Carta Aberta a Sua excelĂȘncia o Sr. Presidente da Republica Portuguesa
Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa
Exmo. Sr. Presidente, depois de passada a grande euforia em torno dos feitos desportivos do nosso paĂs, quero agradecer-lhe a justa homenagem que prestou aos atletas que tantas alegrias nos tĂȘm dado.
Comovi-me a ver a receção que a seleção nacional de futebol teve apĂłs a conquista do tĂtulo europeu, conquistado em França.
As ruas cheias, para aplaudir aqueles que nos fizeram sentir, aquilo que de facto somos, um grande povo. A alegria reinante e nos fazia ter um sorriso rasgado hĂĄ quase 24 horas.
TambĂ©m vibrei com cada lance do jogo. A cada remate feito a esperança na vitĂłria aumentava, o coração palpitava a cada defesa do PatrĂcio. Tal como sempre acontece quando um PortuguĂȘs atinge o sucesso e o nosso hino Ă© cantado a minha alma enche-se de orgulho e a minha voz embarga.
Quando vejo a nossa bandeira ser içada pelas imensas conquistas que temos os meus olhos ficam encharcados.
Quando vejo os nossos atletas verem reconhecida a gratidĂŁo de um povo inteiro, quando sĂŁo recebidos pela mais alta figura do Estado PortuguĂȘs, choro.
Choro, na privacidade do meu lar, porque sempre me disseram, desde tenra idade, que um homem nĂŁo chora. Choro porque, com o passar dos anos, percebi que isso nĂŁo passava de um mito.
Choro sozinho, mas choro.
Choro quando vejo os meus bombeiros partir para um incĂȘndio e nĂŁo sei se voltam. Choro porque nĂŁo sei se estĂŁo devidamente equipados, quer de viaturas ou de equipamento de proteção individual.
O meu coração palpita quando vejo a prontidão com que os bombeiros partem em socorro de património que alguém de forma criminosa quis destruir.
Comovo-me com a forma desinteressada com que cada bombeiro socorre vĂtimas sem olhar a raça, religiĂŁo, ideologia…
Emociono-me quando dão do seu próprio bolso para ajudar a corporação da qual fazem parte.
A voz embarga quando me dirijo a uma recruta que a partir desse momento se disponibiliza a servir de forma abnegada e dedicada, que, como qualquer jovem, acredita ser capaz de mudar o mundo.
Estes, tambĂ©m sĂŁo os nossos herĂłis, os nossos campeĂ”es. CampeĂ”es sem tĂtulos, sem comendas nem homenagens. NĂŁo sĂŁo ovacionados, nem recebidos em apoteose, mas sĂŁo o maior exemplo de humanismo que uma nação pode ter. Ganham a gratidĂŁo de alguns mas nĂŁo o justo reconhecimento das suas conquistas diĂĄrias. Para eles os trofĂ©us sĂŁo as vidas que salvam, cada doente que ajudam, um metro quadrado que nĂŁo arde graças Ă sua intervenção.
Apesar disso, a cada amanha, eles lå estarão nos seus quartéis prontos para mais um dia de voluntariado em prol do outro.
Apesar disso, eles não reclamam receçÔes apoteóticas, não reclamam aplausos nem comendas. Em bom rigor nada disso os move, por isso, nada reclamam.
NĂŁo reclamam eles, mas reclamo eu. Reclamo que as poucas regalias sociais que detinham e que recentemente lhes foram retiradas lhes sejam restituĂdas e atĂ© aumentadas.
Reclamo que tenham uma redução na taxa de IMI, que sejam isentos de taxas moderadores no SNS, que beneficiem de taxas sociais no abastecimento de ĂĄgua e gĂĄs, que tenham descontos na aquisição de bilhetes em transportes pĂșblicos, que recebam uma bolsa considerĂĄvel desde que frequentem o ensino superior e com aproveitamento, que obtenham cheque-creche para os seus filhos… reclamo reconhecimento a quem merece.
Reclamo, porque eles sĂŁo os meus HERĂIS, os nossos HERĂIS e sĂŁo-no todos os dias, a todas as horas.
Nota: esta carta nunca serĂĄ enviada ao Sr. Presidente da Republica, Ă© apenas um desabafo.
Ricardo Vieira
Presidente dos Bombeiros de Vila MeĂŁ
Ricardo Vieira
Presidente dos Bombeiros de Vila MeĂŁ
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