O investigador da Universidade de Coimbra Xavier Viegas criticou hoje, na Lousã, a aplicação parcial das verbas do Fundo Florestal Permanente (FFP) no pagamento de salários ao pessoal dos gabinetes técnicos florestais dos municípios.
"Uma boa parte do fundo é utilizada para suportar os salários dos técnicos desses gabinetes das câmaras municipais", disse à agência Lusa o professor catedrático Domingos Xavier Viegas.
O presidente da Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial (ADAI) falava no Laboratório de Estudos sobre Incêndios Florestais, durante uma visita de cientistas e operacionais de gestão de incêndios da África do Sul, que tiveram também a oportunidade de conhecer a Escola Nacional de Bombeiros, nos arredores da Lousã, distrito de Coimbra.
"Eu não digo que seja dinheiro mal empregue", ressalvou, para defender que uma parte do FFP "devia ser para criar condições para que as pessoas que vivem nos espaços rurais ou florestais possam lá estar com uma vida digna", o que na sua opinião não tem acontecido.
Concebido a partir de um imposto sobre os combustíveis, o Fundo Florestal Permanente foi criado em 2004 para "apoiar a gestão florestal sustentável nas suas diferentes valências", incluindo a estratégia de planeamento e gestão florestal, a viabilização de modelos sustentáveis de silvicultura e de ações de reestruturação fundiária, as ações de prevenção dos fogos florestais, a valorização e promoção das funções ecológicas, sociais e culturais dos espaços florestais, entre outras ações.
"Eu estaria mais confortável se esse dinheiro fosse usado para benefício direto de quem está a viver na floresta", sublinhou Xavier Viegas.
O Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais (CEIF) da ADAI recebe até quinta-feira, uma delegação de cientistas e operacionais sul-africanos, depois de o próprio Xavier Viegas ter visitado aquele país, em outubro.
"Os colegas vieram apresentar a Portugal a realidade sul-africana no panorama dos incêndios florestais", no âmbito de "um ambicioso plano de trabalhos" que inclui reuniões com a equipa do CEIF, visitas ao laboratório da ADAI e à Escola Nacional de Bombeiros, na Lousã, encontros com diferentes agentes do sistema nacional de defesa da floresta e um seminário, refere uma nota da ADAI.
Os visitantes, responsáveis da organização não-governamental Kishugu, vieram divulgar o programa 'Working on Fire', iniciado na Africa do Sul, atualmente implantado em países de vários continentes.
O programa visa "envolver as comunidades locais na sensibilização e prevenção dos incêndios, através da promoção de pessoas desempregadas e sem qualificações e da articulação com as diversas entidades envolvidas".
Ao todo, o 'Working on Fire' já emprega 9.000 pessoas a nível mundial, a maioria delas na África do Sul, onde constitui "um programa de desenvolvimento social" de integração de desempregados rurais no mercado de trabalho, financiado pelo governo, disse à Lusa um dirigente da Kishugu, Nico Oosthuizen.
Nos outros países onde este conceito de prevenção e combate dos fogos florestais está a ser aplicado, como o Chile ou a Austrália, "é usada a mesma técnica, mas com objetivos comerciais", com financiamento de empresas florestais privadas, adiantou Nico Oosthuizen.
Fonte: TSF
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