Quando For Grande Quero Ser Bombeiro - VIDA DE BOMBEIRO

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domingo, 1 de junho de 2014

Quando For Grande Quero Ser Bombeiro

Durante 7 preenchidos e vividos anos tive o privilĂ©gio de conviver com os Sapadores Bombeiros da cidade do Porto. Homens Ășnicos que eu julgava fazerem parte de uma utopia impossĂ­vel de encontrar. 

O bombeiro tem algo de mĂ­tico que o transforma em arauto de uma especial Ă©tica da existĂȘncia. Por alguma razĂŁo os bombeiros sĂŁo o grupo profissional em quem os Portugueses mais confiam, Ă  frente de mĂ©dicos e professores. 

O sentido de missão destes homens é inigualåvel e deve merecer-nos um reverencial respeito que só se outorga a heróis, pois abnegação e heroísmo são os valores estruturantes da profissão de bombeiro.

A minha partilha existencial com estes homens foi total e completa enriquecendo-me ontologicamente na assunção de valores Ășnicos de convivialidade.

Como Professor transmiti-lhes o melhor da minha ciĂȘncia, como Homem dei-lhes o melhor da minha alma. NĂŁo porque fosse inicialmente disposto a uma entrega tĂŁo absoluta mas porque eles me obrigaram a tal. Quem entra naquela casa fica tomado por um espĂ­rito de corpo de tal forma avassalador que rapidamente deixa Ă  entrada as pulsĂ”es individualistas.

Os bombeiros profissionais que protegem a cidade do Porto colocam a força do colectivo à frente das tensÔes egoístas, o que lhes permite um permanente estado de prontidão que muitas vezes permite ultrapassar os constrangimentos materiais e humanos que são apanågio deste tipo de instituiçÔes.

Nesses anos de profunda vivĂȘncia humana vi vĂĄrios morrer em serviço, outros feridos com gravidade, carne e ossos desfeitos, porque nunca regateiam a dĂĄdiva das suas vidas cumprindo os ditames mais profundos do seu juramento profissional.

Por isso os admiro e tenho neles muitos dos meus melhores amigos.

Lembro a minha primeira recruta – os “Iogurtes” (adoptaram este alimento como sobremesa preferida apĂłs refeiçÔes e foram de imediato assim apodados pelos mais velhos), que me receberam com um misto de dĂșvida e interrogação jĂĄ com o processo de recruta a decorrer. Revi neles os meus sonhos de menino e vi-lhes crescer, a par da excelĂȘncia profissional, um elevado espĂ­rito de altruĂ­smo que Ă© o garante Ă©tico da profissĂŁo de bombeiro.

Recompensaram-me em amizade e gratidĂŁo o que lhes outorguei em empenho profissional. Poucas vezes senti tĂŁo forte o sentido de utilidade social da minha profissĂŁo de professor como com aqueles homens.

A segunda recruta foi denominada os “Voltaren”, pois era a mesinha que eu lhes recomendava quando as dores musculares e articulares ultrapassavam o limite do razoĂĄvel. Treinar para ser bombeiro Ă© duro mas sĂł assim se consegue a destreza profissional que se lhes exige a cada momento. TambĂ©m estes, rapidamente captaram o espĂ­rito da casa e se transformaram em excelentes profissionais que honram a cidade.

A terceira recruta ficou naturalmente classificada como os “Vitaminas”, pois com eles realizei um estudo acerca dos efeitos de uma suplementação vitamĂ­nica especĂ­fica em alguns parĂąmetros imunolĂłgicos. Mais novos mas nem por isso menos empenhados em crescer como homens e em dignidade profissional.

Cada recruta Ă© o remake de um filme que tem a coragem, Ă©tica e responsabilidade como guiĂŁo. NĂŁo hĂĄ tempo para desistĂȘncias e, superando dores, lesĂ”es e insuficiĂȘncias, muitas vezes em sacrifĂ­cio, “constroem-se” profissionais que elevam bem alto o que de mais humano existe no homem.

A ética do servir é apanågio de poucos. Poucos, como os bombeiros, conseguem materializar em atos quotidianos a suprema alegria da dådiva. Por isso, lhes quero agradecer as liçÔes de vida e humanidade que me deram nos anos em que tive a honra de fazer parte deles.

Sou professor por amor e devoção; serei sempre bombeiro por amizade e gratidão.

Por: José Augusto Rodrigues dos Santos





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