Monchique e Caldeirão são Zonas de Maior risco Para Incêndios - VIDA DE BOMBEIRO

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segunda-feira, 7 de julho de 2014

Monchique e Caldeirão são Zonas de Maior risco Para Incêndios

Vaz Pinto 


O Comandante Operacional da Proteção Civil no Algarve Vaz Pinto garante, nesta entrevista concedida ao «barlavento», que «todo o trabalho de casa foi feito com muito rigor» num planeamento criterioso «baseado em lições apreendidas».

b. - Como perspetiva o Verão ao nível de incêndios florestais no Algarve? Quais são zonas de maior risco e porquê?

Vaz Pinto - Em relação à primeira questão, e independentemente dos desafios que se poderão afigurar nos próximos meses, posso afirmar que tenho plena confiança no dispositivo instalado, sei que todo o «trabalho de casa» possível de se realizar foi feito com muito rigor e profissionalismo e que os Agentes de Proteção Civil (APC) e Serviços Municipais de Proteção Civil (SMPC), bem como as Entidades Cooperantes que concorrem para a Defesa da Floresta Contra Incêndios (DFCI), acompanharam o Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) num planeamento criterioso, baseado em lições aprendidas, e procuram manter e reforçar, no aprontamento das suas forças de resposta e estruturas de sustentação das operações, os níveis de eficiência já reconhecidas nos demais atores do Sistema Integrado de Operações de Proteção e Socorro (SIOPS).

Ao potenciar nestes últimos meses um treino intenso, materializado em 34 ações, envolvendo 560 operacionais das forças e serviços que integram o Dispositivo Especial de Combate a incêndios Florestais na Região, em particular os Bombeiros, enquanto a principal força de empenhamento permanente, acredito que contamos com um dispositivo ágil e musculado para continuar a garantir o domínio dos incêndios na sua fase inicial.

No que concerne ao perigo de incêndio florestal e consequentemente as áreas mais vulneráveis na região, considerando que todo o Barrocal e Serra constituem uma ameaça nesta temática, posso destacar as Serras de Monchique e do Caldeirão, que nos oferecem maiores preocupações face às suas particularidades, nomeadamente o relevo e ocupação do solo, mas sobretudo no edificado disperso numa relação permeável com os espaços rurais. Todos estes fatores desafiam as competências de quem tem que apagar os incêndios. 

b. - Os produtores florestais dizem que a Serra de Monchique é um autêntico «barril de pólvora» devido ao mato e ao facto de existirem muitas linhas da EDP enroladas em árvores. Conhece esta situação? 

V.P. - Como referi, a Serra de Monchique merece a maior atenção deste dispositivo. Nos últimos anos temos vindo a desenvolver um trabalho conjunto entre os três pilares da DFCI, além do combate, na alçada desta Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC), o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), responsável pela sensibilização e prevenção estrutural, e a Guarda Nacional Republicana (GNR), responsável pela vigilância, deteção e fiscalização, envolvendo como principal motor de dinamização a Câmara de Monchique, que através da estrutura municipal de Proteção Civil, viabilizou a implementação de medidas concretas, algumas até pioneiras a nível nacional, como ações de prevenção e sensibilização, tendo por exemplo o Projeto “Casas Sem Fogos”, a vigilância e patrulhamento com meios e recursos do Exército e das associações e clubes de caça do concelho. 

Estou convicto que se os trabalhos de silvicultura preventiva e medidas de prevenção estrutural previstos nos Planos de DFCI estivessem numa percentagem de execução superior e se todos nós, enquanto cidadãos, adotássemos comportamentos seguros e conscientes, face a este desígnio nacional, o trabalho de quem tem que apagar os incêndios seria, em muito, facilitado. 

Talvez, se esta realidade surgisse, o País pudesse gastar menos no combate e investir mais na prevenção. Todavia, sabemos que a prevenção estrutural tem que ser um processo continuado, que não se realiza num curto espaço de tempo, mas os níveis de execução dos trabalhos previstos são realmente baixos, e é ao fim da linha - o combate - que compete resolver o problema, quando tudo a montante falha.

No que respeita à EDP, embora o acompanhamento seja feito pelo nível municipal, acompanhamos a situação e sempre que há reporte de uma situação em concreto, a mesma é resolvida através do Oficial de Ligação daquela empresa ao CDOS de Faro. Mas sei que as taxas de execução de limpeza, quer da Rede Elétrica Nacional (REN) quer da EDP, que estão obrigadas por Lei, no Algarve, são bastante elevadas. Quando de facto temos um incêndio, já falhou o nosso primeiro objetivo, evitar ignições. 

As temperaturas elevadas e restantes condições meteorológicas, ainda que adversas, não provocam incêndios, precisamos sempre de um elemento principiador de uma ignição e são diminutas as situações que ocorrem por causas naturais. 

b.- Quais os meios, humanos e materiais, em cada concelho de que dispõem os bombeiros do Algarve? E que reforços foram garantidos para este verão?

V.P. - A todos os 17 corpos de bombeiros da região está atribuída uma área de atuação, que corresponde a uma parcela geográfica do território, na qual têm responsabilidade de atuação prioritária, pelo que, para o efeito, dispõem de uma Força Mínima de Intervenção Operacional (FMIO), dimensionada em função dos riscos e vulnerabilidade do âmbito territorial. 

O DECIF é um reforço sazonal direcionado para o combate aos incêndios florestais, estabelecido num contexto distrital, pelo que ainda que instalado em cada município, está orientado para toda a região do Algarve. Neste ano, este dispositivo especial conta, no período de maior esforço, com 103 equipas, 114 veículos e 489 operacionais, a que se juntam três helicópteros bombardeiros (inclui 46 equipas, 66 veículos e 265 operacionais dos corpos dos bombeiros). 

b. - Quantos helicópteros e onde estão destacados para o Algarve?

V.P. - O dispositivo aéreo instalado no ano transato (dois helicópteros bombardeiros ligeiros a operar a partir dos Centros de Meios Aéreos (CMA) de Cachopo e Monchique) cobriam toda a região, uma vez que o raio de ação primário é de 40 km. Mas atendendo a diversos fatores, entre os quais as distâncias a percorrer pelos meios terrestes para as zonas de maior risco, quer no Barrocal quer na Serra Algarvia, neste ano o dispositivo foi reforçado com um helicóptero bombardeiro médio que opera a partir do CMA de Loulé, o qual está guarnecido por oito militares do Grupo de Intervenção de Proteção e Socorro (GIPS) da GNR.

Os meios e recursos serão em determinado momento, quando se afiguram situações de exceção, finitos, não estarão em tempo útil em todos os locais onde fazem falta, mas não podemos ter um veículo estacionado junto a cada árvore, nem um meio aéreo em cada freguesia, pelo que terá que imperar um dos princípios basilares da Proteção Civil, a subsidiariedade, sendo que contaremos com o patamar nacional (reforço supradistrital), sempre que tal seja necessário. 

b. - Que alertas pretende lançar a quem se desloca a zonas serranas e as utiliza para piqueniques? E aos agricultores, produtores florestais e a residentes? Notam-se descuidos?

V.P. - Não querendo substituir-nos a quem tem a responsabilidade nesta área da sensibilização e prevenção, sempre aconselhamos a que sejam executadas as ações preventivas obrigatórias, como por exemplo a limpeza à volta das edificações, num raio de 50 metros. Relembramos que, no período critico (de 1 de julho a 30 de setembro) é proibido fazer fogueiras nos espaços rurais, quer seja para confecionar alimentos ou para a queima de sobrantes agrícolas ou outros, reiterando sempre que a negligência é punida por Lei, agora considerada crime. Os residentes em zonas florestais/rurais devem obter junto do respetivo Serviço Municipal de Proteção Civil os procedimentos de autoproteção a adotar em situação de emergência, sobretudo cada cidadão deve ter consciência dos riscos a que estamos expostos e nunca esquecer que a melhor forma de ajudar a combater os incêndios é evitá-los.

Fonte: Barla Vento

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