Carta Aberta ao Primeiro-Ministro de Portugal - VIDA DE BOMBEIRO

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quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Carta Aberta ao Primeiro-Ministro de Portugal


Senhor Primeiro-Ministro
Excelência

Tendo muitas dúvidas que a presente lhe chegue às mãos ou dela venha a ter mesmo que indirecto conhecimento, atrevo-me, todavia, enquanto a brisa entra e abranda a tormenta, a dirigir-lhe simples e preocupadas palavras, ditadas da espreguiçadeira em que me conforto, enquanto aguardo que o meu filho recupere do esforço do incêndio de S.P. do Sul.

Já fui confirmar que respira, e está vivo.Esgotado,como tantos mais.
Anunciou V.Exa, Sr.P.M., a abertura de um inquérito para apurar o que correu mal com o início do combate ao incêndio de S.P. do Sul.

E, já agora, permita-me V.Exa, com o que correu mal, no início, durante e depois do incêndio, para a "coisa" ficar mais completa.

Imagino que dispensará, certamente, e sem esforço, os meus tímidos conselhos. 
Mas seja criterioso, e corajoso, na escolha da entidade que vai proceder ao dito inquérito.
Não ouça só os que lhe dizem sempre o mesmo e os que lhe levam apenas o que supostamente gostará de ouvir.

Rejeite o condomínio fechado, onde os mesmos falam do mesmo para os mesmos ouvirem, os mesmos ficarem satisfeitos e serem sempre os mesmos.

A floresta está toda longe dos gabinetes, e os incêndios também.
É, então tempo, de passar da boa intenção à dura acção, da conhecida vontade à desconhecida realidade.

Que o inquérito seja rigoroso, isento, imparcial, idóneo.
A tudo e a todos.

E conduzido por entidade independente, sem qualquer tipo de interesses no sistema/sector.
Um inquérito a sério.

Um inquérito abrangente, global e conclusivo.
Que não se fique pela rama e pela calmaria.
Que apure responsabilidades e encontre responsáveis.
Que tire consequências.

Um inquérito sem consequências não tem pernas para andar.
Um inquérito assim só serve os culpados e os protegidos.
Um inquérito sem consequências, é insuficiente e está deficiente.
Que não seja mole, não tenha medo nem tenha censura.
Um inquérito às dimensões operacionais, técnicas e políticas.
Aos 3 pilares da Defesa da Floresta contra Incêndios, a prevenção estrutural, à prevenção operacional e ao combate.

Às estruturas locais, distritais, regionais e nacionais.
À manobra, ao comando, à coordenação, à formação.
Aos meios.

A todos os agentes, e não apenas à acção dos bombeiros.
Sem ninguém de fora, sem ninguém ficar impune.
Se assim for, o inquérito será um exemplo.
Caso contrário, será um simulacro, um embuste.
Só valer a pena gastar Euros com estas iniciativas se elas forem ao fundo, ao cimo e aos lados do problema.

Se o atacarem no sítio certo.
Doa a quem doer.
Não perseguindo ninguém, mas também não poupando ninguém.
E que o resultado não fique numa gaveta encravada e seja do conhecimento de todos, e não só de uns tantos letrados.

Afinal, "Portugal sem fogos depende de todos".Fogo à peça, Sr.Primeiro-Ministro.
Ontem, já era tarde.

Com ordens e prioridades claras, podemos ter resultados preliminares ainda antes do fim do Verão.
Mas não deixe que os escondam.

Temos todos que aprender com os erros, se os houve.
Assim, o exigem as cinzas dos mortos do Caramulo.
Assim, o impõe o sacrifício dos bombeiros vivos, que ainda vão acreditando.
Aqueles que nunca falam porque têm as vozes tolhidas e não têm jeito para discursos.
Aqueles que têm as mãos calcinadas pelo braseiro, que tem vidas e vai para dias.
Aqueles que já não sentem as mãos de tanto puxarem mangueira.
Aqueles.

Afectuosos cumprimentos e saudações bombeirísticas,

Rebelo Marinho
Eleitor e contribuinte

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