Fora da época de incêndios, o quotidiano num quartel de bombeiros faz-se de treino, adrenalina, paixão, numa atividade que funciona como complemento dos parcos salários que muitos auferem nas suas outras profissões.
Durante 2015, os Bombeiros Voluntários de Valbom, Gondomar, fizeram mais de 300 serviços de urgência na cidade do Porto, sublinhou o presidente José Gonçalves, enaltecendo a disponibilidade dos 89 homens que tem no quartel e cuja "preparação/formação decorre nas suas horas de lazer, à noite, aos sábados e domingos".
Foi essa preparação ao longo do ano que lhes permitiu, em maio, num incêndio em Ponte de Lima, "integrar o grupo de combate que salvou dois colegas dos Voluntários de Leixões, bem como a viatura que ficara cercada pelo fogo", contou Nuno Santos, bombeiro há três anos, que participou no resgate.
E quando o tema é férias, Nuno Santos explica que é a "adrenalina" que os faz prescindir destas e ficar no quartel, vigilantes. Mas não só: "A Autoridade Nacional de Proteção Civil paga 1,87 Euro/hora pela permanência no quartel o que, aliado ao espírito de missão, os faz complementar os baixos salários que auferem nas suas outras profissões", descreveu José Gonçalves.
Num quartel onde há formados em engenharia civil, relações internacionais, recursos humanos, higiene e segurança no trabalho, comunicações e até advogados, um eventual apoio jurídico que segundo José Gonçalves "as entidades de tutela não atribuem por direito próprio, surge em apoio de quem precisa".
Os Bombeiros Sapadores de Gaia (BSG) emergem numa área que o comandante Salvador Almeida classificou como "uma bacia de riscos" e que vai do "urbano ao rural, passando pelo mar, rio, comboio e até por um canal de acesso aéreo ao aeroporto".
Com 94 bombeiros profissionais e 176 anos de existência, a corporação desenvolve regularmente várias iniciativas, refere o seu comandante, nomeadamente "treinos duas vezes por semana [às terças e quintas] a dez metros de profundidade no rio Douro, a verificação diária, entre as 08 e as 09 horas, de todos os carros ou o treino às segundas-feiras no teleférico no cais de Gaia".
"Ao princípio nunca sabemos se somos capazes [de subir a uma escada, recuperar um corpo desfeito por um comboio ou combater um fogo violento] mas temos de nos adaptar às situações, sejam elas quais forem, e a melhor forma de lutar contra uma crise é preparar tudo antes de ela surgir", explicou Álvaro Vilar, bombeiro há 16 anos e subchefe de 2ª classe
Em Melres, Gondomar, numa área rural, o transporte pré-hospitalar ocupa a maior fatia do tempo dos 40 bombeiros voluntários que, dada a proximidade do rio Douro, "treinam amiúde em três embarcações e uma mota de água o socorro a náufragos", contou Nuno Soares, há 20 anos no serviço.
Antiga operadora da central e bombeira há 16 anos, Márcia Rocha nunca se sentiu "discriminada" num quartel onde "faz tudo o que os homens fazem" e a maior dificuldade é esconder à filha de nove anos os perigos da sua profissão.
Numa corporação que tem a seu cargo uma área de 2.800 hectares de área florestal, agrícola e pouco instruída, é no reconhecimento desses locais, estradas, serras e caminhos que a corporação faz outro dos seus importantes papéis de prevenção fora do período crítico de incêndios.
Fonte: JN
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