No entardecer escuro e fresco do dia 24 de Outubro, o céu como que se rasgou, fez-se um clarão e uma luz branca, mais brilhante que o sol, iluminou todos e trouxe esperança a rodos.
Não era a reedição das aparições de Fátima, nem nada que se parecesse, não havia azinheiras e não se viam pastorinhos por perto.
De um momento para o outro, do Governo vieram as vontades e os propósitos, as garantias e as soluções, o fim dos problemas e o início de uma nova era, os tempos de dor para trás, parecia um milagre, e dos verdadeiros, dos autênticos.
Pela boca do Secretário de Estado, veio a boa nova, anunciaram-se bem-aventuranças , tempos de prosperidade e de abastança, anúncios que só não foram levados a sério pelo desconto que sempre se dá à irrequietude dos jovens e à utopia que inocentemente os acompanha.
Com um discurso “fidelista”, por ele se ficou saber que os grandes anseios dos bombeiros tinham solução breve e rápida, por isso foi adulado e incensado até ao exagero dos adjectivos.
A proposta de lei com o modelo de financiamento estaria pronta para apresentar à Assembleia da República até 31 de Dezembro e já tudo acertado com os parceiros, isso era tudo o que os bombeiros queriam ouvir, mas afinal veio a ver-se não era bem assim, a ANMP pôs-se de fora, não embarcou na carruagem que lhe puseram à frente e tudo marcou passo.
Soube-se ontem que só agora, em Maio, o Governo aprovou a proposta prometida, que ainda há-de ir à AR, para discussão e votação, se ainda houver agenda nesta última sessão legislativa da legislatura, que termina em Julho, daqui a 2 meses e meio.
Vai passar-se seguramente todo o ano de 2015 sem que haja modelo de financiamento, modelo que virá sempre coxo e manco porque não conta com a participação da dimensão municipal, nuclear em tudo o que tem a ver com a protecção civil.
Hoje, e à distância de 6 meses, cabe afinal perguntar, quem mandou o Governo anunciar como certo o que nem sequer estava discutido e quem mandou o governante dar garantias do que não tinha a certeza?
Com o texto ainda desconhecido, espera-se agora que a proposta aprovada pelo Governo corresponda ao que foi anunciado e garantido em Coimbra há meio ano atrás.
Incorporando, nomeadamente, a participação financeira da sociedade civil, através de empresas de média e grande dimensão, empresas de celulose, de telecomunicações, indústrias SEVESO, concessionárias, REFER, EDP, REN, Instituto de Seguros e outros, a adopção de critérios da tipificação, do risco e do desempenho e, por fim, a certeza, a previsibilidade e a regularidade dos valores de financiamento.
Como os pastorinhos de Fátima, também os bombeiros, acreditaram em milagres.
Em 1917, ao milagre das aparições, em 2014, ao milagre das multiplicações.
Estamos perto de saber se eles se realizam ou se é melhor desistir da fé.
Publicada por Zingarelho Rm
