Uma Farda, Uma Honra, Uma Vida - VIDA DE BOMBEIRO

______________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Uma Farda, Uma Honra, Uma Vida

De há muito tempo que “embirro” com fardas. Ficou-me desde que fui (mal) fardado pela primeira vez. Acho que a farda tira ao comum mortal a sua diferente identidade e torna-o demasiado parecido com outros tantos, sempre demais. E será para isso mesmo que existem e servem – transformar o indivíduo numa peça de uma instituição, ostentando a fidelidade obediente como valor.

O certo é que a maior parte dos miúdos passam por uma fase em que adoram fardas. Seja de bombeiro, de polícia ou músico de banda. Provavelmente porque os fardados lhes aparecem como adultos especialmente vocacionados para mandarem mais, por vezes até mais que os próprios adultos. Talvez porque gostassem de ser adultos com super autoridade, para escaparem, à autoridade dos adultos que neles mandam.

Também tive a minha fase de adorar fardas e sonhar com o dia em que tivesse direito a uma. A minha grande oportunidade surgiu cedo, quando tinha os meus catorze anos. Na altura, era obrigatório ser cadete e logo a partir dos catorze anos de idade. Todos os domingos de manhã havia instrução (aprendi cedo a marcar passo) e mais umas “aulas” de actividades desportivas e lúdicas.

Lá consegui que me dessem a farda: na altura, um fato macaco cor de laranja e um boné tipo os que se usavam na tropa de cor azul. Farda nova "enfiada", saí orgulhoso rua fora a entornar vaidade naquela minha novíssima qualidade de cidadão fardado. Claro que esperei e ansiei por olhares de inveja e espanto dos míseros passantes reduzidos à condição de anónimos e inferiores civis.

Vivia então uma altura de sonho em que tinha conseguido o que queria, entrar para os bombeiros, mas nesse mesmo dia, alguém me dizia; “não sabes no que te estas a meter”.

Não sabia o que dizer , não queria saber, e não entenderia se me explicassem. O que sabia é que naquele momento eu era tudo o que sempre tinha sonhado, Ser Bombeiro.

Uma série de fardas já me tinham passado pela cabeça, desde de bandas de musica, os escuteiros, os GNR…, por tudo quanto era sítio, eu via fardas, mas o que eu queria mesmo era ser bombeiro.
E, em terra de fardas, eu tinha a minha, e é claro, que eu achava a minha melhor que todas as outras.

O meu orgulhoso e inaugural desfile fardado foi um sucesso. A malta “graúda” assomava às portas do nosso antigo quartel em dia de aniversário, e olhavam com toda a atenção para os novos elementos do corpo de bombeiros, “fardados de fato laranja”. Naquela terra de fardas, não entendi porque é que a minha farda merecia todo aquele tratamento.

Bom, o certo é que rapidamente conclui que tinha escolhido o melhor caminho, tinha escolhido ser bombeiro, e tinha o maior orgulho do mundo no meu simples fato macaco cor de laranja.
No final do meu primeiro desfile, respirei de alívio ao desfardar-me, porque exactamente naquele momento, percebi que era a vida que eu queria, e disse para comigo mesmo:

“esta será a minha vida!”
Longe estava eu de suspeitar que a farda que acabava de tirar, seria ainda hoje a farda que envergo todos os dias, não o fato macaco cor de laranja, mas sim a farda do lema, “Vida por Vida”, uma farda de “guerra” que tenho orgulho em vestir todos os dias.
Ao longo de quase 25 anos, muitas tem sido as fardas que temos vestido, o antigo fato macaco cor de laranja, esse, guardo-o com muito carinho em casa numa gaveta, de onde de vez em quando o tiro para “matar” saudades.

Uma coisa é certa, com fato cor de laranja, azul, amarelo, vermelho, ou cor de rosa às pintinhas, a farda será sempre a mesma: a do lema, “Vida por Vida”




José Filipe
Vida de Bombeiro

Sem comentários:

Enviar um comentário