Frente de Fogo - VIDA DE BOMBEIRO

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domingo, 20 de julho de 2014

Frente de Fogo

Compreendo a ministra da Justiça quando diz que a prisão não é remédio – no caso, para os incendiários – e defende o serviço comunitário.

Apenas me parece que estas duas sanções não são alternativas; deveriam ser aplicadas conjuntamente. De resto, defendo a obrigatoriedade do trabalho para os presidiários, por todas as razões, incluindo a reinserção social. Aos ateadores de fogos, punha-os a trabalhar nos hospitais, na assistência às vítimas de incêndios; mas dava-lhes penas longas – não vejo meio dissuasor mais eficaz.

O perfil dos praticantes deste crime, em portugal, é de uma miséria patética: um, ateou quatro fogos como represália à polícia que o tinha multado; um segundo, porque estava bêbado e sem nada para fazer; outro, porque a mulher o tinha trocado por um bombeiro, o que o fez empreender que dando trabalho ao rival arrefeceria a ciumeira. Se fôssemos escrever isto num romance, desancavam-nos a inverosimilhança. Por isso portugal dá tão boa ficção: é um país inacreditável.

Os nossos ateadores de fogos não estão a soldo do capital internacional nem de obscuros e lucrativos interesses patrimoniais; quando não é a bebedeira ou o machismo, é a raiva contra a autoridade ou o vizinho – nada de grandes conspirações ou lúbricos lucros.

Apanhados, demasiadas vezes ficam em esquemas de ‘apresentação regular’ à polícia, para que nos intervalos possam continuar a escoar a ira no gatilho do isqueiro, acabar com o que resta dos nossos maltratados campos e matar mais uns valorosos bombeiros.

Azar, murmuramos. O mesmo azar que um dia faz com que uma mulher seja baleada pelo ex-marido de que apresentara queixa vezes sem fim.

Dizem que a causa profunda do inferno chamejante em que portugal se transforma durante o verão é a falta de ordenamento territorial. Verdade: matas ao abandono, eucaliptos em excesso, o clássico desprezo pelos nossos maiores bens.

Um país ao deus-dará, desleixado, preocupado apenas com a sua imagem externa – sempre foi assim, e o chicote da dívida tornou-o ainda mais servil, apático, incapaz de se cuidar. A obsessão com o dinheiro enlouquece, e é nisso que estamos: no regime do ‘vale tudo’ e do ‘salve-se quem puder’, gerador de mártires e facínoras.

Ao ano que passou, acrescenta-se ao horror habitual a morte de vários bombeiros. Um já seria demasiado, e injustificável. Jovens generosos, exemplares pela coragem e pela entrega à causa pública, cujas vidas são absurdamente desperdiçadas.

Ainda por cima, num país onde o serviço à comunidade não é incentivado, antes pelo contrário.

De quem é a culpa destas mortes? ‘Do vento’, leio.

O vento? Toda a culpa portuguesa pertence ao vento. É o que acontece quando se foge a palavras como responsabilidade e organização.

Fonte: inespedrosa.sol@gmail.com



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