Caros amigos, muitos de vocês já sabem que neste momento estou muito grato por ainda existir...
Faz uma pessoa 5400km em Marrocos onde regras de transito são completamente inexistentes, e nem sequer um susto pequenino apanhei...
Felizmente estou bem. Para que fique tudo esclarecido pois tem havido muita "desinformação" e estou "cansado" de atender telefonemas, apesar de compreender que são amigos preocupados e que só me querem bem. Neste momento quero é paz e descanso.
Fico grato a todos os que verdadeiramente se preocuparam connosco, desde os colegas e grandes amigos que trabalham directamente connosco diariamente, ao Dr. MiguelPaiva e Enfª Sara Pereira que tiveram a preocupação de irem saber do nosso estado de saúde mal demos entrada no SU do H São Sebastião, à Dra Rosa Sousa que foi a primeira pessoa a abrir a porta da ambulância... foram gestos e atitudes que obviamente mexeram bem fundo na nossa alma!
Relativamente à mais recente reportagem da SIC aqui fica a minha resposta:
"Caros Senhores da SIC,
Num veiculo VMER (Veiculo de Emergência Médica e Reanimação) é um Enfermeiro que conduz sempre o referido veículo. Sempre!
Esse tal enfermeiro tem que passar e ser aprovado num curso de condução defensiva e de emergência.
Há situações incontroláveis e completamente inespectáveis. Este lamentável acidente foi uma dessas situações. Infelizmente existiu uma vitima mortal. Para quem a razão de existir é salvar vidas, como podem perceber, esse facto deixa-nos completamente de rastos psicologicamente.
Eu era o condutor dessa VMER envolvida neste lamentável acidente.
Numa recta de mais de 1km em que existia excelente visibilidade, circulava em marcha de emergência devidamente assinalada, pela faixa da esquerda. Subitamente um automóvel, sem que nada o fizesse prever - sem fazer pisca - atravessou-se na nossa faixa de rodagem. Sem zona de fuga para evitar o embate (existiam muros de betão em ambos os lados da via), perante a súbita manobra, foi inevitável o embate.
O Dr. Paulo Campos para mim é um verdadeiro herói.
Acreditem que nós os dois vimos mesmo a nossa existência prestes a terminar. A minha primeira preocupação, depois de ver que ainda estava vivo, foi ele. Gritei: "Paulo, estás bem?" a resposta imediata tranquilizou-me e foi como que um descanso na alma!
Não sei como iria lidar com a situação se de algum modo ele tivesse ficado com alguma lesão irreversível.
Foi um acidente completamente imprevisível e inevitável.
Depois toda a recepção no SU da Feira deixou-nos a ambos com lágrimas nos olhos! Há imensos colegas que se preocupam sinceramente com o nosso bem estar. Isso não tem preço! Ficámos emotivamente preenchidos.
O psicólogo do INEM foi ao hospital e falou connosco e foi bom sentir isso.
É engraçado ver a reportagem da SIC e ouvir populares a dizerem que os "senhores do INEM apesar de estarem feridos ainda foram socorrer a outra vitima". Ninguém do INEM disse o mesmo...
O Dr. Paulo Campos é completamente "tolo", mesmo cheio de dores continuou a trabalhar até hoje, por isso é como vos digo... um "herói". Um médico e um ser humano de excepção!
Eu não aguento as dores de pescoço! Psicologicamente estou de rastos...
Tinha que vos escrever isto. Ele não merece a cruz que carrega constantemente. Só neste país é que os heróis são olhados desta maneira...
Mesmo sabendo que isto não irá ser noticia, tinha que vos transmitir isto.
Em nome de todas as VMER deste país, acho que merecíamos mais consideração na maneira como transmitem estas notícias.
Atenciosamente,
Enfº Rui Piçarra."
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