Quando os Bombeiros Precisam de Ser Salvos. Há Quem os Ajude? - VIDA DE BOMBEIRO

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sábado, 8 de abril de 2017

Quando os Bombeiros Precisam de Ser Salvos. Há Quem os Ajude?


São os heróis de todos os dias, os "salvadores da pátria", mas quando precisam de ajuda ficam "completamente sós". Começa esta quarta a fase "Charlie", a época mais crítica de combate aos incêndios.

José (nome fictício) passou a noite em branco. As imagens voltavam-lhe repetidamente à cabeça, como um filme. No dia anterior tinha sido chamado para socorrer um acidente, “um acidente macabro”. Durante dias, não conseguiu dormir.

Bombeiro há quase 20 anos, José não tinha medo das chamas. Nunca o tinham incomodado. O que o impressionava eram as outras coisas, os problemas das pessoas comuns, com os quais tinha de lidar todos os dias. O trabalho que fazia como condutor de ambulâncias obrigava-o a enfrentar todo o tipo de situações, desde acidentes rodoviários a suicídios. Era isso que o perturbava.

Deixou de conseguir concentrar-se no trabalho, perdeu o apetite e começou a isolar-se. Evitava as pessoas, os problemas delas. “Tentava afastar-me o mais possível”, admitiu ao Observador. Tentou aguentar e esquecer o que se passava com ele. Até que não conseguiu mais. Aconselhado por um conhecido, acabou por procurar ajuda fora da corporação. “Não queria ir, mas teve de ser.”

Foi seguido por uma psicóloga durante um ano, e chegou mesmo a tomar medicação. Nada muito forte, conta. “Esgotei o que tinha e o que não tinha para melhorar, sem apoio de ninguém do serviço de bombeiros”, disse ao Observador. “Não é dada nenhuma importância ao aspeto psicológico. O próprio sistema não dá importância nenhuma a isso. Ficamos totalmente sós quando temos algum problema.”

Durante aquele ano, José nunca deixou de trabalhar. A situação era “insustentável, um terror”, lembra. O que o perturbava mais era o “estado das pessoas”. Parecia que não conseguia separar as coisas. “Como é que eu podia fazer aquele tipo de trabalho, se tinha problemas semelhantes?”

A médica que o seguia aconselhou-o a deixar o trabalho durante dois meses. Disse-lhe para falar com o comandante e explicar a situação. Porém, José nunca chegou a fazê-lo. Sabia que deixar de trabalhar não era uma opção, até porque os meios não o permitiriam. “Somos poucos, há falta de pessoal.” Mas o principal problema era a falta de compreensão.

“O problema é a mentalidade”, explica ao Observador. “É difícil encontrar alguém com quem falar e admitir que se tem um problema. Não é fácil. Se tentarmos desabafar com alguém, somos logo apelidados de fracos, fazem chacota. Com o passar dos anos, vamos fazendo amigos. É praticamente só com eles que falamos.”

José lembra-se de quando uma psicóloga da Proteção Civil tentou trabalhar com a corporação a que pertence. Apesar da boa vontade e do interesse da maioria dos colegas, a profissional não foi bem recebida. “Foi literalmente expulsa pelo comandante. Disse que não precisávamos de psicólogos e o serviço regional de Proteção Civil não pôde fazer nada”, conta.

Mário (nome fictício), bombeiro voluntário há dez anos, concorda com José — o principal entrave à ajuda psicológica dentro dos quartéis de bombeiros é a mentalidade. “Principalmente os mais velhos. Dizem sempre que não precisam de ajuda”, explica ao Observador. “Antigamente, toda a gente tinha de se arranjar. Não havia psicólogos para os ajudar a lidar com o stress traumático.”

Segundo Mário, o tema do acompanhamento psicológico é ainda um “tabu” para a maioria dos bombeiros, agravado pela imagem que têm de si próprios. “Os bombeiros são os salvadores da pátria, ninguém acha que precisam de apoio. Essa também é a imagem que temos de nós.” E é por parecerem indestrutíveis que nunca procuram ajuda. Até porque, “se os bombeiros precisam de ajuda, então o mundo está perdido”.

Apesar disso, acredita que faz todo o sentido haver maior apoio. “É uma questão que tem sido muito discutida, mas acaba sempre em águas de bacalhau. Ninguém dá o primeiro passo. Se alguém desse, se calhar havia mais que iam atrás.” Mário acredita que também é importante haver um equilíbrio — a iniciativa não devia partir apenas dos bombeiros, mas também dos próprios psicólogos.

“Devia haver mais iniciativa por parte deles. Há pouco tempo, participei numa atividade desenvolvida por uma psicóloga aqui no quartel. Ela era muito compreensiva, e os outros bombeiros até partilharam algumas experiências”. O mais importante, defende, é criar “um ambiente de partilha”.

Muito mais do que um problema de mentalidade

Ao contrário do que acontece na Polícia de Segurança Pública (PSP) ou na Guarda Nacional Republicana (GNR), os bombeiros não têm nenhum serviço médico próprio. São raras as corporações que dispõem de um gabinete de psicologia ou até mesmo de um médico de clínica geral. Isto significa que o acompanhamento médico é apenas feito no âmbito da Medicina do Trabalho ou através do Serviço Nacional de Saúde. Mas este nem sempre funciona.

Ao Observador, a Liga dos Bombeiros Portugueses garantiu que “os bombeiros dos quadros de comando e ativo têm direito a beneficiar de vigilância de saúde através de inspeções médico-sanitárias periódicas”. Estas inspeções deverão ser asseguradas pela Autoridade Nacional de Proteção Civil e suportadas pelo Fundo de Proteção Social do Bombeiro, “mediante protocolo a celebrar com a Liga”.

Apesar disso, as “inspeções médico-sanitárias periódicas” nem sempre acontecem. José tem dificuldades em lembrar-se da última vez que teve uma consulta. “Cheguei a ficar anos sem fazer nenhum exame, nem sequer um eletrocardiograma”, afirmou. Ao Observador, outros bombeiros contaram a mesma história. Os exames, se acontecem, são raros, e o acompanhamento psicológico é inexistente.

No que diz respeito ao SNS, as respostas nem sempre são suficientes. Isto leva a que alguns bombeiros tentem procurar ajuda fora do Serviço Nacional de Saúde. Porém, nem todos o podem fazer. Os custos elevados fazem com que as consultas privadas sejam uma despesa que nem todos os operacionais conseguem suportar.

Foi para procurar colmatar estas e muitas outras falhas que, em 2001, Bruno Brito, psicólogo e especialista em psicotraumatologia, ajudou a criar o primeiro gabinete de apoio psicológico para bombeiros, em Cacilhas.

O interesse de Bruno Brito pela psicotraumatologia surgiu quando estava ainda a terminar o curso de Psicologia Clínica, em 2000, no Instituto Superior de Psicologia Avançada (ISPA). A vontade de aprofundar conhecimentos nessa área levou-o a candidatar-se a um estágio nos Bombeiros Voluntários de Cacilhas. A resposta não poderia ter sido melhor. “Entrei em contacto com a corporação, que me acolheu bastante bem. Na altura, quem lá estava era o Comandante Mitra, que abraçou o projeto e deu todo o apoio”, contou ao Observador.

O acaso acabou por se tornar num “encontro feliz de vontades”. Na altura, “os bombeiros tinham feito várias intervenções na sequência de ameaças de antraz”, o que tinha provocado um grande desconforto no seio da corporação. “Bruno, eu não sei muito bem o que é você vem para cá fazer, mas eu até o padre já chamei e eles não ficam tranquilos”, disse-lhe na altura o comandante. “Se conseguir dar aqui um apoio enquanto nós temos de lidar com isto, por mim não me importo nada de aceitar o seu estágio.”

Apesar do entusiasmo inicial, o projeto não deixou de causar alguma resistência. Foi só ao fim de alguns meses que Bruno Brito pôde finalmente intervir. A oportunidade surgiu em março de 2012, na sequência do afogamento de uma criança na praia do Dragão Vermelho, na Costa da Caparica. “Na altura, disse ao comandante que ficaria encarregue de acompanhar a família enquanto prosseguiam as buscas. Foi um grande alívio para os bombeiros.”

Apesar de trágica, a situação acabaria por ser “emblemática”. O Comandante Mitra ainda hoje fala disso. Para Bruno Brito, seria o início de tudo.”Foi a primeira vez que houve uma ação concertada para apoiar familiares e os próprios bombeiros. Quando perceberam que era realmente uma mais-valia, já não abdicaram” desse apoio e “o projeto foi ficando”. Foi assim que foi criado o primeiro gabinete de apoio psicológico em situações de crise e Bruno Brito, sem nunca ter imaginado, acabaria por ser “o primeiro psicólogo fardado em Portugal”.

Ser um “psicólogo fardado” significava que o trabalho de Bruno Brito não terminava no quartel. Ele também era um dos bombeiros e, como tal, tinha de os acompanhar em todas as operações. E isso foi um passo importante. “Não é suficiente chegar, montar um gabinete, pôr uma placa na porta e esperar que as pessoas cheguem. O acompanhamento e a integração devem ser feitos a vários níveis, permitindo às pessoas perceber que o apoio psicológico tem uma lógica preventiva e de aumento da sua resiliência. Isto implica estar com eles em muitos momentos.”

A estrutura natural dos bombeiros, igual à de qualquer outra estrutura operacional — com os seus “ritos de iniciação, de camaradagem” –, obrigada a que o psicólogo faça também parte da corporação. “Para aceitarem qualquer elemento como um deles, precisam de saber que essa pessoa os pode acompanhar. De forma diferente, mas que os compreende”, explica o psicólogo. Para Bruno Brito, também é importante “não olhar para os bombeiros como pessoas fracas” e compreender a cultura em que estão envolvidos. “Estes são fatores essenciais para que o apoio aconteça de forma eficaz”, defende.

Em 2005, o psicólogo passou a chefia do gabinete para um colega, Jorge Silva, e começou a trabalhar com a GNR, onde montou um projeto semelhante. Ao longo dos quatro anos que passou nos Bombeiros Voluntários de Cacilhas, o especialista em traumatologia sempre procurou oferecer muito mais do que um simples apoio em situações de crise. O objetivo era prestar apoio às populações quando necessário, mas também ter “uma abordagem de psicologia aplicada ao corpo de bombeiros” — por um lado, zelar pelo bem-estar dos bombeiros e, por outro, intervir quando os acidentes aconteciam.

O gabinete criado por Bruno Brito inspirou muitos outros projetos, como os dos bombeiros da Amadora ou de Moscavide. Uns anos mais tarde, o psicólogo Rui Ângelo transformou todas essas iniciativas num projeto nacional, criando o que viriam a ser as Equipas de Apoio Psicossocial da Proteção Civil.

Uma intervenção de “dentro para dentro”

As Equipas de Apoio Psicossocial (EAPs) foram criadas em 2011 pela Autoridade Nacional da Proteção Civil. A sua principal função é prestar suporte aos bombeiros e aos seus familiares diretos no caso de um acidente potencialmente traumático, ocorrido durante o serviço operacional.

Estas equipas são constituídas exclusivamente por bombeiros voluntários, que são também psicólogos e assistentes sociais. Aliás, este é um dos requisitos das EAPs — é preciso fazer parte dos quadros ativos ou de um comando de um corpo de bombeiros para integrar uma das equipas.

As EAPs funcionam apenas em Portugal continental, mas o sistema é “igual de Faro a Bragança”. Rui Ângelo, psicólogo e coordenador destas unidades, explicou ao Observador que o trabalho das EAPs é realizado segundo dois eixos principais — um proativo e outro reativo. No proativo, a intervenção é feita com um objetivo essencialmente preventivo, isto é, procura promover a resistência psicológica do corpo de bombeiros. Já no reativo, a assistência, “com mais visibilidade”, é ativada quando acontece um acidente traumático.

A ativação das equipas deve sempre ser feita pelo comandante responsável pelas operações. Este deve contactar o respetivo Comandante Distrital (CODIS) solicitando o apoio das EAPs, que depois realizarão um levantamento das necessidades de intervenção. Os psicólogos que são enviados para o terreno nunca fazem parte da corporação que se encontra no local, de modo a “terem capacidade de atuar”.

O trabalho das equipas é sempre feito na área da psicologia de emergência, não lhes cabendo oferecer um “apoio continuado”. “Tentamos minimizar os danos do local”, mas um apoio a longo prazo tem de ser dado pelo SNS ou por outra instituição a nível local, explicou Rui Ângelo.

Apesar do trabalho de reação desenvolvido pelas equipas, a maioria dos incidentes não chegam aos ouvidos da Proteção Civil. Rui Ângelo chama-lhes os “incidentes invisíveis” porque, ao contrário dos “visíveis”, como um “acidente rodoviário do qual toda a gente tem conhecimento porque foi mediatizado”, estes só são conhecidos se forem denunciados. Estes dizem geralmente respeito a acidentes pequenos e locais que, apesar de tudo, podem afetar os operacionais no terreno. São os mais recorrentes.

Nas ilhas, a Proteção Civil funciona de forma independente. O Observador contactou os serviços regionais dos Açores e Madeira no sentido de tentar perceber quais são os apoios disponíveis. Até ao momento, ainda não obteve resposta.

Ansiedade e depressão são os principais problemas

Para Bruno Brito, prestar apoio aos bombeiros apenas em situações de crise não é suficiente. O trabalho de acompanhamento deve também ser feito “num âmbito de prevenção”, algo que sempre procurou fazer enquanto esteve à frente do gabinete de psicologia dos bombeiros de Cacilhas. “Nem todos os bombeiros têm problemas, mas isso não significa que o trabalho não os afete“, disse ao Observador.

Os problemas mais recorrentes costumam ser a ansiedade, os ataques de pânico e a depressão. Ligadas a estas patologias, costumam surgir outros problemas, como o consumo exagerado de álcool e de outras substâncias. “Não falo apenas de droga, mas também no consumo excessivo de tabaco e café. Depois vem o que está ligado a isso — a irritabilidade, o isolamento social e algumas disfuncionalidades do ponto de vista do contacto”, explicou o psicólogo. O stress traumático surge no fim da lista.

“O stress traumático nos operacionais deve andar à volta dos 20%, mas se falarmos de problemas de saúde mental relacionados com a função, a percentagem deve ser maior”, explica Bruno Brito. “Num corpo de bombeiros de 100 homens, entre 10 a 30 pessoas têm algum problema relacionado com a função que têm, o que não é tão pouco quanto isso. As questões de ansiedade são bastante recorrentes.”

O grande problema é que a maioria destas patologias não impede o operacional de continuar a trabalhar. “A pessoa tem sintomas, mas está a trabalhar e faz as suas funções.” Isto leva a que muitos bombeiros só procurem ajuda quando estão no fim da linha ou quando a situação já está bastante agravada. Ao ponto de terem de fazer uma medicação específica ou até mesmo psicoterapia. “É mesmo o último recurso, porque deixaram de funcionar”, referiu o psicólogo.

“Se tiver de chorar, choro sozinho”

Para além das EAPs, existe ainda um outro serviço de apoio psicológico que trabalha diretamente com as corporações de bombeiros — o Centro de Apoio Psicológico e Intervenção em Crise (CAPIC) do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM). Criado em 2004, o CAPIC, à semelhança das equipas da Proteção Civil, tem como objetivo prestar apoio psicológico em momentos de crise. “O CAPIC atua em situações de stress e de trauma. Acima de tudo, em incidentes onde há ferimentos de bombeiros ou, eventualmente, mortos”, explicou Mario ao Observador.

A ativação é também feita da mesma forma — pode ser feita pelo próprio INEM, que envia para o local uma equipa de psicólogos, ou através do CODIS. E este é um dos grandes problemas. A necessidade de haver uma ativação leva a que, tanto o CODIS como as EAPs, só funcionem em situações verdadeiramente graves. Mas, muitas vezes, os verdadeiros problemas surgem em incidentes pequenos e, para os quais, não existe apoio.

Mário só se lembra de ter assistido a duas intervenções levadas a cabo pelo CAPIC. Uma delas aconteceu durante um acidente de aviação, no qual “um trabalhador assistiu à morte de três colegas”. Quatro trabalhadores estavam a montar raids de proteção à beira de uma estrada quando um carro se despistou. Três deles tiveram morte imediata. O quarto trabalhador sobreviveu, porque estava dentro do camião na altura do acidente, mas assistiu a tudo. O homem, em estado de choque, precisou de apoio psicológico, que foi prestado pela equipa do INEM.

Uma outra, aconteceu durante o transporte do cadáver de um bebé de nove meses. “O CAPIC trabalha connosco quando temos de transportar um cadáver que pode consistir um risco de saúde pública ou quando a pessoa morreu em circunstâncias suspeitas, como foi o caso.”

João (nome fictício) é bombeiro voluntário há dez anos e nunca se lembra de ter trabalhado com uma equipa de apoio psicossocial. Mas também admite que nunca precisou. Tagarela por natureza, garante que nunca hesita em desabafar com os colegas. “Sempre que tenho um problema, falo sobre ele. Converso muito com os meus colegas dos bombeiros. Sou uma pessoa muito aberta”, disse ao Observador. “Falo mais facilmente com os meus colegas nos bombeiros do que com a família. Nunca levo os meus problemas para casa. Os bombeiros são o meu porto de abrigo.”

João acredita que o mais importante é manter o “bom senso” e saber recuar quando é preciso. “Se tenho uma chatice qualquer, se não estou bem psicologicamente, tento não ir. Se vou salvar alguém, tenho de estar preparado. Tenho sempre esse bom senso.”

Apesar de nunca ter precisado de ajuda, João conhece quem já tenha tido necessidade de consultar um psicólogo. No mesmo quartel, um outro bombeiro precisou de apoio depois de um incidente que envolveu uma criança. “É bombeiro há 20 anos”, com experiência, “e até já tinha andado a apanhar bocadinhos de pessoas com uma pá da linha do comboio, mas precisou de apoio psicológico”, contou ao Observador.

“As pessoas costumam dizer que os bombeiros são uns brutos, mas temos mesmo de o ser. Temos de ser frios”. Depois de um serviço complicado, João sabe que tem de “partir para outra”. “Tem de ser, porque a seguir tenho outro serviço.” Depois de fechar a porta da ambulância, sabe que precisa de esquecer. Mas nem sempre é fácil. Quando está sozinho, as imagens voltam-lhe à cabeça. Vezes e vezes sem conta. “Às vezes preciso de dar uma volta, de fumar um cigarro. Se tiver de chorar, choro sozinho.”

Apesar da facilidade com que fala das coisas, admite que “há sempre situações para as quais não se está preparado”. “Faz-me muita confusão serviços com crianças. Tento sempre evitá-los”. Mas nem sempre consegue. João lembra-se de uma situação que o marcou muito e que, até hoje, ainda não conseguiu esquecer.

“A criança tinha paralisia cerebral e a mãe, ao que parecia, era muda. Chegámos lá a casa e a mãe limitava-se a apontar para a criança. Não falava, e chegou mesmo a escrever num papel o que nos queria dizer.” João e os colegas tiveram muita dificuldade em perceber o que se passava mas, por fim, conseguiram compreender que “a mãe, para o estado normal da criança, achava que ela estava muito agitada”. A situação impressionou-o muito. “Geralmente não me deixo afetar”, mas naquela situação foi impossível. “Foi o serviço que me marcou mais.” Naquela noite, não conseguiu dormir.

João admite que o trabalho é desgastante, que “causa um stress muito grande” e que “é preciso ter uma concentração fora do normal”. Apesar disso, e de apenas exercer a profissão de oito em oito dias, o bombeiro não se imagina a fazer outra coisa. “Nasce connosco. Sempre quis ser bombeiro, desde pequeno. Os bombeiros são a minha casa.“

Fonte: Observador

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