A Direção Nacional da ANBP – Associação Nacional de Bombeiros Profissionais – reuniu-se hoje, dia 12 de Agosto, com vista a fazer uma avaliação acerca dos incêndios florestais que devassam o País.
Foram ouvidos vários comandantes, chefias e bombeiros que no Continente e na Região Autónoma da Madeira ou se encontram no teatro das operações ou acompanham esta tragédia.
- Considera a ANBP que os recursos humanos (bombeiros) que nesta altura estão exaustos, cansados, representam um risco e que, esta situação, pode contribuir para uma má prestação do socorro e coloca em perigo as suas próprias vidas.
É urgente saber se o Dispositivo está preparado para efetuar rendições suficientes atendendo que até domingo a situação dos incêndios pode agravar-se.
- Considera a ANBP que a formação dos quadros superiores e intermédios (comandantes e chefias) no que respeita ao teatro de operações tem sido uma lacuna e como tal deveria ser pensada com urgência a mudança de estratégia usando equipamento sapador nomeadamente motosserra e outro material de corte no derrube de árvores, com vista a criar espaços de contenção e aí, sim, combater com mais eficácia e segurança os incêndios que devastam o nosso País.
- Acerca das declarações do ex-governante, atual Deputado Dr. Ascenso Simões, divulgadas na edição de hoje do jornal Público, a ANBP lamenta que já há dez anos esta Associação tivesse apresentado as propostas, que nunca foram aceites, mas que contribuiriam certamente para que não vivesse-mos situações de autêntica catástrofe com estamos a viver este Verão.
O mesmo se aplica ao anterior governo pela ausência de medidas que durante quatro anos não foram aplicadas.
Muitas das propostas que a ANBP apresentou ao então governo, há dez anos, e aos restantes que se seguiram, resultaram das conclusões do Grupo de Trabalho da Assembleia da República em 2015, liderado pelo então deputado Dr. Miguel Freitas (na altura, deputado do Partido Socialista) e do qual faziam parte deputados de todos os partidos com assento parlamentar, dizendo que se deveria apostar mais na profissionalização dos bombeiros, na prevenção, reorganização operacional, entre outras conclusões não menos importante.
Citamos mesmo uma passagem da entrevista que o Deputado Miguel Freitas deu à revista Alto Risco da ANBP: “Por outro lado quando falamos da questão dos comandantes, o que estamos a dizer é que é preciso uma formação harmonizada, tanto dos CADIS (Comandantes Operacionais de Agrupamento Distrital) como dos CODIS (Comandantes Operacionais Distritais). Há gente com muita experiência. Mas deve promover-se a criação de uma carreira”.
Importa referir que este ano está mais que provado - como a ANBP referiu na altura – que a decisão do ministro Miguel Macedo acabar com os Governadores Civis foi um ERRO. A ligação intermédia do representante do Governo que era o Governador Civil com as Câmaras, os Comandantes Nacional e Distritais, o acionar máquinas de arrasto ou outro material motorizado pertencente aos privados, é imprescindível a um Dispositivo para os Incêndios Florestais como os nossos.
O argumento de que não havia dinheiro e que o então Governo iria poupar continua a ser uma falsa questão, uma vez que os custos com os Governadores Civis não eram significativos e que se mantem toda a estrutura uma vez que não pode ser extinta porque para isso é necessário mudar a Constituição Portuguesa.
Aliás, a ANBP lamenta também que os sucessivos governantes tenham assobiado para o ar e em 2016 estamos a colher e a suportar os retroativos do que não foi concretizado e também de uma aposta errada tendo o combate aos incêndios florestais com suporte num “falso” voluntariado, uma vez que todos os intervenientes nos incêndios são pagos, miseravelmente diga-se, pois recebem 1,87 euros por hora.
A ANBP concorda com as declarações (a indústria dos fogos dá dinheiro a muita gente) do Secretario da Administração Interna, Dr. Jorge Gomes. Porém, isto tem vindo a ser afirmado pelo presidente da ANBP há dez anos mas, além de nada ter sido feito, ainda foi ameaçado com processos-crime.
Daí que a ANBP considere que o Ministério da Administração Interna - através da Ministra e do Secretário de Estado da Administração Interna – deve OBRIGATORIAMENTE mudar o paradigma da proteção civil e bombeiros e não comparar a reforma da proteção civil que foi feita há dez anos e que já na altura continha muitos “erros”, e nunca foram corrigidos até hoje pelos sucessivos governos, por opções políticas erradas contribuindo para o que atualmente estamos a assistir também no combate e não apenas na prevenção.
- No que respeita à Região Autónoma da Madeira, a ANBP congratula-se com a posição do Presidente do Governo Regional, Dr. Miguel Albuquerque, pelo facto de ter decidido criar um grupo de trabalho para discutir a utilização de meios aéreos na Ilha da Madeira.
A ANBP continua convicta que esses meios aéreos são essenciais e necessários e que a sua atuação, em qualquer local do País, dependem das condições que os pilotos atempadamente calculam.
Importa referir que o simples facto de haver quantidades de fumo em excesso nos incêndios que ocorrem no Continente impedem os pilotos de atuar.
A situação climatérica ou de vento tanto se aplica aos meios aéreos de combate a incêndios como aos aviões ou outras aeronaves que aterram no aeroporto do Funchal.
A ANBP lamenta, por outro lado, que se refira a situação financeira, pois essa questão nunca se deveria colocar quando se fala de salvar vidas.
E tanto mais que um meio ou meios aéreos na Madeira podem ser polivalentes, ou seja, podem intervir nos incêndios florestais, fazer emergência médica e salvamento de pessoas e animais atendendo à situação orográfica da região, assim como atuar nos acidentes que ocorrem com alguma regularidade nas falésias e nos percursos turísticos.
A ANBP decidiu reforçar o apelo à mobilização de todos os bombeiros profissionais que se disponibilizem, atendendo que na Madeira já se encontra uma equipa do Regimento de Sapadores Bombeiros, e no Continente há já muitos bombeiros municipais e sapadores no teatro de operações e que estão a ser rendidos regularmente.
Direção Nacional da ANBP, 2016.08.12
O Presidente da ANBP
Fernando Curto
Sem comentários:
Enviar um comentário