Há momentos que justificam prescindirmos da profundidade de análise para darmos lugar à urgência. E é de urgência que se trata quando olhamos a expressão de violência que está a marcar a sociedade portuguesa e, por arrasto, marca a atualidade noticiosa.
São crimes familiares impensáveis, tradicionais rixas entre vizinhos em versão sanguinolenta hardcore ou agressões físicas entre namorados adolescentes que registam uma escalada nas estatísticas. Há quem diga que criámos uma sociedade mais nervosa, mais intolerante, mais propícia à violência. E também quem faça crer que a principal diferença é que hoje se fala mais sobre este tema. Que não existe a vergonha de apresentar queixa ou que se produzem mais notícias, que circulam de forma mais rápida e difusa.
Seja como for, a violência parece hoje mais latente, enraizada e distribuída no País do século XXI. Não extirpámos a irracionalidade e o absurdo da agressão e do desrespeito pelo próximo. Numa sociedade cultural e tecnologicamente evoluída, pensávamos que este seria um veneno com prazo de validade. Que o incremento educativo resolveria, pelo menos em parte, o problema. Não tem sido assim. A educação, tal como o emprego, têm o seu papel, seguramente, mas é preciso cavar as causas mais profundas e descobrir bons remédios para travar este filme de terror a que temos assistido. Mudo de agulha para testemunhar o bom exemplo que ontem Governo e o Município de Viseu deram para resolver um problema concreto de uma comunidade escolar de mil alunos. Mesmo sem fundos comunitários, dispensando luxos e mordomias sumptuárias, a Câmara Municipal de Viseu e o Ministério da Educação garantiram juntos a requalificação do pavilhão desportivo da Escola Viriato.
O seu estado de degradação e a presença de amianto na cobertura justificam a obra, que arranca já no mês de maio. Este exemplo deve servir de inspiração ao milionário PORTUGAL 2020 e ao quase secreto "mapeamento" dos seus investimentos. Como? Sinalizando na proximidade local o que falta de facto fazer, pondo de lado megalomanias centralistas do passado e intervindo sem inúteis embaraços administrativos. O país real saía a ganhar!
Almeida Henriques in Correio da Manhã
