O investigador Domingos Xavier Viegas defendeu hoje, em Coimbra, a necessidade de os bombeiros adotarem um comportamento de defesa das suas vidas durante o combate a incêndios florestais, designadamente resistindo a pressões exteriores.
"A sociedade tem de fazer a sua parte", isto é, tem de prevenir contra o fogo os seus bens, como terrenos florestais e agrícolas ou habitações, em vez de "ficar à espera que os bombeiros arrisquem as suas próprias vidas", sublinhou Domingos Xavier Viegas na VII Conferência Internacional sobre Incêndios Florestais, que começou hoje em Coimbra.
Os combatentes dos fogos são sujeitos a pressões, por parte dos poderes e da sociedade em geral, que põem em risco as suas vidas, sobretudo quando as chamas ameaçam habitações, e precisam de "saber resistir a essas pressões", sustentou o investigador, em declarações à agência Lusa, à margem da conferência.
Em Espanha, por exemplo, os bombeiros "estão cada vez mais renitentes" e "são cada vez menos vulneráveis" a essas pressões, segundo os testemunhos adiantados, na conferência, por especialistas espanhóis.
Mas, em Portugal, "ainda não é bem assim", e os bombeiros têm que tomar consciência de que a sua segurança pode ser posta em causa, por meio das pressões exteriores, sobretudo quando o fogo afeta casas", sublinhou Xavier Viegas, diretor da Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial (ADAI) do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade de Coimbra (UC), entidade promotora do encontro, que, desde 1990, se realiza de quatro em quatro anos.
"Pode aceitar-se o risco de vida dos bombeiros, mas apenas em algumas situações", admite o investigador.
A segurança dos bombeiros também depende dos meios e equipamentos de combate a fogos de que dispõem, sublinha Xavier Viegas, adiantando que o laboratório da ADAI está a desenvolver um veículo de combate a incêndios florestais, cujo sistema de proteção da cabine do autotanque é um espécie de cortina e não através de água (transportada pela viatura).
"Temos dúvidas sobre a eficácia da água" na defesa dos veículos dos bombeiros, revela o especialista, afirmando que o projeto que está a ser desenvolvido no laboratório da ADAI -- que será apresentado na conferência -- "começa a interessar" a alguns fabricantes do setor automóvel.
A conferência, que, como as edições anteriores, reúne "cientistas de todo o mundo, para apresentar e discutir os avanços sobre incêndios florestais relacionadas com os temas de investigação", decorre num hotel de Coimbra.
O dia de hoje é ocupado com um curso sobre segurança pessoal nos incêndios florestais, que, coordenado por Bret Butler, dos Serviços Florestais dos EUA, tem como docentes "especialistas em temas de segurança", que partilham a experiência que desenvolveram nos seus respetivos países.
Um segundo curso, sobre "a modelização do comportamento do fogo", coordenado por Albert Simeoni, diretor do Laboratório de Segurança contra o Fogo, da Universidade de Edimburgo (Reino Unido), preenche os trabalhos de sábado e domingo.
A conferência integra ainda uma visita, na terça-feira, ao Laboratório de Estudos sobre Incêndios Florestais, na Lousã, onde serão apresentados "o novo sistema de duplo desfiladeiro, para o estudo da propagação do fogo neste tipo de configuração do terreno, que é relativamente comum na natureza", e o "sistema gerador de vórtices de fogo verticais (tornados de fogo)", destinado ao estudo sistemático da "formação de turbilhões de fogo em incêndios e as suas principais características".
Fonte: Lusa