À senhora ministra da Agricultura, uma sugestão para diminuir ou acabar com o brutal e empobrecedor, flagelo dos incêndios florestais. Dados os resultados anteriores, não é necessário consultar um cartomante, um bruxo, um astrólogo, um mago da adivinhação para ficar a saber como se irá desenvolver a tragédia dos fogos em 2015.
Nos dias de maior calor e de vento mais forte e mais favorável à ação incendiária, as furtivas e débeis chispas incendiárias aparecem misteriosamente nos locais mais inacessíveis, mais remotos, mais astuciosamente destrutivos, mais distantes das vistas, de dia ou de noite, as quais, lançadas em mato ressequido, transformar-se-ão em indomáveis incêndios. Mobilizam-se, então, centenas de bombeiros e dezenas de viaturas e, se as condições de voo o permitirem, aparecem igualmente os costumeiros e folclóricos meios aéreos, a última e mais forte esperança da extinção dos fogos.
Mas a desgraça já está imparável: Já há centenas, milhares de hectares de floresta a serem impiedosamente consumidos pelas altaneiras chamas que os baldes de água lançados do ar mal borrifam. Já há terreno agrícola destruído, já há pessoas mais empobrecidas e, também assim, o País. Já há muita vida morta, vegetal e animal, e, frequentemente, camponeses e até bombeiros. Já há mega quantidades de energia calorífica totalmente desperdiçadas, já há toneladas de oxigénio consumidas nas chamas, que a morte da floresta dificulta refazer. Já há quantidades incomensuráveis de cinza que irão afetar os lençóis freáticos, já há rios de água doce, imprescindível à vida, despejados no fogo. E, em regra, este só se extingue quando, depois de arder tudo, nada mais há para arder.
É assim que tem vindo a acontecer, é assim que garantidamente acontecerá no ano em curso se o modelo se mantiver, e é assim que invariavelmente acontecerá no futuro, só parando quando o País não tiver mais nada para queimar. É maldição, é fatalismo que que não podemos superar? Será isso, se o humano continuar a idolatrar o laxismo e deixar de pensar e de querer. Como se sabe, para que haja fogo são necessários três elementos, só três: combustível, chispa incendiária e oxigénio. Basta que se elimine um deles, um só, para que o fogo seja impossível. No caso, não é possível eliminar o oxigénio, já que os fogos acontecem a céu aberto; será difícil eliminar a chispa incendiária, dada a degradação social em que se caiu. Resta-nos, assim, o combustível que é, fundamentalmente, o matagal que se cria na floresta e na terra abandonada.
Para o eliminar, o processo que parece mais simples é o do arroteio. Para tanto, seriam necessárias ferramentas adequadas e mão-de-obra simples, possivelmente adquirida entre os subsidiados, que deixariam de o ser pelo tempo da desmatação, e teriam um salário melhorado relativamente ao subsídio. No fundo, o aumento de encargo seria pequeno: diferença entra o salário instituído e o cancelamento do subsídio.
As vantagens seriam imensas: significativa redução real do desemprego, orgulho de granjear o sustento pelo trabalho, retirar aos incendiários a sua mais dócil e eficiente aliada na criminosa eclosão dos fogos; evitar que se lancem desperdiçadamente fora quantidades imensas de energia, resultantes da combustão desses matos, possibilidade de criação de uma indústria para o seu tratamento - seja para a produção de energia ou outros fins -. evitar que as florestas sejam anualmente pasto das chamas.
Sem dúvida que este novo modelo, que poderia envolver o Estado e proprietários, traria custos, mas certamente não maiores que aqueles que hoje existem, e que em 2012 foram, para o Estado na ordem dos 74 milhões de euros (mais 10,3% que em 2011) e que atualmente serão bem mais elevados. A verba é totalmente falsa por não adicionar as culturas, os animais mortos, as pessoas mortas, entre as quais bombeiros, ou fortemente incapacitadas, a floresta incinerada, a água gasta, a poluição de lençóis freáticos, as viaturas de bombeiros e outras incendiadas.
O modelo em uso é esbanjador de meios financeiros, e mais não faz que espalhar anualmente a dor, os lamentos, a tristeza, o luto, as lágrimas e mais miséria no infelicitado povo. Não há mérito em correr afanosamente atrás dos fogos para os apagar, o que muito raramente acontece. Mérito, e muito real, é evitar que eles sucedam. É o que a sabedoria do povo há muito reconheceu: prevenir em vez de remediar.
Quando haverá coragem e desejo de por um fim ao incêndio da nossa floresta?
É isto que eu e o povo que é comigo suplicamos!
Fonte: DN
