Opinião: A Velocidade Furiosa dos Incêndios - VIDA DE BOMBEIRO

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quarta-feira, 10 de junho de 2015

Opinião: A Velocidade Furiosa dos Incêndios


No ano anterior “quase que me bateram” quando nomeie o São Pedro como Bombeiro do Ano 2014.
Todos sabemos que foi uma forma metafórica de dizer que o clima teve um papel fundamental na importância no desenrolar dos incêndios florestais em 2014. Foi um ano em que o clima permitiu registar uma aérea ardida drasticamente inferior comparativamente aos últimos 30 anos.
Na minha opinião é falta de humildade não reconhecer que o clima foi fundamental para o sucesso do dispositivo no ano anterior, há sem dúvida nenhuma uma vontade clara de aproveitamento político da situação, mas se dúvidas havia estes 3 dias de “amostra de verão” refletiram a influência da meteorologia nos incêndios, não esquecendo claro toda a atividade criminal envolvida.
No ano passado foi assim, nos poucos dias de maiores temperaturas, Pampilhosa da Serra e a Serra da Estrela estiveram a braços com incêndios complicados, o “São Pedro” estava distraído ou meteu folga.
É certo que os Bombeiros e todo o dispositivo estiveram empenhados e aplicados e isso transforma-se em bons resultados, mas não é menos verdade que nos anos anteriores também tiveram – com o custo da própria vida – e nem por isso houve menos incêndios em 2013 e o mesmo se tornou no ano terrível que todos assistimos.
A conclusão a que vos quero levar, que não é só minha (há uma cada vez maior opinião geral acerca deste assunto) é que não pode haver uma data anunciada para a estreia dos incêndios.
Preparar o dispositivo para iniciar a 15 de Maio é a mesma coisa que estarmos todos em casa à espera que estreie um filme no cinema, quase como esta loucura agora em ver a estreia do filme Velocidade Furiosa mas neste caso a única coisa com “velocidade furiosa” foi mesmo os incêndios que estrearam mais de um mês antes da data prevista.
Ora visto por esta perspetiva das duas uma: ou roubaram o filme dos incêndios e já dá para “sacar da internet” ou então isto é uma antestreia e não fomos avisados, demos por ela quando o filme já rolava na tela e estávamos à espera de ver apenas a primavera a florir.
É um facto também que mais 80 milhões de euros no combate refletem que nada se fez na prevenção, nada se aprendeu em relação a 2013 nesse campo, as matas continuam por limpar – as autoridades fiscalizam e multam mas isso pouco se reflete na limpeza das florestas – a FEB, os GIPS e os Sapadores Florestais não registaram nenhum aumento significativo de efetivos e no caso dos GIPS, fora das fases Bravo, Charlie e Delta raramente os veem num ataque inicial (não quero dizer com isto que não trabalham ou não colaboram, nada disso!).
Resumindo: importa repensar se vale a pena manter estas datas, repensar o dispositivo não para uma determinada data ou época mas para o ano inteiro, importa cada vez mais investir na prevenção, no ordenamento, na correta reflorestação, no investimento na FEB (levando os mesmos a cobrir todo o território nacional) e não deixar cair o projeto Equipa de Intervenção Permanente (EIP) na gaveta. O dispositivo de 80 milhões pode e deve ser pensado num dispositivo para todas as situações de socorro, o ano inteiro, baseado nas EIP com capacidade de responder a todas as situações de emergência, musculando o ataque inicial mesmo fora da famosa “época dos incêndios”.
A ausência destes 5 homens em todos os corpos de Bombeiros é uma “brutal” diferença.
O Socorro não pode hoje – nem no futuro – estar assente na base do voluntariado e do toque de sirene. As EIP é um projeto que deve manter-se, ajustar-se e multiplicar-se.
O Socorro não compadece com esperas desnecessárias e/ou com pessoas que têm outras ocupações profissionais.
Os Bombeiros Voluntários, a sua massa, número e musculatura precisa também de resposta ao minuto, o ano inteiro, treinada e capaz e parece-me, pelo que vou observando por todo o território nacional, a EIP é uma das respostas o contínuo investimento na FEB uma necessidade.
Os GIPS, como diria o comandante da GNR anterior, precisam de ser reintegrados nos postos da GNR onde fazem falta,
Portugal não é um país de ricos com duas forças de elite para o mesmo serviço.
Ricardo Correia
Diretor do Portal BPS