Ao fim de 30 anos ligado a este sistema, após ter visto o que éramos e como crescemos no pré-hospitalar hoje fico na duvida se valeu a pena.
Quando começaram a surgir as primeiras ambulâncias o conceito era transportar o mais depressa possível para o hospital uma vez que era ali que estava a solução, este conceito começa a ter algumas mudanças quando um grande homem, o Dr. Rocha da Silva, implementa o primeiro sistema de ambulâncias designado por serviço Nacional de Ambulância (SNA), introduzindo então o conceito que a ambulância não servia somente para transportar, mas que alguns cuidados aos doentes eram necessários ser prestando no local e durante esse transporte, assim consta “veículos equipados com maca, talas e oxigénio”, apesar de estar interiorizado na população o conceito antigo, incluindo nos próprios prestadores deste serviço que a data era a GNR, PSP e Bombeiros posteriormente, alguma coisa foi mudando, por força de alguma formação que foi sendo feita pela CVP.
Bem ou mal, havia alguma coisa, a partir do conceito que existia uma ambulância disponível, apesar de estarem colocadas a uma distância aproximada de 30 Km uma das outras, que já por si era uma melhoria uma vez que esta era uma rede publica e não estava dependente da vontade e da disponibilidade de alguns.
Este conceito de serviço publico muda quando, quer pela sua distribuição geográfica quer pelos princípios que estavam subjacentes a sua existência, os Corpos de Bombeiros assumem praticamente esta rede, o que permitiu uma melhor distribuição de recursos, reforçado pelas ambulâncias que já existiam, um pouco semelhante ao que ocorre hoje, não fosse a diferença é que nesta época os princípios éticos dos dirigentes dos corpos de bombeiros era realmente a existência de um serviço público que garantisse minimamente o socorro e a segurança das populações, pilares fundamentais da existência dos Corpos de Bombeiros.
Hoje infelizmente não é o sistema que temos, o que até aqui era um principio fundamental de serviço publico é hoje um negócio, em todas as vertentes, em que a existência de ambulâncias não tem como principio o socorrer, mas sim a maximização da facturação, isto em resultado de uma classe dirigente que assaltou estas instituições não para servir mas sim para serem servidos, nem que seja pela obtenção de protagonismo, ou mesmo alcançar alguns lugares de interesse.
Mas caros não pensem que este fenómeno do dirigente é exclusivo das AHBV, é genérico, incluindo nos organismos públicos , alias alguns tiveram como rampa de lançamento estas AHBV, este facto agravado pela sua incapacidade de gestão desconexa dos princípios que estão subjacentes a existências das instituições que dirigem.
Mas o sistema melhorou? Bom esta é uma pergunta que facilmente respondemos, “Claro que sim”, mas outra pergunta mais incomoda que ninguém quer responder é “para o que ele custa actualmente ao contribuinte responde as necessidades da população?” a resposta é claramente um Não, senão vejamos:
• Cada vez existem mais limitações no acesso ao socorro, uma vez que este na generalidade está assente na boa vontade de alguns e da sua disponibilidade;
• As ambulâncias que deviam estar afectas ao socorro, estão na generalidade dos casos afectas ao ”negócio” do transporte de doentes, ocupando profissionais que em alguns casos pagos pelo erário publico através dos financiamentos principalmente camarários;
• A generalidade da legislação referente ao transporte de doentes não é cumprida, a luz dos olhares das autoridades e beneficiando da sua inercia, ou poderá dizer-se impedidos de agir pelos seus próprios dirigentes;
• Ausência de responsabilização que que dirige e de quem tem o dever de agir;
• Desvalorização dos conteúdos científicos da formação, que justificar a penetração no sistema de outros profissionais pagos a peso de ouro, bem como se cria o facilitismo numa clara politica de números.
A pergunta que fica é “então o doente e ou o sinistrado onde fica?”, esses são o menos importante do sistema, uma vez que vivem num sistema de roleta russa, ora aqui posso ficar doente ora ali não.. o que é demostrativo daquilo que realmente temos, mas o que mudou então desde o inicio do sistema? Bom, é que no seu início ninguém era enganado, a Ambulância servia unicamente para carregar o doente até ao hospital, agora o que temos é um falso sentimento de segurança, ou seja, acreditasse que se tem um socorro a altura, mas o que é verdade é que este não está disponível para todos, podemos ter a sorte de o ter ou não ter mesmo.
Mas então o que é preciso fazer para isto mudar… Bom, falta de dinheiro é que não é o problema, o que é preciso é procurar saber para onde vai os milhões gastos neste sistema. É verdade que os representantes das AHB e CVP vêem logo dizer q eu querem mais dinheiro, mas nenhum deles apresenta contas para onde foi o que receberam até aqui, e para que serve o euros que fazem com o negócio do transporte de doentes.
Em relação a isto vão logo afirmar que forma investidos nos Corpos de bombeiros, o que é verdade em alguns casos, no entanto noutros poderá mesmo dizer-se utilizando-se as palavras do Ex-Ministro Dr. Miguel Macedo “ alguns são verdadeiros casos de policia”, a pergunta que fica, ou as perguntas são:
• Se todos sabemos que “Alguns são casos de policia”
• Se o socorro não está realmente garantido de uma forma universal à população;
• Se existem milhões gastos num sistema que não funciona realmente?
Porque não se muda?, bom poderá haver muitas respostas, mas na minha opinião não se muda para continuar a sustentar o protagonismo de alguns, alimentar os currículos de outros, promover os tachos e panelas dos afilhados.
E mais não digo que isto vai longo.