No balanço do “deve” e “haver”, aos Bombeiros devo infinitamente mais. Mas a isso já lá vamos. Para já, mandam as regras de boa educação que toda a gente se apresente, primeiro que tudo, em qualquer circunstância da vida. Eu sou o José Bragança e fui (na verdade ainda acho que sou, pois é isso que sinto) Bombeiro em Entre-os-Rios, uma aldeiazinha duma região quase perdida no mapa de Portugal que acho que vocês deviam visitar (fica o convite).
Aos 15 de vida, eu era apenas um “puto” que sonhava ser bombeiro como o meu avô paterno foi e um outro senhor que sempre admirei (o Comandante Custódio). Por paixão inscrevi-me na minha corporação de sempre, até porque já fazia parte da Fanfarra.
Nos meus Bombeiros (e, por favor, não levem a mal que aqui os particularize) vivi momentos mágicos, apanhei sustos e dias houve em que julguei que ia desta para melhor. Os meus pais nunca encararam bem a minha “panca” pelos Bombeiros, sobretudo face aos meus problemas de coração. Mas, como excelentes pais que sempre foram (e são), deixaram-me ir. E eu fui para nunca mais voltar. Confuso? Sim, apesar do jornalismo ter vencido na altura da decisão (estudos para ser jornalista x seguir como bombeiro) nunca deixei de me sentir um de vocês. E sabem, custou-me tanto ouvir tantas e tantas vezes dizerem-me que andava nos Bombeiros só para me pagarem as propinas.
Felizmente, tive sempre bolsa de mérito e as propinas eram pagas diretamente pela faculdade. Nunca tive, por isso, necessidade de recorrer a essa ajuda (mas se tivesse, acho que não era crime). Para ser honesto, nem sei as regras para a sua atribuição (se é que ainda existe esse apoio). Daí que tenha deixado sempre as pessoas sem resposta a essa infeliz acusação. Dizia aqui há uns tempos Ferreira Fernandes, nas páginas do Diário de Notícias, que “o destino dos homens é também feito de não respostas, acasos e coincidências”. Faço aqui e agora pela primeira vez esta confissão e/ou esclarecimento: os Bombeiros foram sempre e só uma coisa do domínio do vício, da paixão e, confesso, até da vaidade de usar uma farda linda (o que seria da vida sem vaidade?).
Voltando ao tema central, eu sei que hoje é o jornalismo que me mete pão na mesa. Mas os Bombeiros ficaram sempre comigo. É verdade que eu, agora a viver no Porto, não consigo ouvir a minha sirene. É verdade que agora, aos 29 anos de vida, já não pego na roupa número 61 quando há um pedido de socorro. Sou mais um dos muitos que, pelas mais variadas razões, se viram forçados a ficar no quadro de reserva. Mas a vida é mesmo assim.
Antes da despedida, por agora, permitam-me que vos deixe uma palavra de agradecimento. Vocês são uns valentes (e aqui não estou a falar apenas dos meus de Entre-os-Rios mas de todos do meu país). Vocês são os maiores não apenas no verão mas também no inverno, no outono e na primavera. E não, não me precisam de me agradecer este genuíno e sentido agradecimento que vos faço. Nesta vida corrida e suada, vocês fazem tanto para defenderem o que de mais valioso alguém pode ter: a vida. Obrigado é pouco, muito pouco.
Nós (permitam-me o uso do tempo verbal assim) seremos sempre eternos. Nunca se esqueçam. Termino como comecei, aos Bombeiros devo infinitamente mais.
José Bragança
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