Vítimas poderiam não ter morrido se tivessem tido tratamento atempado. Falta de equipas ao fim de semana durava há mais de um ano.
Costuma-se dizer que é preciso acontecer o mal para que as coisas mudem. Mas o Hospital de São José precisou de cinco. Cinco mortes por falta de equipas de neurocirurgia vascular para achar que era demais.
A ausência de profissionais aos fins de semana começou há mais de um ano – foi em Abril de 2014 que deixou de haver turnos de prevenção naquele hospital. O i revelou ontem que mais pessoas tinham morrido na sequência da falta de profissionais para cirurgias a aneurismas. Agora sabe-se o número certo: houve outras quatro mortes além da de David Duarte, de 29 anos, segundo fontes hospitalares citadas pelo “Expresso”. O que fez a diferença neste caso foi David ter uma família proativa e ser ainda jovem. As mesmas fontes lembram àquele jornal que a última vítima tinha, por exemplo, 60 anos e uma família que não era tão próxima.
Os problemas Como i avançou ontem, os casos eram do conhecimento de vários profissonais. As diversas situações apresentam semelhanças. E segundo fonte do Centro Hospitalar Lisboa Central disse ao i todas elas poderiam ter tido outro desfecho se tivesse havido um atendimento atempado.
Antes da vítima de 60 anos – que já faleceu este ano –, terá havido, no ano anterior, outros três pacientes que não resistiram. Só à quinta morte, a de David Duarte, é que a estrutura caiu.
Transferência confirmada O jovem deu entrada no hospital de S. José a uma sexta-feira, dia 11 de dezembro. Vinha transferido do Hospital de Santarém com um quadro de hemorragia cerebral, que lhe conferia um prognóstico reservado tendo, por isso, indicações para ser operado de urgência.
O i confirmou com fontes hospitalares de Santarém que, antes da transferência, houve um contacto prévio com São José. A médica que recebeu David em Santarém ligou para esta unidade hospitalar de Lisboa e “discutiu o quadro clínico”, ficando imediatamente definido que o jovem seguiria urgência para o hospital da capital. No caminho, como faz parte do protocolo, o INEM reconfirma com São José a transferência. É dada nova luz verde “pelo neurocirurgião de serviço na unidade que nos foi indicada como de referência”, garante ao i fonte do INEM. Já em São José, uma avaliação mais profunda revela um diagnóstico de “aneurisma roto” e estipula-se que o passo seguinte seria a intervenção médica. As diretivas internacionais recomendam uma intervenção nas primeiras 24 horas após o rompimento da artéria.
É nas primeiras horas que começam os problemas: na sexta-feira, havia até um neurocirugião de escala habituado a estas intervenções, “altamente complexas”. Mas não havia enfermeiros. Surgem, então, duas hipóteses: procurar outro hospital que o recebesse ou aguardar que as equipas voltassem de fim de semana. O Hospital de Santa Maria chegou a ser contactado para receber o paciente, mas o problema mantinha-se. Não havia equipas a trabalhar em regime extraordinário, ou seja, ao fim-de-semana. Fonte médica assegura que seria possível, na sexta-feira, deslocar o paciente, logo a questão de agravamento de estado não se punha. O Hospital de S. José toma, então, a decisão de esperar. David Duarte perdeu a vida na madrugada de 13 para 14 de dezembro. Esperou quase 60 horas por uma cirurgia.
Demissão em bloco O presidente da Administração Regional da Saúde, Luís Cunha Ribeiro, o presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar de Lisboa Norte (no qual se inclui o hospital de Santa Maria), Carlos Neves Martins e presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar de Lisboa Central (de que faz parte São José), Teresa Sustelo demitiram-se no início da semana. “Foi autorizado que passe a haver resposta para situações deste género.
Doentes em situações semelhantes não terão o mesmo destino daquele que ocorreu há uma semana”, disse o demissionário presidente da ARS Lisboa e Vale do Tejo numa conferência sem direito as perguntas.
Na quarta-feira, o PCP chamou o ministro da Saúde Adalberto Campos Fernandes a audiência urgente, assim como os três responsáveis que se demitiram. Os comunistas querem um esclarecimento do caso perante os deputados da Comissão da Saúde. Para além disso, exigiem um ao ministro um rápido levantamento dos efeitos que os cortes orçamentais provocaram no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Fonte: SOL
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