«Era importante dar incentivos aos jovens para aderirem aos bombeiros»
“Aqui aprende-se muita coisa. A minha satisfação como bombeiro é sentir que ajudo alguém, que salvo alguma coisa, e no final, nós, não precisamos de agradecimentos, o que precisamos é de uma palavra certa, no momento certo”, comenta Domingos Coelho, Oficial Bombeiro Superior.
O mais antigo bombeiro voluntário do Corpo de Salvação Pública e profissional nos Bombeiros da TAP – “a minha vida é ser bombeiro duas vezes todos os dias”.
Domingos Coelho, nasceu em Serpa, em 27 de Março de 1959, até aos 11 anos viveu em Pias, terra onde descobriu amizades e o sentido da resistência por uma vida melhor.
“A falta de emprego, e por quererem uma vida diferente para os filhos, em 1970, os meus pais vieram viver para o Barreiro. Foi quando aqui cheguei. Fiquei a viver na Quinta da Lomba.”, recorda.
Estudou na Escola Industrial Alfredo da Silva, no curso de Mecânica.
Vivi intensamente o 25 de Abril
Foi aí, que recebeu o 25 de Abril – “Eu já estava habituado a viver com um sentido de classe. Em Pias vivia-se muito esse sentimento. Eu não sabia bem o que era, mas sentia, por isso vivi intensamente o 25 de Abril, como toda a gente”, sublinha.
“É pena que isto tenha ido por outros caminhos”, acrescenta.
Minha vida é ser bombeiro duas vezes todos os dias
Como foi a descoberta do mundo dos bombeiros? – perguntámos.
“Eu tinha familiares que eram bombeiros. E sempre tive a vontade de ser bombeiro.
Aos 17 anos, no ano de 1977, decidi entrar e dirigi-me ao quartel do Corpo de Salvação Pública, na Rua Almirante Reis.
Ali, conheci a minha mulher, que é filha de bombeiro. Isto caba por ser uma família”, refere.
Fez a sua carreira de bombeiro de aspirante até aos dias de hoje como Oficial Bombeiro Superior.
Foi 2º Comandante, Adjunto de Comando e durante cinco anos Comandante do Corpo de Salvação Pública.
“Deixei o comando por motivos profissionais. Não conseguia conciliar. Sou Bombeiro Profissional no Corpo de Bombeiro da TAP. E, aqui, sou bombeiro voluntário.
Costumo dizer que na minha vida sou duas vezes bombeiro, a minha vida é ser bombeiro duas vezes todos os dias”, refere com um sorriso.
Dias difíceis que marcam a memória
Na sua carreira, refere um dia marcante, quando ocorreu um acidente rodoviário, na zona de Coina.
“Não tínhamos os meios que temos hoje. Estavam no carro quatro pessoas. Três sem vida. Uma estava viva, mas era a que estava em piores condições para ser retirada. Foi um acidente que não esqueço”.
Por outro lado, recorda os dias de combate a incêndios florestais, na zona do Zêzere – “era imenso o cansaço, hora e horas de combate ao fogo, sem as elementares condições de higiene e falta de comida, estar por ali uma semana ou duas naquela situação, era muito difícil”.
Formar bombeiros o que mais me satisfaz
“Dar formação aos mais novos, formar bombeiros, tem sido o que mais me satisfaz na minha vida de bombeiro.
Acho isso muito importante, transmitir conhecimentos, para que se mantenha esta cadeia e a actividade dos bombeiros.
Sabe, cada vez é mais difícil atrair pessoas para os bombeiros”, salienta Domingos Coelho.
Sublinha a importância do seu trabalho de formador na Escola Nacional de Bombeiros, quer ao nível da formação em geral, quer na especialidade de salvamento e desencarceramento.
Criação de um corpo profissional municipalizado
Que pensa de uma eventual junção entre as duas corporações de bombeiros do concelho do Barreiro?
“Acho que todos já pensámos sobre isso, mas não é fácil.
São duas associações, com duas histórias. É como falar da fusão do Barreirense com a CUF ou com o Luso.
Não é fácil chegar a consensos. Optar pela junção tem que ser bem pensado. Podia haver coisas boas. Mas, como está, penso que há espaço para as duas associações viverem.
O ideal seria a municipalização, ou a criação de um corpo profissional municipalizado, apoiado pelas duas associações de voluntários.
Mas, o custo que isso iria implicar para o município, acho que não seria muito fácil.”
Incentivar os jovens para bombeiros voluntários
“O meu apelo é incentivar os jovens que venham para bombeiros voluntários. Era importante dar incentivos aos jovens para aderirem.
Aqui, eles apercebiam-se que a formação que recebem ser-lhes-ia útil para a vida ou até para as vivências nas suas empresas”, sublinha.
Refere que sempre que há um novo bombeiro, essa é uma dificuldade, porque o equipamento individual é muito caro – “nestes casos devia existir apoio das entidades”.
Uma palavra certa, no momento certo
Domingos Coelho, fala da sua actividade de bombeiro, como um espelho da sua vida.
“Foi esta casa que me viu crescer. Aqui me tornei homem. Os conhecimentos que ganhei permitiram-me construir a minha vida.
Aqui aprende-se muita coisa. A minha satisfação como bombeiro é sentir que ajudo alguém, que salvo alguma coisa, e no final, nós, não precisamos de agradecimentos, o que precisamos é de uma palavra certa, no momento certo”, comenta.
Fonte: Rostos.pt