Comando 1 de Mação à Escuta. Transmita! - VIDA DE BOMBEIRO

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

domingo, 25 de junho de 2017

Comando 1 de Mação à Escuta. Transmita!


Nos últimos seis anos, acompanhei este homem em dezenas de saídas para incêndios florestais e testemunhei a sua capacidade de leitura dos fogos. Desde o reconhecimento dos perímetros, até à coordenação dos homens no terreno, tudo é executado como se fosse fácil. Mesmo em regiões fora do distrito de Santarém, que bem conhece, o comandante Jana, movimenta-se com uma mestria que só se pode confundir com talento.

Pedro Jana é comandante dos Bombeiros Voluntários de Mação. Entrou nesta corporação no dia 10 de Maio de 1988. Dos 45 anos de idade, 29 foram passados ao serviço destes bombeiros do centro do país.

Foi a seguir à morte do comandante Francisco José, num incêndio em Mação no dia 16 de Junho de 2000, onde também perdeu a vida o bombeiro Bruno Santos, de apenas 22 anos de idade, que Jana, na altura com a função de adjunto do comando, assumiu o lugar do comandante e amigo, Francisco. Numa altura de consternação e revolta, aceitou o cargo num tributo à amizade que nunca refere sem os olhos brilharem.

Em 2012, num grande incêndio na Urqueira, em Ourém, vi como este comandante chegou pela madrugada a um lugar desconhecido e depois de receber as instruções das autoridades no local e ter feito um rápido reconhecimento, fez-se ao caminho. Pela facilidade de orientação que lhe percebi, perguntei-lhe se já tinha estado naquela região. "Não. É a primeira vez." Passados poucos minutos, parecia que tinha nascido ali.

Se ouvir e falar para três rádios ao mesmo tempo, é difícil. Juntemos-lhe dois telemóveis, um todo-o-terreno ladeado de chamas e aquilo que já era difícil, para muitos, passa a impossível.

O comando de uma corporação de bombeiros é a linha da frente mas também é a de trás. É nunca perder de vista as pessoas; as suas pessoas e as outras, que tantas vezes acusam de lenta a sua rapidez. É abrir a janela do carro para avisar dos perigos de se estar ali. É coordenar os meios aéreos em duas línguas ao mesmo tempo. É tudo e tudo ao mesmo tempo. É não poder estar cansado 36 horas depois.

Chega a ser impressionante testemunhar a precisão com que algumas pessoas executam a sua função em cenários de catástrofe, como são quase todos os incêndios florestais. Podemos pensar na importância óbvia da formação, no treino ou na experiência. Mas o que tenho visto nos últimos anos, ao viver os bombeiros por dentro, é que o talento também importa nestas organizações; mesmo sendo uma qualidade ainda por explicar, é, sem dúvida, importante, e se nem todos podem ter talento, os que o possuem, são os tais que fazem tantas vezes a diferença quando tudo se desmorona nos teatros de operações.

Talvez não existam muitos “Pedros Janas” no nosso país. Guardemos os que temos.

SIC Noticias 

Sem comentários:

Enviar um comentário