nada foi feito. O último relatório é o de 2011/2012 e só esta terça-feira foi divulgado.
RTP
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