Só ao fim de mais de quatro horas é que vizinha foi bater à porta, dando conta do cadáver e de criança de sete anos e bebé sozinhos.
Dois irmãos, um bebé de dois anos e um rapaz de sete anos, estiveram uma tarde inteira em casa com o cadáver do pai (de um deles e padrasto de outro), acometido, ao que tudo indica, de doença súbita, enquanto a mulher trabalhava no Hospital de Braga. O mais velho ainda chegou a pedir ajuda, mas a vizinha não estava em casa.
Tudo aconteceu anteontem, num apartamento situado a poucas dezenas de metros da Polícia Judiciária de Braga, na zona de Maximinos. Depois do almoço, Carlos Travado, 44 anos, terá caído inanimado do sofá, no momento em que estaria a ver televisão com o filho e o enteado.
Glória Machado, a vizinha da frente, que foi quem primeiro encontrou o cadáver com as crianças, continua em choque. Explicou, ao JN, que só soube da tragédia quando bateu à porta da casa da família "para pedir que não atirasse mais fraldas pela janela", cerca das 18 horas. Mais de quatro horas depois. Foi quando a criança mais velha lhe disse que estava com o irmão e que "o "tio" [padrasto] estava caído no chão".
A vizinha afirma que entrou na casa com o filho, Ricardo, dando de chofre com o corpo no chão, junto ao sofá, "de punhos cerrados e olhos abertos, muito gelado: "Vi logo que estava morto".
"A grande preocupação foi, enquanto o meu filho chamava as autoridades, retirar dali os meninos, para casa da vizinha do lado. Limpámos e vestimos o mais novo, que estava seminu e enregelado, e a vizinha deu-lhe de comer", recorda Glória Machado, apesar de, antes, o irmão tê-lo coberto com uma manta e dado leite com cereais.
Maria Amélia Gonçalves, de 37 anos, mãe das crianças e companheira da vítima, afirmou ao JN "ainda não saber ao certo o que se passou" anteontem à tarde, porque estava a trabalhar (como assistente operacional no Hospital de Braga) e era habitual as crianças ficarem com o companheiro.
"O Carlos era muito saudável, mas ultimamente queixava-se de dores, só que não queria tratar-se", acrescentou a companheira, destacando que "ninguém esperaria isto, ele costumava ficar com os meninos, corria sempre tudo bem".
Tudo indica que antes de falecer, a vítima terá caído mais do que uma vez, só que não terá conseguido pedir socorro. O enteado, de sete anos, bateu à porta da vizinha da frente, que na ocasião estaria fora a festejar o aniversário.
Vítima terá caído ao chão a seguir ao almoço e não conseguiu pedir ajuda
Um médico do INEM confirmou o óbito no local, a PSP registou a ocorrência e o cadáver, transportado pelos Bombeiros Sapadores, será hoje autopsiado.
Carlos Travado, natural de Arroios, em Lisboa, chegou a ser empregado de mesa num restaurante da capital e, nessa ocasião, costumava passar os dias de folga em casa da companheira, Amélia Gonçalves. Só que há cerca de três anos ficou desempregado e radicou-se em Braga. Frequentava um curso no Centro de Formação Profissional de Mazagão, enquanto procurava trabalho.
Família: Menina com avós e rapaz institucionalizado
Dos três filhos de Maria Amélia Gonçalves, apenas o mais novo vive consigo em Braga, já que a filha mais velha, de 14 anos, está entregue aos avós maternos, em Amares. O menino de sete anos está institucionalizado e só vai a casa aos fins de semana. Por isso, anteontem, valeu ao bebé a presença do irmão para o ajudar. As dificuldades económicas da família, agravadas com o divórcio anterior da mãe, a par do desemprego da vítima, levaram a que os filhos fossem retirados de casa.
Fonte: JN
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