É tudo virtualmente real. Não é o fim da formação prática mas antes uma nova era na formação em matéria de gestão de operações. O novo Centro de Simulação e Realidade Virtual (CSRV) da Escola Nacional de Bombeiros (ENB) permite recriar uma multiplicidade de cenários de proteção civil. O ambiente virtual do simulador permite treinar e testar a tomada de decisão, detetar decisões erradas e aprender com elas. No dia em que o ‘BP’ foi à Escola, os formandos enfrentavam um “acidentes de viação multi vítimas.”
Cinco cabines, um posto de comando com as diferentes valências definidas no Sistema de Gestão de Operações, e ainda duas salas de simulação virtual. Estas são as infraestruturas que replicam o posto de comando de uma operação e onde os formandos estão sujeitos a várias experiências ao enfrentarem cenários de fogo urbano, industrial, acidentes com matérias perigosas, acidentes multi vítimas, quedas de aeronaves e acidentes ferroviários, entre outros.
Todos os cenários de proteção civil estão representados nesta nova ferramenta pedagógica da ENB, que tem por base situações já vivenciadas pelos bombeiros em teatros de operação reais. Nada é inventado e o que se pretende é testar conhecimento e pôr à prova capacidade de resposta dos operacionais.
Entramos na zona de formação e somos transportados para o mundo dos jogos de computador: “Aqui são organizados os exercícios de posto de comando e as cabines representam os diferentes sectores de um teatro de operações”, explica-nos Paulo Rocha um dos formadores da equipa da ENB que ajudou a dar corpo a este projeto. Mas afinal o que muda? Paulo Rocha explica: “Até agora as ocorrências eram simuladas mas, os bombeiros não conseguiam ver o que se passava no posto de comando e nos outros sectores.
Tal como em qualquer operação, o posto de comando não tem uma total do tetro de operações (TO). Com esta nova ferramenta, o posto de comando pode ser visualizado a partir de todos os setores que compõem um TO. Há uma sala de controlo onde se acompanha o que os formandos vão fazendo e através do sistema conseguimos interagir com eles. Através do sistema de gravação áudio e vídeo, conseguimos ouvir o que dizem, podemos introduzir diferentes variáveis e acompanhar quais as soluções que adotam”, acrescenta.
Entramos na sala onde está instalado o posto de comando. Daqui pedem-se pontos de situação. Numa sala à parte, o formador vai introduzindo variáveis e se a atuação for correta o cenário resolve-se. Caso contrário, os efeitos são visíveis em todo o sistema e o cenário regride até ser introduzida nova solução para a chave do sucesso.
Pedimos o ponto de situação a João Loureio, o comandante dos Bombeiros Voluntários de Cascais, também ele em formação. “O cenário é um choque em cadeia na A9. Estão envolvidos um veículo pesado e 10 ligeiros. Resultaram 48 vítimas e estamos a montar um Posto Médico Avançado para se proceder à triagem correta”, conta ao ‘BP’ o COS desta operação para quem esta experiência devia chegar “a todos os bombeiros”. O que o comandante não sabe certamente é que basta que a triagem a uma das vítimas seja mal feita para pôr em causa toda a operação, pois é assim que o sistema funciona.
Pedro Cunha é outro dos formadores envolvidos neste projeto. A equipa da Escola está “motivada”, “orgulhosa” e tudo faz para que os conhecimentos deste sistema passem para o exterior em nome da qualidade do serviço prestados pelos bombeiros portugueses.
Este sistema existe em 30 países mas, o que está instalado em Sintra é um dos melhores que há no mundo, refere com orgulho”, Pedro Cunha.
“Aqui estão oito alunos em simultâneo mas o sistema é infinito. Basta que os computadores tenham o software e que estejam ligados á rede para podermos multiplicar este modelo”, explica lembrando que até agora trabalhava-se em coordenadas sobre cartas cartográficas, o resto ficava à imaginação. “Agora, a imaginação é o limite mas são os monitores que ditam o caminho”.
Entramos numa das duas cabines de imersão. Imersão porque são espaços isolados do exterior. Um ambiente escuro, onde se gere o cenário num monitor grande e onde o formando é ‘transportado’ para o TO através dos sons emitidos por um sistema de alta definição.
Cada cenário é criado pelos formadores da ENB e dá “muito trabalho”. São dias e dias ‘ligados’ ao computador para que tudo faça sentido, referem.
José Ferreira, o presidente da Escola Nacional de Bombeiros assume que “não existem muitos cenários de grandes incêndios” e é por isso que a instituição que dirige está envolvida num projeto europeu chamado IGNIS. Neste projeto, que envolve as congéneres de França, Itália e Inglaterra, e que tem quatro áreas, Portugal candidata-se a desenvolver grandes cenários de incêndios florestais. “O projeto que deverá ter luz verde em outubro, e que tem uma duração de dois anos, permitirá, caso seja aprovado, que a Escola possa ficar com um simulador portátil para formação descentralizada”, sublinha confiante José Ferreira.
Este novo Centro Virtual está preparado para receber várias entidades externas. Ali podem ser testados plano municipais emergência e até pode ser utilizado pelas forças de segurança para exercitar alterações de ordem pública, cenários de explosivos, entre outros.
“Não estamos a falar apenas de formação mas também de exercícios de diferentes escalas e com a participação de diferentes entidades. Este centro tem a aspiração de se posicionar como um centro de planeamento, condução e avaliação de exercícios de diferente natureza, finalidade e âmbito territorial. Poderemos assim desenvolver exercícios TTX, CPX e LIVEX”, refere a ENB.
Voltamos ao posto de comando onde agora assume as operações, Pedro Jana, o comandante dos voluntários de Mação. Habituado a dias difíceis durante o verão, o responsável sabe bem a responsabilidade de um COS. “Serei responsável por tudo o que correr bem e pelo que correr mal”, sublinhando entre sorrisos. “Todos os elementos de comando deviam passar por aqui. Acho mesmo que o grau de dificuldade devia subir”, refere ao ‘BP’.
Fonte: Jornal LBP