A Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) revelou, ao final da tarde desta segunda-feira, a "fita do tempo" das ações registadas no Sistema de Apoio à Decisão Operacional (SADO) - uma espécie de "caixa negra" da Proteção Civil - durante os primeiros dias do incêndio em Pedrógão Grande.
Na lista, que o presidente da ANPC, Joaquim Leitão, enviou ao primeiro-ministro António Costa, contam-se pelo menos dez momentos graves em que as comunicações via SIRESP falharam.
A primeira falha crítica foi registada às 19.45 horas da tarde do dia 17, horas depois de ter deflagrado o incêndio em Pedrógão Grande. Três pessoas da zona do Porto telefonaram para o 112. Contaram que estavam no interior de uma casa abandonada em Casalinho, cercadas pelas chamas. "Tentámos contacto com posto de comando e com o 2º CODIS sem sucesso", ficou registado no SADO.
Cinco minutos depois, o CDOS de Coimbra informava que, em Troviscais, um pai e um filho precisavam de "ajuda urgente". Mas, mais uma vez, não foi possível contactar o comando.
Às 21.28 horas, chegou a informação de que havia uma casa a arder e uma pessoa queimada em Ramalho, Vila Facaia. Contudo, o contacto com o posto de comando falhou novamente. Sete minutos, foi feita uma nova tentativa, desta feita também para os bombeiros. Sempre sem sucesso.
Pelas 21.47, um homem de 75 anos, com problemas respiratórios, pediu ajuda. Dizia que estava em Sarzedas de Vasco numa quinta, sozinho, e que tinha a casa a arder, não tendo água. Novamente, não foi possível contactar o posto de comando.
Às 22:45, um homem pede ajuda para a mulher, que estaria refugiada no carro. A casa de ambos já tinha ardido e não foi possível contactar o comando.
Já de madrugada, pelas 1.02 horas, o CDOS de Leiria reforçava o apelo para que insistisse junto da PT a resolução das "quebras constantes da rede SIRESP" e pedia apoio para o "levantamento das vítimas mortais" que se encontravam na EN236, "impedindo a passagem dos meios de combate".
Pelas 11.10 horas do dia 18, o SIRESP voltava a não funcionar e o sistema ROB, dos bombeiros e que estava a ser usado para colmatar as falhas, começa a não funcionar também.
Às 15.05, não se conseguia contactar os comandantes de setor, apesar de terem sido "feitas várias tentativas via SIRESP" e com recurso a telemóveis. Quase uma hora depois, esta situação ainda se mantinha. Perto das 19 horas, decidiu-se procurar um novo sítio para colocar o posto de comando, "considerando que não existiam comunicações".
Pelas 21.40 horas, já nem era possível entrar em contacto com os presidentes de Câmara para serem convocados para um briefing que decorreria às 22 horas.
JN
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