Os meus três últimos textos sobre bombeiros abordaram a componente social porque me parece ser uma área onde, por estar muito por fazer, as entidades responsáveis, de tutela e de representação, devem investir mais e concentrar a sua atenção.
Por muito que isso custe a ouvir e a ler a quem julgue que já fez mais do que podia e pense que já trabalhou mais do que devia.
Se não, vejamos.
A bonificação do tempo de serviço tal como hoje está construída, é um presente envenenado, que faz parte do problema em vez de fazer parte da solução, quem pensou não a usou, quem a usou, arrependeu-se depressa.
O reembolso de propinas é muito pouco, uma amostra do que deve ser, para uns é metade do que pagam, para alguns é metade dessa metade e para outros é 1/8 do total, porventura alguém perante estes valores ainda acredita em reembolso?
O patrocínio judiciário, pela burocracia e pela ineficácia objectiva, raramente é utilizado, e com a nomeação do patrono pelo sistema electrónico, são poucas as possibilidades de os bombeiros serem contemplados com um “jocker”.
O seguro de acidentes pessoais é o que é, continua a ser muito foguetório nos momentos que interessam e pouco dinheiro na hora da desgraça, muita parra e pouca uva, quem o diz é quem anda na frente do fogo e não queima só as pestanas.
E é nisto que se resume o conjunto de envergonhados “benefícios”, outrora pomposamente designados por Estatuto Social do Bombeiro.
E não se sai disto porque o paradigma está viciado, o parafuso “moeu” e não há forma de alcançar o resultado, ninguém arrisca modelos novos e soluções ousadas e cá estamos todos nós no conforto do "mais do mesmo" sem percebermos que isso convém a quem está instalado.
Deverão manter-se estas “regalias”, mas construídas à volta de um outro modelo, que rompa com este conservadorismo no modo de pensar e de fazer.
E introduzir outras, à escala municipal, sensibilizando, negociando, protocolando apoios, e não impondo soluções.
Concebendo, definindo e concedendo apoios sociais mais concretos, que mais mexam com a vida do quotidiano das pessoas, com efeito mais prático e directo, por exemplo, a isenção e/ou redução do pagamento de taxas e licenças municipais, o desconto no acesso e uso de equipamentos e serviços sociais, a preferência no acesso a apoios sociais.
O que está, e o que temos, é uma ilusão e uma encenação, bem montadas e melhor "vendidas".
Este Estatuto Social do Bombeiro é uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma.
A constatação dessa realidade deve motivar os responsáveis para que apostem numa construção de algo diferente capaz de mobilizar os Bombeiros de Portugal e os fazer acreditar.
Publicada por Zingarelho Rm