"São 23h de sábado e estou a trabalhar à 4. Os meus amigos e familiares estão a jantar - a conversar, a divertir-se. É o que fazem na maior parte dos fins-de-semana. Eu não. Os meus colegas também não. Nós temos de assegurar os serviços de emergência médica 24 horas por dia, 7 dias por semana, 365 dias por ano.
Trabalho como operador de emergência há cerca de 14 meses. Faço triagem telefónica e priorizo onde os recursos limitados irão (...) Como em qualquer serviço de saúde é necessário identificar e tratar as verdadeiras necessidades.Há demasiadas chamadas para tão poucas ambulâncias disponíveis.
Conseguir a morada, que é imperativo para encontrar o doente, torna-se por vezes uma tarefa quase impossível. A bebida acaba por condicionar muitas das chamadas.
Não condeno - muitas pessoas gostam de sair à noite - mas esta noite recebi uma chamada do "Steve" e não gostei do "Steve".Ele foi agressivo e ameaçou-me, mas o amigo dele não estava bem por isso tive de o convencer a colocar o amigo de lado para que o estado dele não piorasse. Ele assumiu que eu sabia onde eles estavam. Quando eu expliquei que precisava duma morada, ele deu-me o nome da discoteca onde estavam. Eu pedi a morada. Ele disse palavrões, chamou-me "filho da p***" porque eu não sabia onde ele estava.Fui treinado para não reagir e demorei 4 minutos para perceber em que cidade ficava a discoteca onde eles estavam.
Fiquei na chamada até a ambulância chegar, pois sabia que o amigo do "steve" não estava bem e queria garantir que ele ficava na posição certa para não deixar de respirar. Eventualmente a ambulância chegou e o "steve" desligou. E eu não podia ficar a pensar muito nisto porque sábados à noite há muitas chamadas e tinha de passar para a seguinte.
As horas seguintes de trabalho continuaram iguais a esta chamada. Os contactantes cada vez mais alcoolizados, de mais difícil compreensão, com menos capacidade para fornecer a morada e menos capazes de seguir instruções que podem salvar a vida aos seus amigos.
A partir das 5 da manha as chamadas começam a mudar de tom. Recebi uma chamada da "Angela" que me disse que não queria mais viver. Aos 28 anos ela diz-me que não tem nada para o que viver.É uma refugiada que vive num abrigo para mulheres após escapar duma relação abusiva.
Parte do meu trabalho é ficar com as pessoas ao telefone até que chegue a ajuda ao local. A "Angela" estava calma mas muito em baixo. Encorajei-a a falar e foi o que ela fez até à chegada da ambulância. Levaram-na para o hospital, mas não deve ter lá ficado muito tempo. Os recursos em saúde mental são escassos e normalmente estas pessoas voltam para casa com umas palavras e uns comprimidos. Muito provavelmente a "Angela" vai ligar-nos outra vez.
As melhores chamadas são sem dúvidas os trabalhos de parto, onde temos a oportunidade de ouvir o primeiro choro de um recém-nascido. É mágico! As piores chamadas são quando um bebé deixa de respirar. Já vi colegas em lágrimas a explicar a um pai como fazer manobras de reanimação no seu bebé de 6 meses. O contactante nunca se aperceberá que ele está a chorar. Somos treinados para nos mantermos calmos, mas a maior parte de nós faz o trabalho porque nos preocupamos por isso é difícil não chorar quando o ente-querido de alguém está a morrer."
Anónimo - Operador de Emergência do Reino Unido
Traduzido de "You would neer know I'm Crying after I answer your 999 call"
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