A Associação dos Familiares das Vítimas da Tragédia de Entre-os-Rios assinala que, 16 anos depois do acidente ainda prevalece o "sentimento de injustiça" por não terem sido apuradas responsabilidades em tribunal.
"Não foram imputadas responsabilidades e a culpa foi assumida pelo Estado. Faltou um bocadinho de justiça e ficou esse sentimento de injustiça no seio dos familiares", afirmou Augusto Moreira, presidente da associação, em declarações à Lusa.
A queda da Ponte Hintze Ribeiro, no dia 04 de março de 2001, provocando a morte a 59 pessoas, deixou o país em choque e marca Castelo de Paiva 16 anos depois.
Naquele princípio de noite chuvoso, o país foi confrontado com a queda do tabuleiro da ponte centenária, arrastando para as águas do Douro um autocarro onde seguiam 53 passageiros e três automóveis com seis pessoas. Não houve sobreviventes.
"Muitos destes familiares continuam a não esquecer a tragédia e, na sequência do processo-crime que se desenvolveu, como se costuma dizer, 'a culpa morreu solteira', porque ninguém foi condenado", acrescentou o dirigente.
Mais de cinco anos depois do acidente, em outubro de 2006, o Tribunal de Castelo de Paiva determinou a absolvição de quatro engenheiros da ex-Junta Autónoma de Estradas e de outros dois de uma empresa projetista, que o Ministério Público responsabilizava pela queda daquela travessia sobre o Douro.
Os seis técnicos estavam acusados dos crimes de negligência e violação das regras técnicas, mas o tribunal entendeu que na altura das inspeções realizadas pela ex-Junta Autónoma de Estradas à ponte não havia ainda regras técnicas que enquadrassem a atuação dos peritos.
Além da questão judicial, recordou hoje o dirigente, houve outras que ficaram por resolver, nomeadamente o apoio psicossocial aos familiares das vítimas,
"Na altura, foi-nos prestado um apoio psicossocial que era prestado pelas unidades de saúde mais próximas, que ainda assim ficam a 30 quilómetros do município, e isso acabou por afastar as famílias desse apoio e o seu consequente isolamento", explicou.
Para colmatar a situação, avançou o dirigente, a associação decidiu recentemente que passará assumir o apoio psicossocial, complementando o trabalho que já está a ser desenvolvido em prol da população.
"A felicidade dos familiares passa pela nossa felicidade e a associação, ao criar estas valências sociais no seio da instituição, é já com esse propósito, prestando um serviço à comunidade", acrescentou.
No sábado, o presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa vai visitar as instalações do Centro de Acolhimento Temporário da Associação dos Familiares das Vítimas da Tragédia de Entre-os-Rios.
Ouvido pela Lusa, o presidente da Câmara de Castelo de Paiva, Gonçalo Rocha, elogia o trabalho que a associação tem desenvolvido em prol da comunidade.
"Esta instituição foi, também, um exemplo de coragem e de determinação, na medida em que ajudou muitas famílias a superar o trauma do acidente, a minimizar a dor da perda de muitas famílias que perderam entes queridos no acidente", comentou.
Apesar de "todas as vicissitudes", recordou Gonçalo Rocha, "a associação conseguiu encontrar um caminho de esperança e criar novas valências e respostas sociais, numa área tão importante como é a área social".
Fonte: Noticias ao Minuto
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