Pais que Matam os Filhos. Doentes ou Assassinos? - VIDA DE BOMBEIRO

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domingo, 12 de abril de 2015

Pais que Matam os Filhos. Doentes ou Assassinos?

A notícia, na sua fórmula mais simples, é esta: ‘Pai, desempregado de longa duração, com problemas de droga e álcool, num acesso de ciúmes, informa a mulher, da qual estava em processo de divórcio, que lhe mata o filho, um bebé de cinco meses, por ser obrigado a sair de casa’. 

E apunhalou a criança, matando-a. 

A brutalidade do evento deixa quem leu isto, com mais ou menos pormenor, com um aperto no coração e com sentimentos de indignação que só encontram satisfação na vingança mais primária. Porém, levanta várias questões sobre as quais vale a pena refletir. 

1 – Não é o primeiro caso, nos últimos dois anos, de descentração do foco/vítima em casos de violência doméstica. Vários episódios trágicos como este ocorreram no ambiente de violência doméstica. O que neste provoca maior repugnância é a premeditação da vingança por ciúmes. Despeito contra a mulher que tem desforra na matança do filho. Talvez o exemplo mais acabado de que ciúme nada tem a ver com amor e apenas com a posse do outro. 

2- Este ‘pai’ não agiu impensadamente. Preparou o crime com telefonemas prévios onde narrou o que ia fazer. 

3 – Corresponde a um padrão de comportamentos violentos. Agressão continuada contra a mulher, dependência do álcool e das drogas, desemprego de longa duração. Tudo fatores de risco para fragilizar a autoestima e desenvolver processos psicóticos doentios. 

4 – Apunhalar o filho, com meses de vida, provocando-lhe a morte revela uma violência invulgar, não tanto por ser ‘pai’, mas sobretudo devido à impossibilidade de reação da criança e à sua especial vulnerabilidade.

Que fazer com uma criatura destas? 

A punição exemplar do assassino será penitência suficiente que garante que não volta a fazer o mesmo? Teria sido um momento de loucura? Como pode um Estado de Direito tratar este trágico caso, quando o impulso para a vingança pode escamotear a incapacidade de aceitar que são necessárias medidas alternativas para lidar com a crueldade levada a este limite? 

Aguardemos, pois, por este julgamento. Mais do que um crime brutal, é um acontecimento especial que desmente as estatísticas. A violência não baixou. Antes, está a qualificar-se a limites que escapam à compreensão do homem comum.

Francisco Moita Flores